Marisa Monte e Carminho ao vivo nos Jardins de Serralves [fotos + texto]


Marisa Monte e Carminho ao vivo nos Jardins de Serralves [fotos + texto]

Numa noite onde a névoa abraçava os Jardins de Serralves e onde o frio se fazia sentir pelo recinto improvisado para receber a cumplicidade transatlântica, eis que surgiu Marisa Monte com "o melhor e o pior de mim" de "Infinito Particular".

O público ia aquecendo à média luz tornando-se "Depois" a revelação das primeiras demonstrações de emoção por parte da plateia, seguindo-se de êxitos como "Beija Eu", "A Sua" e "Ainda Bem" revelados num registo intimista.

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157671847075915" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="20" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Se Marisa Monte se sentia sozinha no palco, nada melhor do que convidar Carminho "com muito calor e muito carinho" para a acompanhar numa "Dança da Solidão", mas antes disso elogios foram tecidos por parte da artista demonstrando o quanto se sentia feliz por estar a partilhar com o público aquela parceria musical.

Carminho revelou que era um orgulho partilhar aquele palco com a sua amiga, desafiando uma simbiose entre o fado e o samba que se cruzavam como declarações de amor. O ambiente transformou-se ao ser alimentado por uma prosa entre as duas ao explicarem a história do Profeta Gentileza – uma figura popular da cidade do Rio de Janeiro. "Era uma pessoa que estava sempre na rua, meio um pedinte, mas ele não era pedinte, porque na verdade quando ele abordava a gente, ele oferecia ele não pedia. Ele oferecia flores, oferecia carinho, palavras de paz e de gentileza." Marisa esclareceu que essa música surgiu quando ia mostrar os muros desenhados pelo Profeta Gentileza (José Datrino) que pairavam na cidade maravilhosa ao seu amigo Carlinhos Brown e se deparou que a prefeitura tinha mandado pintar "as palavras do Gentileza", deixando-a profundamente triste e frustrada. Chegando a compará-lo com outra figura desta vez portuguesa que foi apresentada por Carminho – o senhor do Adeus – "era um senhor que estava sempre no Saldanha a dizer adeus. Na verdade nós chamávamos Sr. do Adeus mas ele preferia ser chamado Sr. do Olá porque ele estava lá para cumprimentar as pessoas." Figuras que marcam a cidade e que de certa forma tentam gerar alguma espécie de mudança na sociedade atual, tentando "aquecer as relações no meio urbano".

O tom oriundo da MPB é abraçado através de uma escolha musical feita por Carminho onde convida Luís Guerreiro com a sua guitarra portuguesa para se juntar a elas no palco. Invocando Caetano Veloso com "Os Argonautas", um tema que surgiu enquanto ele permanecia na prisão na época da ditadura, fazendo a ponte entre os tripulantes mitológicos da nau Argo com os descobridores portugueses que descobriram aquela bela nação – o Brasil. Inspirado na fadista Amália Rodrigues de quem ele era grande fã, tornando-se numa homenagem a Portugal.

Entre dois dedos de conversa, Marisa revelou que entre um dos encontros que tiveram em sua casa, Carminho pediu-lhe uma música para cantar. E a canção que escolheu Carminho tornou-se numa melodia de dupla cidadania, iniciada no Brasil com Marisa Monte e o Arnaldo Antunes e finalizada em Portugal. "Espero que não haja chuva em Serralves mas que haja chuva no mar." E assim foi…

Se na maior parte da plateia era contemplado o sotaque brasileiro, o melhor é matar "Saudades do Brasil" de Vinícius de Moraes – concebida quando o artista morava em Portugal, expressando a solidão que tinha da sua casa.

Marisa esboçava sorrisos enquanto proclamava que adorava música portuguesa e que a primeira música que aprendeu a cantar com 7 anos foi "O Vira", elevando a memória para os Secos e Molhados em que na altura um dos integrantes era o legendário Ney Matogrosso. Solta-se o jeito português do vira vira acompanhado pela guitarra portuguesa, enquanto Carminho inicia de forma tímida a tão esperada dança folclórica, transformando-se através do solo de guitarra de Pedro Baby num vira-rock agitando a plateia.

De um jeito doce e com um vestido preto exibindo a sua simplicidade, Marisa Monte mostrou a grandiosa artista que o público está acostumado a conviver pelos palcos do mundo. Agradeceu a Carminho por ter partilhado aqueles momentos com ela dizendo que se sentia em férias – "chegar aqui e encontrar a minha amiga e levar um som nesse lugar maravilhoso."

"Carnavália", "Passe em Casa" e "A Menina Dança" fizeram parte do alinhamento que desta vez tornou a atmosfera mais pop com um pé no samba. "Balança a Pema" anuncia a primeira saída de palco onde o alvoroço se revela esperando o primeiro encore da noite.

Volta ao palco acompanhada por Carminho fazendo ressoar dois êxitos "Amor I Love You" – tornando-se no cenário perfeito para a realização de um pedido de casamento por parte de um casal que se encontrava na plateia – e "Velha Infância" que nos levou a uma certa nostalgia.

O público permanecia de pé caminhando até à frente do palco de forma a contemplar melhor as duas divas. Entre versos e olhares, entre o fado e a MPB, entre os gritos e a alegria de pertencer àquele momento, a noite foi finalizada com a bela dança minhota "O Vira".

Sem chuva, com bastante dança e amor irão permanecer as saudades de uma noite memorável nos Jardins de Serralves.

Fotos: Carina Guilherme
Texto: Camila Câmara