Optimus Alive'13: 2º dia, 13 de julho


depechemodealiveChegados para o segundo dia confirmamos que o sol não apareceu e que os tons de negro chegam mais cedo aos palcos do Alive.

Na passagem pelo palco Heineken, apanhamos as últimas músicas de Boca Doce, banda vencedora das Oeiras Band Sessions. Embora divertidos, confirmámos que o seu "Rock’n’Roll com bigode" só aqui estava por obrigação contratual, pois normalmente estas bandas de versões (no caso entre "Começar no A" de Ana Malhoa até "Anel de Rubi" de Rui Veloso) apenas figuram nos cartazes de alguns bares de música ao vivo.

Num breve salto ao Clubbing apanhamos os "freaks" Time for T também eles vencedores de um concurso, neste caso o Live Act. Esta banda luso-britânica lá conseguia entreter os que ainda deambulavam pelo recinto sem destino com a sua mistura entre o folk e o reggae, saltando entre um Devendra e um Manu Chao.

De volta ao palco Heineken conhecemos os DIIV, originários de Brooklyn, mas um oposto dos seus conterâneos Vampire Weekend. Aqui impera o pós-rock com melodias lo-fi, quase sem voz que apenas confere, por vezes, mais uma camada sonora às músicas de "Oshin". É a primeira vez que vêm a Portugal e apresentam este seu primeiro álbum e ficamos com vontade de os voltar a ver.

Já que este palco costuma ser um local de descoberta mantemo-nos para conhecer os elogiados Wild Belle e Rhye. Se nos primeiros se percebem os elogios da Vogue (Natalie Bergman, com as suas longas pernas e no seu estilo classy-hippie, atrai atenções), já não tanto os do The Guardian, pois as suas músicas entre o reggae e o ska não chegam nem para animar uma tarde de verão. Faz lembrar o hype nacional Miúda (que também passou por este palco), isto é, "muita parra e pouca uva". Já a dupla canadiano-dinamarquesa Rhye tentou não se sentir deslocada num festival como este e já a meio do alinhamento do palco. As suas músicas suaves e negras não conseguiram furar por entre as conversas dos festivaleiros presentes. Apenas o piano e a voz de Mike Milosh (e fazer lembrar Sade) de "The Fall" arrancou alguns aplausos na assistência. É um caso a rever numa qualquer pequena sala mais apropriada a estes ritmos.

E no palco Optimus caíram de paraquedas os Jurassic 5! Completamente desfasados do restante alinhamento, mas sem se preocuparem muito com isso, regressaram de um (largo) interregno na carreira para darem uma verdadeira lição de hip-hop old school. Afastando-se da atual corrente gangsta rap de Los Angeles, aproximam-se muito mais a uns Beastie Boys na sua missão de entreter a multidão com os MC’s Chali2Na, Zaakir, Mark 7even e Akil a puxarem constantemente pela plateia e os Djs Nu-Mark e Cut Chemist a desfilarem truques e engenhocas  (até guitarras gira-discos trouxeram) para mixs desconcertantes. Foi uma hora de boas vibes com um coletivo que já pertence à história da música.

Optando por perder Jamie Lidell, queríamos confirmar a evolução dos já nossos conhecidos Editors. A preparar o seu quarto álbum, "The Weight of Your Love", desfilaram por toda a restante discografia tentando preparar a plateia para pelos headliners do dia. Comprovaram que balançam entre um pós-rock mais negro e cinematográfico dos Joy Division (ou dos New Order com a mais dançante "Papillon" a fechar o concerto) e os épicos de uns Coldplay que os poderiam catapultar para o topo. É caso para confirmar com o novo álbum, pois para já a amostra "A Ton of Love" balança mais para uma mistura entre U2 e The Cult e resulta muito bem ao vivo.

E o que dizer dos Depeche Mode, para além de que foi dos melhores concertos (ou o melhor) do Optimus Alive deste ano? A banda inglesa confirmou a constante reinvenção, desde os anos 80 até ao presente. Com Dave Gahan, a nunca desagradar ao público feminino com o seu serpenteante abanar de ancas e voz sensual apesar dos 51 anos e imensos problemas de saúde. E Martin Gore, esfíngico e concentrado na música (apenas se solta nos temas que em que canta: "Home" e "Shake the Disease"), que lidera um alinhamento distribuído pela maior parte dos álbuns da banda, com especial incidência no "Delta Machine" (com o início de "Welcome to My World" ou os singles "Heaven" e "Angel") e em "Violator". Mas por cá  passaram todos os hits da banda, como a fortíssima sequência final com "Enjoy the Silence", "Personal Jesus" e já no encore "Just Can’t Get Enough", "I Feel You" ou "Never Let Me Down Again". Embora mantendo a essência da New Wave e Synth Pop os Depeche Mode apresentaram novos arranjos em várias músicas dando-lhes um ar mais orgânico, com mais bateria e guitarra (Martin Gore este muito mais na guitarra do que no sintetizador) o que fez deste um concerto bastante diferente dos anteriores (até do de há poucos anos atrás no Atlântico). É caso para dizer que ainda "estão cá para as curvas…".

De seguida a romaria para o palco Heineken ganhou à reprise dos sets dos 2ManyDjs no principal. No "secundário", Paulo Furtado voltava a dar uma lição de rock’n’roll, desta vez com novos convidados: Paulo Segadães (Vicious Five, Men Eater, X-Acto) na bateria, participação de Filipe Costa (Bunnyranch e Sean Riley & the Slowriders) e, em formato virtual, de Lisa Kekaula. Tigerman incendeia qualquer palco e desta vez não foi diferente com "Naked Blues", "Radio & TV" ou "Big Black Boat". E até houve uma música nova a anunciar o novo álbum na reentré.

Para terminar, aguentámos a explosão house-rock dos Crystal Castles que incendiaram a ainda cheia tenda do palco Heineken. Com um espetáculo de luzes impressionante, as colunas no máximo e um cerebral Ehan Kath a juntar à robótica agitadora Alice Glass (terá saído de um filme manga?) os Crystal Castles não deixaram ninguém parado e certamente, ninguém indiferente. Nem com um "Not in Love" sem Robert Smith…, amanhã há mais!

Uma última palavra para o coreto com curadoria do Ginga Beat da Red  Bull Music Academy Radio que teve neste dia a extremamente visual Yellow, os regressados de Roskilde Throes + The Shine com o seu rock-kuduro e a fechar o kuduro eletrónico de Marfox + MC Osvaldo.

Fotos: Vic Schwantz
Texto: Miguel Lopes