Luísa Sobral no Teatro São Luiz, em Lisboa: reportagem


Luísa Sobral no Teatro São Luiz, em Lisboa: reportagem

Luísa Sobral apresentou o seu novo álbum na capital portuguesa.

Depois de uma digressão internacional, Luísa Sobral regressou a terras lusas para atuar no Teatro São Luiz, em Lisboa, onde apresentou o seu segundo álbum There’s a Flower in My Bedroom, que sucede ao multigalardoado The Cherry on My Cake, editado durante o decorrer de  2011.

A cantora portuguesa atua agora no próximo dia 22 na Casa da Música, na cidade do Porto.

Um pequeno piano e uma flor vermelha, receberam o público lisboeta que combateu a chuva e o vento de uma verdadeira noite de inverno, para encher o Teatro São Luiz e ouvir a jovem Luísa Sobral.

Para lá da cortina havia um jogo de sombras de onde se podia destacar a silhueta da artista, da guitarra e da cama de There’s a Flower in My Bedroom, o segundo álbum de uma fresca carreira, finalmente apresentado em casa.

"I was in Paris today", é uma valsa, dançada desde o segundo andar do Louvre até ao palco. De vestido azul Luísa canta a primeira canção do alinhamento do mais recente trabalho em estúdio. As flores no fundo do palco fizeram da sala de espetáculos, a mais bonita da cidade. Aqui ouvia-se o jazz dançante de "What do you see in Lily?", que embalava e dividia as atenções entre a bateria, os solos de piano e o gigante contra-baixo.

De guitarra pousada no chão, sem querer, pega-se no microfone e baloiça-se o corpo ao som de "The Letter I Won’t Send". Sobre o amor, sobre o coração, cantasse de olhos fechados e com sorrisos. A harpa ao peito, inicia a música que em tempos se levou na bagagem, até bem pertinho de Jools Holland. Em "Not there yet" a bateria é tocada com as mãos, a sonoridade cresce e da bruma nasce um quarteto de cordas para um momento de quase amor.

"Cuantas veces", foi escrita para uma digressão espanhola, e acabou por ficar no repertório, a marinar em tons quentes, a piscar-nos o olho e faz corar. Há tempo para brincadeiras entre a melodia de um trompete, feita pelos lábios de Luísa, e o piano de serviço. Um "Quiças Quiças Quiças" moderno, pronto para arrebatar corações.

O próximo capítulo é o de "Clementine", uma personagem quase desconhecida, complexa, que dá aso a crescendos de voz, sala fora! Em There’s a Flower in My Bedroom há duetos infalíveis. Para além de António Zambujo cantar a doce "Inês", Jamie Cullum empresta o seu talento a "She walked down the aisle". Como o artista não visitou o São Luiz naquela noite, João Salcedo salvou a donzela com a sua voz grave, encorpada, numa combinação de timbres perfeita.

Luísa Sobral não é de perder tempo com o passado, mas há quem não consiga viver fora dele. Daí cresceu "As the night comes along", inspirada nos seus avós, e na poesia que é amar quem já partiu. O contraste acontece na secção rítmica, que faz deste tema, o mais feliz do disco inteiro. E Luísa, a bailarina que foi expulsa do ballet, calça um par de sapatilhas e dança e dança e dança…O momento alto da noite, fez as palmas acompanharem os movimentos cheios de personalidade e a afirmação exausta, "não sei como é que a Beyoncé consegue fazer isto, aii..bem, acho que acabamos por aqui”. Ainda a recuperar o fôlego, "Mom says" apresenta-se ao público que, aventureiro, se junta em cantorias.

A outra colaboração no novo álbum, trouxe Mário Laginha ao palco, que depressa se debruçou sobre o teclado para "The last one", acompanhado pela protagonista da noite. Uma música que pode ser tocada, apenas pelas mãos do mestre pianista. "De um filho distante", original de Laginha com letra da menina Sobral, podia muito bem ser "uma continuação da música do Abrunhosa".

Chegamos ao momento certo para homenagear o fado, na pele da Mariquinhas, do Senhor Vinho e da Júlia Florista, com a "única música do disco que acaba bem". "Senhor Vinho" antecede a ida de Luísa ao piano e a aparição de um acordeão com sabor a pain au chocolat. "Rainbows", mete-se ao barulho, delicada e deliciosa, preenchida por sombras e ecos que completam o cenário.

"Quando te vi", de guitarra no joelho e um banquinho, tem uma costela de bossa nova, outra de serenata, num corpo com toda a graça portuguesa.

A noite passava devagarinho e a vontade de ouvir Luisa Sobral, não cessava. E como é costume, ofereceu-se um presente em forma de medley. Começaram os primeiro acordes do que viria a ser uma versão de "Toxic" de Britney Spears, num mashup com "Não és homem para mim" de Romana e a entrada de mansinho de "My heart will go on". Entre "Wrecking ball" de Miley Cyrus e "Call me maybe" de Carly Rae Jepsen, a guitarra transformou-se em cavaquinho e os rapazes fizeram precursão numa espécie de "Cups" corporal. O querido teatro de Luísa e companhia, distribuiu risos grátis.

"Japanese Rose", fala sobre uma menina que perdeu os pais no tsunami japonês. É tempo de tirar o pacote de lenços do casaco e segurar as emoções. Numa breve visita à era "The cherry on my cake" com "Don’t let me down", fica a vontade de dançar á chuva, lá fora, e rodopiar num candeeiro de rua.

Anunciava-se a despedida e Luísa acalmou os nervos quando os tão apetecíveis esforços que tentam combater o final do concerto, foram demonstrados.

De banjo ao ombro, passeamos de mão dada com uma música de sabor country folk. "I remember you" fez com que os homens em palco abandonassem tudo para tocarem guitarra lado a lado, até as luzes se dissiparem.

Chama-se pelo encore, com toda a força, com toda a pujança, com aplausos e pés de chumbo. Salcedo no mini piano, debaixo de um único foco de luz, e Luísa sentada na frente do palco tocam "Hello stranger". Numa troca rápida, o quarteto de cordas mostra-se ao público e dá inicio a “Inês”, sem o fadista de Beja, mas com uma inexplicável sensação que traz arrepios e amor, de passagem.

O "Xico", homem da vida musical de Luísa, resolveu aparecer e deixou de fazer sofrer a artista. E uma vez mais, que habilidade maravilhosa, a do trompete que Luísa consegue imitar!

A cantora retira-se num vaivém imediato e, sentada na cama, contar-nos um lamento. Em jeito de conto de fadas, a cantora de um tipo de jazz muito bem casado com pop, desejou-nos boa noite, com uma flor que todos trouxemos para casa.

Fotos: Marta Ribeiro
Texto: Sara Fidalgo