Os Quatro e Meia em entrevista: "Nós estamos a cumprir um sonho de criança que não invalida os outros caminhos que seguimos"


Os Quatro e Meia em entrevista: "Nós estamos a cumprir um sonho de criança que não invalida os outros caminhos que seguimos"

João Rodrigues, Mário Ferreira, Pedro Figueiredo, Ricardo Almeida, Rui Marques e Tiago Nogueira começaram por juntar-se ao aceitar um convite para atuar num Sarau e, desde então, não pararam de dar concertos. No dia do lançamento do seu primeiro álbum, estivemos à conversa com Os Quatro e Meia sobre o seu percurso. Sempre animados, explicaram como conciliam a banda com os seus outros projetos profissionais e apresentaram-nos o álbum Pontos Nos Is.

Começaram por juntar-se em jeito de brincadeira para um sarau, como é que depois decidiram levar o projeto para a frente?

Tiago: Não decidimos, foi algo que nos foi depois pedido. Surgiu, não a partir de nós, mas de quem foi ver esse concerto. No final dessa primeira atuação, houve pelo menos duas pessoas que vieram ter connosco e nos perguntaram se poderíamos fazer uma prestação idêntica em dois sítios diferentes. Tivemos que recusar um deles porque não nos era possível de realizar mas o outro acabou por acontecer em Vila de Cambra. Depois, a partir daí, foi acontecendo sempre nesta base, nunca foi pensado, foi convite externo!

São todos formados noutras áreas que não a música, algum de vocês quis seguir uma carreira musical um dia?

Ricardo: Para ser sincero, quando era mais novo, sim! Era isso ou piloto de ralis. Quando era pequeno e participei no festival da canção da minha terra em Braga há uma gravação minha a dizer que ou era cantor ou piloto! Acabei por ser cantor, quer dizer, mais ou menos (risos).

Tiago: Eu penso que quase todas as pessoas do mundo que gostam de música já se imaginaram na posição de cantor ou de estar a dar um concerto. Acho que nós não fugimos a essa lógica. O que é espetacular no nosso caso é poder juntar isso com mais uma profissão. Ou seja, nós estamos a cumprir um sonho de criança que não invalida os outros caminhos que seguimos. O único que está de alguma maneira ligado à música é o João que é professor de música.

Todos vocês consegues conciliar a música com a vossa profissão?

Mário: Sim, tentamos fazer as duas coisas. Não é fácil, acabamos por ter que ter uma grande capacidade de gestão do tempo livre. Temos que ser muito organizados entre nós, marcar os ensaios e os concertos com muita antecedência e, assim, conseguimos gerir o nosso tempo.

Pedro: Eu acho que se não fosse precisamente o gosto enorme que temos em fazer com que Os Quatro E Meia consigam alcançar desafios cada vez mais importantes, não era possível gerir esse tempo. Genuinamente, fazemos esse esforço porque achamos que vale a pena.

Porquê Os Quatro e Meia? Qual foi a razão por detrás da escolha do nome do grupo?

Rui: No dito concerto do Sarau de Gala, nós apresentamos uma formação que eram os quatro e o Meia. Sendo que o Pedro estava em Buenos Aires e não conseguiu vir a tempo porque o voo se atrasou. E esse primeiro concerto acabou por acontecer sem ele. Depois, de qualquer das formas, o Tiago fez questão de evidenciar que o Pedro também não é muito alto e não iria mudar muito a média de alturas. Então mantivemos o nome "Os Quatro e Meia". De notar que somos um grupo que contempla um fenómeno novo chamado "Bullying Musical", que vai ser viral (risos).

Tiago: O Rui é aquele a que nós chamamos um "meia-leca". Assim que nos pomos em ortostatismo nota-se aqui uma diferença grande. De qualquer das formas, só é considerado bullying se causar sofrimento, e tu não podes negar que és uma pessoa feliz connosco!

Rui: Na verdade não posso ter um complexo com a altura porque eu nunca fui alto, portanto não faço a mínima ideia de como é! (risos).

Vão lançar o vosso primeiro álbum de originais! Como é que o descrevem?

Pedro: É amarelo. Eu vou começar pelo exterior e depois eles vão desconstruindo (risos). Tem uma capa muito bonita com um "i" gigante na capa que dá para pintar e picotar. Tem seis figuras no interior e um disco. Abrindo o disco, tem músicas lá dentro!

Tiago: O disco é composto por 11 originais que são, basicamente, os temas que fizeram parte destes quatro anos e pouco que temos de grupo. São temas muito diferentes entre eles mas que fazem sentido nesse formato porque nós também somos muito diferentes uns dos outros e temos maneiras diferentes de ver a música. É exatamente essa diversidade que existe entre nós que também está presente no disco. De modo que, o “Pontos nos Is”, acaba por ilustrar aquilo que são os quatro anos da banda mas acima de tudo aquilo que a própria banda é.

