Vodafone Mexefest: reportagem do 2º dia, com Daughter, Legendary Tigerman e Erlend Oye


tigermanmexefest

Daughter conquistaram o Coliseu, Tigerman mexeu com o São Jorge. Tudo sobre a segunda noite de Mexefest aqui.

A segunda noite de Vodafone Mexefest teve inicio com a dupla de rappers portuguesas A.M.O.R.. Primas e praticantes da modalidade hip hop, tentaram espalhar magia à sala do Hotel Flórida, no cimo da Avenida da Liberdade, a um público pouco interessado. Não faltou "Falar de Rap", o seu primeiro hino moderno com boas rimas mas com um flow que por vezes custa a perceber.

As A.M.O.R dão cabo da cabeça a quem vive de aparências, de manias e confusões, por isso foi boa ideia terem tirado as malhas que guardavam no baú durante os últimos 7 anos de trabalho.

Já mais para os arredores do Coliseu dos Recreios, o público caminhava de sala para sala, enquanto faziam tempo o concerto das 21h30. Na Casa do Alentejo – um verdadeiro tesouro na baixa lisboeta de influências árabes e rococós dourados – os Ciclo Preparatório, entraram em palco, calmos e tímidos. Os jovens revelação do ano, fazem música "coral pop especial rural-chique delicodoce" que acabou por esgotar a sala Dr. Victor Santos. Nem o baixista, lesionado se privou de dançar o vira com guitarras em "Lena Del Rey", festejar ao som de "A Volta ao Mundo com a Lena D’Água",  revisitar o clássico dos Sétima Legião, "Por quem não esqueci" e outros tantos temas do disco de estreia As Viúvas não temem a morte.

Houve tempo de ir visitar Gisela João e o seu fado emotivo, com garra e de forte personalidade, à Sociedade de Geografia de Lisboa. A fadista de Barcelos era atração do público mais velho mas também os jovens se interessam pela herança musical portuguesa. Gisela João é a lufada de ar fresco na tradição, poder vocal sem fim, de vestido branco e tatuagens à mostra. "Meu amigo está longe" pôs a sala em silêncio e o "Bailarico Saloio" fez a audiência baloiçar a anca. De Carlos Parede cantou-se o magnifico "Canto de Rua" e, a adivinhar o final da performance graciosa da artista, ouviu-se "Os Vampiros" do sempre herói José "Zeca" Afonso. Ah Fadista!

"Que horas são? Olha que a fila para Daughter vai ser gigante!" avisava uma amiga à outra. Na memória estava a constatação do facto da banda da jovem Elena Tonra ser mais agressiva em palco, em comparação com o trabalho em estúdio. No Coliseu dos Recreios havia amor para dar, um sem fim de aplausos para oferecer e a dedicação do sempre entusiasta e surpreendente do público português.

If You Leave, o tão aguardado álbum de estreia, pós His Young Heart EP e The Wild Youth EP (ambos de 2011), foi apresentado à sala repleta de fãs da amável Elena e o trio de músicos que a acompanhavam.  Sendo este o último concerto da banda em digressão europeia, havia muito para celebrar e Lisboa deu tanto de si que deixou a vocalista perdida em sorrisos e nervoso miudinho.

Inesperadamente, "Still" entrou forte, devota e intima até Igor Haefeli, o par de Elena na frente de palco, criar a primeira explosão de cordas, tocadas com um arco de violino. O primeiro "we love you" da noite foi apoiado pela sala inteira e deu inicio aos emocionados agradecimentos da banda, dedicados à plateia.

Seguiu-se "Amsterdam", em melodias arrepiantes, com uma bateria essencial, orgânica como a batida do coração. Minimalista mas com o sentimento certo, chega-nos o apropriado "Winter" e "Candles" num sussurro silencioso e com direito a isqueiros baloiçantes. Mais barulhenta que o costume, vem "Human" e "Smother" traz as primeiras lágrimas aos olhos dos mais sensíveis.

Uma corda de guitarra partida pelo caminho, levaram-nos para perto da tão aguardada "Youth" mas foi em "Love" que Igor perdeu a cabeça, num headbanging pelo palco fora. Ficou a promessa de um regresso para breve, obrigados à entrega à música e beijinhos atirados para quem aquecia o Coliseu.

Silva, o artista brasileiro, de sorriso doce como goiabada e água de côco, apresentou-se na Estação Ferroviária do Rossio para aquecer quem esperava ao vento gelado. Num festival onde os concertos começaram à hora  programada foi com o simpático Silva que os problemas técnicos aconteceram, atrasando 20 minutos a sua prestação. Quem o queria ver não arredou pé, face às outras propostas musicais espalhadas pela Avenida da Liberdade, e ficou para ouvir o álbum Claridão, ao vivo e a cores. Deu para aquecer o corpo a dançar com "Cansei" e "Falando Sério" e para festejar como os amigos, ao som de pop carioca.

De volta ao Cinema São Jorge, o norueguês Erlend Oye cantava para uma sala a repleta de público. Um dos homens fortes dos Kings Of Convenience apresentou o novo álbum a solo, La Prima Estate, e cantou algumas temas em exclusivo para os portugueses. De guitarra acústica ao colo e com uma banda sorridente, Erlend tocou em italiano, inglês e falou de um novo disco que está em fase de produção na Islândia. Este foi o concerto que colmatou a multiculturalidade da segunda noite de Mexefest.

Do frio da Dinamarca chegou Oh Land, de vestido aos folhos e uma condição física invejável, para dançar, cantar, rodopiar e acertar em cheio, em todas as notas certas. Naquele que foi o seu terceiro regresso a Portugal, Nanna Øland Fabricius abriu o alinhamento com "Sun Of a Gun" e "Cherry On Top", tocadas ao piano e o pop, eletrónico, experimental seguiu-se sem demoras com "Bird In an Aeroplane", "Perfection", "My Boxer" e "Wolf & I". Para combater o frio, a outrora bailarina e para sempre fã de pastéis de nata, incentivou a coreografias, com aquela voz doce como rebuçados. Dali a próxima paragem seria para o oposto de mel, com os rugidos de guitarras de Legendary Tigerman.

O São Jorge volta a ser casa do rock, desta vez para um dos concertos mais aguardados da noite: Tigerman com alguns truques na manga. Convidou a malta a subir ao palco e de lá saltou para cantar na escadaria da sala de espetáculo.

O repertório foi explorado desde os Tédio Boys do underground coimbrense, os tempos de alter-egos e dupla personalidade em Femina, covers das suas músicas favoritas, até às obras de acompanhamento sonoro para diversos filmes. Tranquilo e suave no início, o tom do concerto cresceu até à novidade "Do Come Home To Me" do futuro álbum.

Doravante, Paulo Furtado vai deixar de ser um artista-faz-tudo, agora acompanhado por Paulo Segadães, o baterista que se apresentou na canção "Gone". Um casamento entre a grande tela e o amor à música, celebrado longe de casa, numa cidade que acolhe Furtado (e a maioria do que é nacional!) com orgulho e devoção.

Até às 4 horas da matina, o Coliseu transformou-se numa noite clubbing ao dispor do coletivo D.I.S.C.O.Texas. Mirror People, Da Chick, Moullinex, Mr. Mitsuhirato e Xinobi tiveram a honra de encerrar a edição de 2013 do Vodafone Mexefest, perante uma plateia e as bancadas envolventes, cheias e prontas para a festa. Que para o ano haja mais, com música, amigos e frio de inverno à mistura.

Fotos: Eduardo Alberto
Texto: Sara Fidalgo