Super Bock Super Rock: dia 2 (15/07), com Massive Attack, Iggy Pop e Bloc Party


Super Bock Super Rock: dia 2 (15/07), com Massive Attack, Iggy Pop e Bloc Party

O avôzinho Iggy traz "tomates" a um festival com pouca chama e os Massive Attack dão lições de moral.

Ao segundo dia o Super Bock Super Rock anima, finalmente, um pouco. Depois de um dia morno, há finalmente alguma animação no Parque das Nações.

Depois de os Pàs de Problème e os Basset Hounds abrirem, respetivamente, os Palcos EDP e Antena 3 com algo mais animado do que os seus antecessores de ontem, as ainda poucas pessoas presentes no recinto assistiram ao concerto de Petite Noir. Depois de um início titubeante onde parecia estar desafinado (ou pelo menos desenquadrado da música), o africano Yannick Illunga misturava a sua voz (por vezes semelhante a Kele dos Block Party) a uma pop de raízes africanas pouco elaborada. Foi ficando mais seguro ao longo do concerto conseguindo mesmo que a fila da frente trauteasse "Down".

No Palco Antena 3 uma considerável aglomeração de público dançava aos ritmos tropicais dos PISTA. O trio do Barreiro contou com a ajuda de Alex d’Alva Teixeira em muitos dos temas de Bamboleio (o seu álbum de estreia) e, por entre muitas referências à loucura Pokèmon Go, animaram o recinto como não fazia o outro palco já em ação.

A confirmação disso mesmo foi o concerto de Kwabs. O músico britânico, com uma banda mais composta e coros a acompanhar, voltou a repetir "Willing and Able" (que já tinha cantado com os Disclosure na noite anterior), reconfigurou "Love Yourself" (escrita por Ed Sheeran para Justin Bieber) e terminou, já com mais público, com o seu tema mais conhecido "Walk". Kwabs demonstrou a sua voz poderosa, mas a música soa a mais do mesmo e pouco adequada para grandes festivais.

Kwabs

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157670429688551" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="10" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

A abrir o Palco Super Bock, uns Bloc Party já só com metade da formação original (o vocalista Kele Okereke e o guitarrista Russell Lissack), começaram com ritmos trip-hop em "Only He Can Heal Me" do mais recente álbum Hymns. A plateia pela metade, pouco reagia (talvez desconhecendo estes Block Party que andavam desaparecidos há cerca 10 anos). Nem a mais conhecida "Hunting for Witches" ou a 'apunkalhada' "Positive Tension" teve grande reação. Apresentando ainda mais duas músicas do último álbum ("The Love Within" e "Virtue"), apenas "Banquet" e "Helicopter" colocaram algumas dezenas a saltar. O final com "Ratched" em modo rave, confirmou ainda o excelente jogo de luzes apresentado (finalmente este ano a instalação LED do palco principal é bem utilizada em alguns concertos). Estes novos Bloc Party precisam ainda de ganhar embalagem para regressar a outros palcos nacionais.

Bloc Party

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157670064320920" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="11" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

De regresso ao Palco EDP, testemunhamos uma plateia de novo a meio gás para os Rhye, onde Milosh e Robin Hannibal, juntam a soul e o R&B a uma pop eletrónica melódica e subtil, com "Open" e "The Fall" a terem, sem surpresas, as maiores ovações. Mais um concerto "entretido" para quem esperava os headliners da noite. Seguiu-se o fenómeno Mac DeMarco, canadiano de pose freak-hillbilly, que é um dos canta-autores do momento. Embora sem a plateia a abarrotar como Kurt Vile no dia anterior, Mac e a sua banda ainda conseguiu por muitos a cantar e a saltar com as suas músicas energéticas e patetices pelo meio. O delírio inicial com "Salad Days" continuou com a celebrada "Ode to Viceroy" para tudo terminar com "Still Together". Não foi difícil perceber que estava aqui o grande vencedor da noite, no Palco EDP.

Rhye

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157668241882194" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="9" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Mac DeMarco

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157668241915444" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="8" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

À hora marcada (coisa difícil de acontecer neste festival), o avôzinho Iggy Pop traz finalmente alguns "tomates" a um festival, até agora, muito mortiço. O início demolidor com "No Fun" e "I Wanna Be Your Dog" (dos seus Stooges), "The Passenger" e "Lust for Life" não deixa ninguém indiferente (nem sentado). À segunda música já o frenético Iggy anda pelo meio da multidão distribuindo high-fives e provocando histeria. As suas caraterísticas viagens de ponta a ponta do palco, acompanhadas da ginga de anca, pontapés e o frequente cuspo para o lado não param com as seguintes "Five Foot One" ou "Sixteen".