Rui: Se quiseres o álbum em duas palavras é: miscelânea lógica.

O Sentir o Sol é um espelho do álbum ou cada tema é diferente do outro?

Ricardo: Ao ouvir o álbum o que as pessoas vão sentir é a heterogeneidade das músicas entre si e o "Sentir o Sol" é curiosamente o mais diferente.

Tiago: O Sentir o Sol acaba por ser a música onde nós fomos mais ao limite daquilo que é a nossa possibilidade em fazer música pop. Em termos de sonoridade, nós só usamos instrumentos acústicos e torna-se mais desafiante tentar fazer música para as massas com esses instrumentos. O Sentir o Sol é a música em que nos aproximamos mais desse registo. Todas as outras músicas são completamente diferentes porque nós fazemos questão de mostrar a variedade e as nossas diferenças.

Existem algumas bandas ou artistas que tenham como referência para o vosso projeto?

Pedro: Essa pergunta é muito complicada de responder porque todos nós ouvimos música todos os dias e todos nós acabamos por transportar essa influência para a banda. É essa mistura das influências que levou à elaboração dos 11 originais que estão no disco e não propriamente a Banda A ou a Banda B que marcou a sonoridade deste CD.

Vocês são 6, é fácil chegar a consenso por exemplo na composição das canções ou das letras?

Rui: Por acaso eu acho que é mais fácil do que eu imaginaria. Não é uma coisa imediata e que é estalar os dedos e toda a gente está a pensar no mesmo, mas é muito mais simples do que eu imaginaria à partida. Todos tentam fazer, pensar e decidir em prol da banda, por isso, qualquer discordância acaba por ser resolvida.

Tiago: Nós somos muito descontraídos mas ao mesmo tempo também somos altamente críticos não só connosco mesmos mas também com os colegas e temos abertura suficiente para aceitar essa crítica que fazemos entre nós. Nós acabamos por funcionar muito a base do experimentar, se alguém traz uma música e outro também tem uma ideia, vamos experimentando e no fim decidimos! É uma democracia musculada, o mais forte ganha (risos).

A escolha de cantar em português foi natural?

Tiago: Desde o princípio, quando a banda se iniciou naquele sarau, levamos sete temas portugueses. Pareceu-nos lógico pelo tipo de instrumentos que tínhamos fazer esse género de música. Depois começaram a surgir músicas nossas e obviamente para nós é sempre mais fácil escrever em Português. Achamos que temos uma língua tão bonita que era um desperdício não o fazer. De modo que, para já, o que temos feito é sempre música em português até porque, em termos de sonoridade, nós vamos buscar bastante à música tradicional. No que toca às letras, são aquilo que tem surgido e nós gostamos do registo assim! Não quer dizer que um dia não possamos fazer uma música em mandarim (risos).

Para terminar, vocês são ainda novatos no panorama da música em Portugal mas já têm um público fiel. Sentem que as pessoas vos reconhecem e gostam do vosso trabalho?

Mário: Para quem, como nós, não esperava nada quando começou, ao fim de quatro anos nós vemos que já conseguimos encher algumas salas. Conseguimos encher duas salas na Casa da música em dezembro, três conservatórios em Coimbra em dias seguidos, ou seja, para quem não esperava nada e tem conseguido alcançar algumas etapas, tudo o que vier é lucro!

Tiago: A prova de que existe esse reconhecimento por parte das pessoas e que gostam daquilo que fazemos é que nós até hoje não tínhamos um CD e as coisas foram surgindo naturalmente. O melhor indicador que podemos ter é as pessoas aparecerem nos concertos e voltarem! E isso foi algo que fomos observando, as pessoas, de facto, foram aparecendo de novo, e é espetacular sentir isso!

Mário: O fator surpresa de ver essas salas a encher, foi, para nós, um estímulo e deu-nos energia para depois procurar retribuir em boa disposição em cima do palco! É um privilégio muito grande poder fazer isso em conjunto e retribuir esse carinho às pessoas.

Digressão "P'ra Frente É Que É Lisboa"

27 de maio – Porto – Evento Privado
1 de junho – Coimbra – Evento Privado
16 de junho – Alter do Chão – Alter Summer Fest
14 de julho – Vila Nova de Gaia – Meo Marés Vivas
29 de julho – Montemor o Novo – Festival de Lavre
31 de julho – Mirandela – Festas Nossa Senhora do Amparo
4 de agosto – Vila de Rei – Feira de Enchidos, Queijo e Mel
12 de agosto – Costa da Caparica – Sol da Caparica
9 de setembro – Figueira da Foz – CAE
13 de dezembro – Porto – Casa da Música

Entrevista: Daniela Fonseca