Jimmy P em entrevista: "A vivência ajudou a tornar o meu conhecimento pela música mais profundo e mais rico"


Jimmy P em entrevista: "A vivência ajudou a tornar o meu conhecimento pela música mais profundo e mais rico"

Jimmy P está a comemorar 10 anos de carreira e escolheu o Porto para celebrar. No dia 22 de fevereiro o artista brindou o Porto com um espetáculo muito especial onde se sentiu a entrega e o agradecimento por uma carreira que se tem vindo a escrever de verdade (podes ver aqui a reportagem). Falámos com o Jimmy P dias antes do espetáculo e, agora, podemos comprovar que todas as expetativas para este concerto se cumpriram.

Noite e Música Magazine (NM): 10 anos, novo disco e Coliseu. Custou chegar aqui?
Jimmy P (JP): Não posso dizer que foi fácil, porque não foi. Sobretudo porque eu sou um artista que se encontra no meio de duas gerações. Então passei aqui pela fase de mudança da indústria, da fase em que as pessoas compravam discos para a altura em que deixaram de comprar e a presença da internet se acentuou. Não considero que tenha sido um percurso fácil mas acho que, em virtude do trabalho da minha equipa, que são as mesmas pessoas que estão comigo desde o início, acho que conseguimos atingir grande parte das coisas a que nos propusemos.

NM: Já que falas da tua equipa, a quem agradeces por estes 10 anos?
JP: É uma lista grande. Felizmente acho que sou estimado e acarinhado por muitas pessoas. Mas assim, no imediato, obviamente tenho que agradecer primeiro às pessoas que acreditaram em mim, aquelas que não duvidaram daquilo que eu era capaz de fazer. Os meus pais, a minha esposa, o meu irmão, o meu manager atual que, apesar de ter começado comigo a fazer back vocals, sempre senti como meu manager. Acho que estas seriam as pessoas a quem eu teria que agradecer.

NM: Quais são as maiores diferenças entre o Jimmy que lançou a sua primeira canção e o homem que está a festejar 10 anos de carreira no Coliseu?
JP: Hoje sou uma pessoa e um artista mais esclarecido, mais maduro e mais ponderado. Felizmente, ao longo destes 10 anos, vivi uma série de coisas e convivi com pessoas que me ajudaram muito a crescer. A vivência ajudou a tornar o meu conhecimento pela música mais profundo e mais rico.

NM: E agora um álbum novo. Como é que pensaste este Abensonhado?
JP: Eu queria experimentar mais. Ir além daquilo que é habitual fazermos no rap. Concentrei-me muito na parte da pós-produção para enriquecer as músicas ao máximo. Estive sempre em estúdio com muitas pessoas, pessoas que eu considerei que eram válidas para acrescentar valor a este projeto, e depois passei muito tempo a experimentar. Não é só um beat, há uma base digital, de repente há alguém a tocar saxofone ou um baixo e dá uma nova dimensão à música. No fundo eu queria conseguir que as pessoas vibrassem numa frequência que, até agora, eu ainda não tinha conseguido chegar.

NM: Qual é a história deste nome?
JP: Só para contextualizar, o Mia Couto é o meu escritor favorito. Já li todos os livros dele, alguns várias vezes. Eu não penso muito nos temas que abordo e vou atrás daquilo que a música sugere. E tendo em conta a fase de vida em que me encontro, os temas andavam muito à volta das bênçãos, da concretização dos sonhos, da minha vida pessoal e, sobretudo, desta sensação de bem-estar e plenitude. Lutei muito tempo para encontrar uma expressão que resumisse estes temas todos e não havia nenhuma que considerasse adequada. Depois ocorreu-me o título desse livro do Mia Couto, que é o "Histórias Abensonhadas". Entretanto perguntei se havia problema e foi o próprio Mia Couto a responder-me. Disse-me que não havia problema nenhum e que era um motivo de orgulho saber que alguém se apropriou de uma coisa que ele criou. Foi mais uma situação que acrescentou significado ao álbum. Mais uma bênção.

NM: Escolheste o Coliseu do Porto para festejar estes 10 anos. Tinha que ser no Porto?
JP: Tinha que ser no Porto e não podia ser de outra maneira. Eu não nasci aqui mas vivo cá há 10 anos. Na verdade foi aqui que comecei a minha carreia e que cresci como artista. Foi aqui que as pessoas abraçaram a minha música em primeiro lugar. Fazia todo o sentido que fosse aqui porque eu tenho uma ligação muito especial a esta cidade. Sou um apaixonado incondicional da cidade do Porto e, para fazer este concerto, teria de ser no Porto e no Coliseu.

NM: Para terminar, o que é que tens preparado para esta celebração?
JP: Acho que o mais importante é perceber que isto é um concerto único. Só vai acontecer naquele dia e naquele sítio. Estamos a preparar este concerto desde setembro. Musicalmente vai ser diferente, porque estamos a fazer arranjos especificamente para aqui e vou cantar músicas que nunca cantei ao vivo. A experiência visual do concerto também é diferente porque há conteúdos e desenhos de luz que só dá para vivenciar numa sala como o Coliseu. Tudo o que será mostrado naqueles ecrãs são coisas que têm que ver comigo e acho que vai permitir às pessoas conheceram-me ainda mais. Tentamos criar uma experiência que as pessoas nunca mais se possam esquecer. Queremos que toda a gente leve dali uma memória bonita. Queremos que saltem, que vibrem mas também que existam momentos de introspeção e emoção.

NM: E a mística do Coliseu do Porto vai certamente ajudar.
JP: Sim, eu também acho que há ali uma aura e uma energia que é diferente. Tem tudo para correr bem, esperamos mesmo que as pessoas apareçam e que vibrem connosco.

Podes encontrar a reportagem ao concerto aqui.

Entrevista: Daniela Fonseca