Segue-se a viagem para uma qualquer concentração motard com "Skull Ring" e para onde tudo começou (os 60s) com "1969" (de novo o regresso à discografia dos "The Stooges"). Depois a cover de Johnny O’Keefe & The Dee Jays, "Real Wild Child", onde Iggy Pop demonstra aos jovens as verdadeiras rocks legends e onde começou "o atirar o suporte de microfone pelo palco" ou "provocar as mulheres para abrirem a camisa". A única parte mais calma da noite foi "Nightclubbing", cantado como num bar fumarento num qualquer porto de marinheiros.

Depois de muitos fuck em "Some Weird Sin", o final chega com "Mass Production" antes de uma muito diminuta pausa para encore. Do filme de culto "Repo Man" chega a canção com o mesmo nome para depois, se escutar "Sunday" a única faixa do seu último álbum (e que dá nome à tour) "Post Pop Depression", feito com Josh Homme dos Queens of the Stone Age e, que se diz, de homenagem a David Bowie (que produziu na década de 70, "The Idiot" ou "Lust for Life"). A terminar mais uma dos Stooges, a habitual "Search and Destroy".

O que dizer de um senhor com praticamente 70 anos que, de jeans deslavados, tronco nú e uma energia inesgotável, continua a provar que o rock está vivo, de boa saúde e continua a arrastar multidões?

Para finalizar a noite, a MEO Arena quase encheu para o coletivo que tem provado dar dos melhores espetáculos em qualquer parte. Os britânicos Massive Attack apresentam não apenas um concerto, mas um espetáculo sensorial que combina a música de batidas fortes e densas, com uma impressionante estimulação visual na conjugação de luz e vídeo, a juntar à forte mensagem de crítica social e política. Os "residentes" 3D (Robert del Naja) e "Daddy G" (Grant Marshall), comandam as máquinas, pratos e outros instrumentos e orquestram os restantes elementos (2 baterias e vozes convidadas) numa sucessão de sensações durante mais de 90 minutos.

Massive Attack

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157670397576412" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="12" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

A abertura faz-se com logo-marcas no ecrã e a batida de "United Snakes", para logo subir ainda mais de tom "Risingson". O cantor Azekel junta-se para "Ritual Spirit" e "Pray For Rain" onde a dicotomia homem/máquina é escrutinada nos ecrãs através de perguntas existenciais. Juntam-se de seguida os Young Fathers que acompanham esta digressão de promoção do EP conjunto Ritual Spirit. O trio de MCs oriundos da Escócia (e vencedores do Mercury Prize com o seu álbum de estreia Dead), complementam na perfeição as paisagens negras do trip-hop dos Massive Attack. Durante 2 temas do EP ("Voodoo My Blood" e "He Needs Me" dedicado às vítimas do atentado de Nice) e dois do próprio repertório ("Old Rock and Roll" e "Shame") os Young Fathers justificam plenamente a conjugação com o coletivo de Bristol.

Os ritmos arábicos de "Inertia Creeps" pedem a sucessão de bandeiras e organizações islâmicas no vídeo, a que se seguem mensagens mediáticas que passam da vitória portuguesa no Euro, à imprensa cor-de-rosa (com Luciana Abreu, Carolina Patrocínio ou a irmã de Ronaldo ao barulho), notícias insólitas e ao Brexit. A resposta do público não se fez esperar através de palmas, gargalhadas ou assobios. Os Massive Attack fazem o público pensar e reagir quase sem saber como. "Take it There" (com o regresso de Tricky no novo EP) antecede a presença de Deborah Williams a "original" substituir Shara Nelson em "Safe from Harm" antes de passarmos para o encore com "Unfinished Sympathy" acompanhado pela mensagem "Estamos Juntos" sobre fotos de refugiados. Só pode acabar assim, a aula dos Massive Attack. Depois do regresso ao passado com Iggy Pop, uma consciencialização do presente e futuro. Agora sim, este SBSR vale a pena!

Equipa Noite e Música Magazine no Super Bock Super Rock
Fotos: Vítor Barros
Textos: Miguel Lopes
Edição: Daniela Fonseca