Optimus Primavera Sound '13: 1º dia, 30 de maio


jamesblakeprimaveraNum dia solarengo, mas frio, arrancou a segunda edição da versão portuense do festival Primavera Sound. As tradicionais toalhas de piquenique foram tomando conta do espaço e pintando o relvado do parque da cidade com as cores do patrocinador do festival, à medida que os festivaleiros de toda a europa tomavam o seu lugar para assistir a primeira banda a pisar o palco Super Bock. Coube aos Guadalupe Plata a responsabilidade de abrir o festival, e os espanhóis apresentaram o seu blues-rock descomplexado e enérgico, que apesar de animar o público mais sedento de música, não aqueceu o final de tarde.

Num dia em que apenas os dois palcos principais tiveram atividade, o ping-pong entre palcos começou com a atuação dos Merchandise no palco Optimus. Um quarteto de rock de linhas simples e eficazes atuavam para um recinto cada vez mais composto, onde os corpos se deitavam ao longo do anfiteatro natural do parque da cidade para receber os últimos raios de sol e ouvir a banda de Tampa Bay a desfilar os seus temas que serviram bem de banda sonora de fim de tarde.

A primeira boa surpresa do festival surgiu com o indie rock dos Wild Nothing. A apresentarem o seu mais recente trabalho "Nocturne", a banda norte americana conseguiu explanar no recinto do Optimus Primavera Sound  a qualidade que tem em estúdio. Temas como "Only Heather" e "Live in Dreams" foram lançados ao forte vento que se fazia sentir, e conquistaram as primeiras palmas a um público exigente. As toalhas que no início dos concertos serviam para relaxar na relva, estavam agora transformadas em agasalhos para combater o frio cada vez mais forte, enquanto a banda liderada por Jack Tatum terminava a sua atuação, numa toada morna, embora consistente.

Aproximava-se a hora de jantar e com os últimos raios de sol no horizonte, subiram ao palco Optimus as The Breeders. A banda de Kim Deal (Pixies) regressou aos palcos para interpretar Last Splash, provavelmente, o álbum de maior sucesso da banda nos anos 90. Os norte-americanos tocaram o álbum na integra,respeitando o seu alinhamento original, abrindo espaço para alguns acrescentos e até alguns "enganos". A celebrar os seus 20 anos, temas como "Cannonball", "Invisible Man" ou "No Aloha" foram dos mais bem recebidos pelo publico. No entanto ao contrário do que se esperava, um concerto revivalista e intenso,  para aquela geração de 90, este foi um concerto morno, que acabou por não fazer jus à qualidade do clássico álbum "Last Splash".

No palco Super Bock, ainda as The Breeders estavam a finalizar o seu concerto e já muitos esperavam ansiosamente pelos Dead Can Dance. A banda de Lisa Gerrard e Brendan Perry, voltou com "Anastasis", após um hiato de 16 anos, e apesar da sua música ter a sonoridade e solenidade própria de uma catedral (tudo é muito lírico, místico e parece à primeira vista não muito adequado a um festival como este) não desmotivou os muitos que se aglomeraram em frente ao palco para os ouvir. Com um alinhamento que seguiu de perto o álbum "In Concert", lançado em abril deste ano, temas com registos tão diferentes entre si, como "Children of the Sun", "Amnesia","Ubiquitous Mr. Lovegrove", e "Opium", não foram esquecidos.

No palco Optimus, Nick Cave era já aguardado por milhares de pessoas que marcavam vez em frente ao palco. E ainda antes da hora marcada Nick Cave e os seus Bad Seeds subiam ao palco para contentamento de todos os que o aguardavam. "We No Who U R" e "Jubilee Street" dão o mote a um concerto curto e sem direito a encore que soube a pouco, protagonizado pelo australiano de 55 anos a quem assenta bem a definição de "animal de palco", e que ao longo do concerto realizou algumas descidas em êxtase até ao público. Nick Cave apresentou temas de sempre, como "From her to eternity", "Tupelo" ou "Mercy Seat", que parecem conviver bem com os temas do mais recente álbum. Não tendo sido um concerto surpreendente, foi um atuação profundamente física e muito intensa, mas que soube a pouco aos muitos fãs do australiano.

Depois de Nick Cave, ainda houve tempo para mais um concerto no palco super bock, onde se pode ouvir os Deerhunter, banda de Bradford Cox que já por cá tinha passado na primeira edição do festival com os seus Atlas Sound. Há quem diga que se pode esperar o melhor e o pior de um concerto dos americanos, mas no parque da cidade foi apresentado o melhor. Bradford Cox apresentou-se simpático e comunicativo, a aproveitou para ir dirigindo elogios ao festival. O alinhamento dos americanos fez-se valer do pop de "Halcyon Digest" em temas como "Desire Lines" ou "Memory Boy", e do mais recente "Monomania" editado já este ano, com os temas "Neon Junkyard" e "The Missing" a servirem de abertura ao concerto. Já no fim, tempo ainda para Cox dedicar "Back to the Middle” ao guitarrista e aniversariante Josh McKay, mas a derradeira musica da noite seria "Monomania" que dá nome ao último registo da banda em estudio.

Já eram quase duas da manhã, quando se deu a derradeira movimentação de massas, levando de novo milhares de pessoas a deslocarem-se para a frente do palco Optimus para assistir ao último concerto do primeiro dia do Optimus Primavera Sound. James Blake, considerado por muitos o menino prodígio da eletrónica britânica, entrou em palco ainda faltavam alguns minutos para a hora marcada, à sua frente já não tinha a multidão de Nick Cave, mas tinha uma plateia que fervilhava para o ver atuar, e que aos primeiros sons de "Air & Lack Thereof" se silenciou para contemplar de forma instrospectiva a sua musica. A música de Blake é hipnoticamente convincente, e mesmo aqueles que tinham de trabalhar no dia seguinte deixaram-se ficar pelo recinto apesar do adiantado da hora.

Para esses e para os mais descomprometidos, certamente valeu a pena esperar pela atuação do britânico, que na sua adorável timidez e com a sua voz de assombro, consegue construir ao vivo uma atuação de sucesso, polvilhada com batidas dubstep e uma pitada de R&B e soul, som muito próprio que o mesmo conseguiu construir ao longo de apenas dois albuns. Blake começou por apresentar temas do segundo álbum "Overgrown" – lançado no passado mês de abril – mas êxitos como "Limit To Your Love" (a versão de Feist que o catapultou para o sucesso), ou "The Wilhelm Scream" não foram esquecidos. Retrograde encerrou um espetáculo de uma beleza ímpar pelo meio de muitos agradecimento aos efusivos elogios que a plateia foi lançando.

Fotos: Gustavo Machado
Texto: Ana Isabel Soares