NOS Primavera Sound: dia 3 (6/06), com Ride e Underworld
O terceiro e último dia de NOS Primavera Sound foi o que menos público arrastou até ao Parque da Cidade do Porto, mas ainda assim registou uma boa casa para receber os derradeiros concertos da edição 2015 do festival.
O dia começou em português, com Manel Cruz a abrir as hostilidades no palco Super Bock, e a mostrar que o legado que construiu com projetos como Pluto ou Supernada ainda está muito vivo na memória dos fãs portugueses. A figura esguia, o tronco nu e uma aparente capacidade de não envelhecer são as marcas inconfundíveis do cantautor que apresentou a sua "Estação de Serviço" sem temas de Ornatos Violeta, mas com muitos inéditos que fazem adivinhar a continuação do culto nos projetos seguintes do portuense.
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Baxter Dury foi o senhor que se seguiu, e atacou rapidamente o palco com "Isabel" e "Claire", mas não pareceu conseguir encantar uma grande massa de público, que se ia dispersando aos poucos a caminho de ouvir The Thurston Moore Band no palco ATP. Para desilusão de muitos, a atuação do norte americano também não foi particularmente inspirada, um pouco à imagem do seu companheiro de Sonic Youth, Lee Ranaldo, no ano anterior. Após a separação do grupo, em 2011, parecem todos em busca de um som novo, mas demasiado colado às guitarras carregadas de distorção que marcaram a imagem da banda, ainda que o culto gerado em volta do coletivo vá garantindo a presença de muitos seguidores nos vários concertos que têm dado por Portugal.
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Num regresso ao palco Super Bock, encontramos um dos mais enérgicos concertos de todo o festival. Os Foxygen, liderados pelo imparável Sam France, deram uma lição de entrega e dedicação ao rock que lhes corre nas veias. Não se poupam a esforços e a malabarismos para dar um show na mais literal das interpretações da palavra, e roubaram uns saltos e uns movimentos corporais aos muitos que assentaram arraiais para ouvir "On Blue Mountain" e "Hot Summer", que antecedeu a cover de "Let it Be". Os Foxygen, que soam em grande parte a uma mistura dos Beatles com David Bowie e muitas drogas, ganharam, por larga margem, a competição do derradeiro final de tarde do festival.
Às 21.00h em ponto sobe ao palco NOS Damien Rice, que contava com a maior moldura humana do dia para o receber. Dono de uma bela voz e de um sentido de palco muito apurado, o baladeiro irlandês ofereceu um concerto bastante competente e revelador da capacidade do músico produzir temas simples mas arrebatadores, dentro do formato mais consensual da mistura pop e folk. Sozinho, contando apenas com a companhia da sua guitarra, Damien lançou-se aos temas soft pop que o caracterizam, e que foram convencendo quem se abeirava da colina principal do recinto. Os três álbuns de estúdio foram visitados, com destaque para "The Box", do mais recente trabalho, My Favourite Faded Fantasy, "Elephant" do segundo longa duração "9", e a inevitável "Blowers Daughter", que fez muita gente correr pelo anfiteatro natural do parque da cidade em busca de um lugar para gravar para a posteridade o tema mais radiofónico que o festival tinha para oferecer.
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Durante 10 dias, os membros dos Death Cab for Cutie andaram pelo norte de Portugal a conhecer as paisagens, os costumes e as peculiaridades da região, como que a absorver a cultura antes de regressarem ao Porto para um concerto que servia de redenção, após o cancelamento inesperado de 2012. Para quem, como nós, estivera várias horas à chuva há três anos atrás, esperando ansiosamente ver a banda de Seattle, este concerto revestia-se de um simbolismo especial. E aos primeiros acordes de "I will posess your heart", soltaram-se muitos suspiros de alívio: eles estavam ali, e desta vez iam mesmo fazer-nos embarcar numa viagem pelo tempo e pelas emoções.
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Com álbum novo na bagagem, os norte-americanos optaram apenas por apresentar três temas do mais recente registo, dedicando assim mais tempo aos temas que os transformaram num pequeno culto indie, com uma base muito fiel de seguidores. "Crooked Teeth", "Grapevine Fires" e "The New Year" foram alguns belos regressos ao passado da banda, que teve ainda tempo para fazer soar duas das suas mais belas canções: "Soul Meets Body" e "Transatlanticism", um verdadeiro hino do seu tempo, que reúne a subtileza do piano inicial com a pujança do crescendo épico com que termina o tema, fazendo lembrar uma fusão entre o indie e o pós-rock, com uma letra simples mas tremendamente poderosa. "I need you so much closer", repete exaustivamente Ben Gibbard, e repetem também os muitos milhares de jovens adultos emocionados na sua frente, como que pedindo que Ben e companhia regressem em breve para um concerto em nome próprio.
Revestida de enorme expectativa estava também a atuação dos Ride (na foto de artigo). A banda britânica estava em Portugal para um concerto único, e ganhou a aposta ao iniciar o percurso europeu num terreno que os recebeu da melhor forma. Foi com "Leave Them All Behind" que os percursores do shoegaze abriram o alinhamento, tocando de seguida "Like a daydream", um dos maiores hits do grupo, e tema que conta com um dos solos de guitarra mais bem trabalhados da sua era. Da setlist fizeram ainda parte "Seagull", "Black Night Crash" e "Mouse Trap" que fechou numa toada rockeira bem animada um concerto competente de mais um "grupo de veteranos" da música.
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Os dois últimos concertos da edição deste ano foram dedicados aos ritmos mais dançáveis, para que o final fosse em festa total. Primeiro, Dan Deacon "incendiou" a relva em frente ao palco Super Bock com a sua loucura, e a festa teve de tudo: círculos de dança, vasos com plantas a chegar ao palco, e os movimentos corporais mais improváveis para reagir freneticamente à eletrónica do americano. Depois, o regresso dos Underworld ao nosso país, desta vez para darem um concerto menos demolidor na potência sonora, mas não menos intenso na entrega da interpretação dos temas do álbum Dubnobasswithmyheadman, que tocaram na integra.
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Os últimos rasgos de música foram ao som de "Born Slippy", tema maior do filme Trainspotting, e que trouxe ao parque da cidade o carimbo habitual do concerto dos britânicos: muita luz, muito peso, numa explosão descontrolada de eletrónica que não deixa ninguém indiferente. Finda a descarga de luz e som, era hora de regressar a casa e aguardar mais um ano, até que a música volte a tomar conta do parque da cidade por mais três belos dias.
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Fotos: Gustavo Machado/Oporto Agency
Texto: Ana Isabel Soares
Inserido por Redação · 12/06/2015 às 12:11