Blur, os apaziguadores de corações no último dia do Primavera Sound Porto


Blur, os apaziguadores de corações no último dia do Primavera Sound Porto

Num último dia de festival, marcado por falhas técnicas que comprometeram o concerto de New Order, Blur foram o comprimido perfeito para aliviar o aperto no peito e serenar a alma de quem, com expectativa, aguardava pelo último dia do Primavera Sound.

O quarto e último dia de festival começou com direito a uma verdadeira tarde de verão, onde todos os caminhos foram dar aos palcos secundários. A vontade de estender a toalha na relva, de aproveitar os anfiteatros naturais e de ouvir e explorar boa música foram o mote perfeito para famílias e amigos que decidiram, numa tarde de sábado, aproveitar o verdadeiro espírito do Primavera Sound.

No Palco Porto, Wolf Manhattan e Yard Act fizeram as honras da casa, enquanto Pup e Isa Leen atuavam nos Palcos Plenitude e Super Bock. Num recinto, já bem composto, flowerovlove trouxe consigo uma brisa suave de verão. A artista britânica, que diz inspirar-se em referências como Tame Impala, apresentou-se com temas como "Saturday Yawning", "I Gotta I Gotta" e "Love You", cativando até os mais distraídos.

Sparks subiram ao Palco Porto pelas 19h40, enquanto Nation Of Language reuniam uma pequena multidão no Palco Super Bock. A banda norte-americana, que navega confortavelmente entre o post-punk e o synth-pop e bebe de influências como New Order, Orchestral Manoeuvres in the Dark e Depeche Mode, brindaram o público com uma atmosfera mística de anos 80. Numa atuação sólida, minimalista e nostálgica, ouviram-se "On Division St", "This Fractured Mind" e "September Again", esta última a fazer recordar The Smiths. Terminaram com "The Wall & I" e "Across That Fine Line".

À espera de Halsey, o público aproveitou para "mergulhar" em Julia Holter e nas suas melodias quase meditativas que, numa atuação intimista e profunda, convidou todos os presentes a uma viagem através da sua imaginação e mundo criativo. O momento "mindful" terminou com Halsey no Palco Porto e a sua atuação enérgica, perante uns fãs acérrimos na linha da frente. "Nightmare" e "Castle" abriram uma setlist repleta de sucessos, e levaram os fãs ao rubro. Perante um público maioritariamente jovem e que acompanhou a artista do início ao fim, ouviram-se ainda "You Shoul Be Sad", "Eastside" e "Closer". Visivelmente surpreendida pela recetividade e energia de quem esteve presente, terminou com o concerto com "I Am Not A Women, I'm A God".

No Palco Vodafone, um público, por sua vez, mais maduro começava a reunir-se para New Order. Fiéis à pontualidade britânica, New Order subiram ao palco à hora marcada e com "Regret" e "Age of Consent" deram início a um dos concertos mais esperados da 10ª edição do Primavera Sound Porto. Com "Be a Rebel" puxaram o público para os primeiros passos de dança e com "Bizarre Love Triangle" começaram a desenhar o caminho para um grande final. Num concerto que estava a chegar ao seu clímax, tocavam "True Faith" quando problemas técnicos obrigaram os New Order a duas interrupções e a uma pausa de mais de 15 minutos, uma quebra que deixou um gosto amargo na boca de todos os fãs. O público começou, então, a deslocar-se em direção ao Palco Porto para Blur, sem que o concerto tivesse terminado. New Order regressaram pela segunda vez ao Palco Vodafone, para terminar a atuação com "Blue Monday", "Temptation" e a tão aguardada "Love Will Tear Us Apart" dos Joy Division. O concerto teve tudo para ser uma boa memória, mas ficou apenas um aperto no peito.

New Order - Primavera Sound Porto 2023

Depois da desilusão, só Blur poderiam atenuar a sensação de perda. Passavam 10 minutos da hora marcada, quando se ouviram os primeiros acordes de "St. Charles Square". Estava dado o pontapé de saída para um concerto memorável. Seguiram-se "There's No Other Way" e "Popscene" perante uma explosão de energia do público. Damon Albarn, que no alto dos seus 55 anos se apresentou em forma e cheio de garra, mostrou que o bom Britpop ainda está vivo e que o tempo é relativo pois, 30 anos depois, ainda continua a arrastar multidões. Seguiram-se "Beetlebum", "Coffe & TV" e "Girls & Boys" perante um público em êxtase. "Song 2" só consolidou a loucura que por essa altura de fazia sentir no recinto. Já na reta final do concerto ouviram-se "This Is a Low", "Tender" e "The Narcissist", tema do trabalho mais recente de Blur. "The Universal" encerrou uma noite que ficará guardada memória por muitos anos. Num concerto épico, Blur não foram um 'placebo', mas sim a terapêutica perfeita para colar um coração partido, energizar a alma e salvar o último dia do Primavera Sound Porto.

Blur - Primavera Sound Porto 2023

A próxima edição do festival já tem data marcada para os dias 7,8 e 9 de junho de 2024.

Fotografia: António Teixeira
Texto: Ana Rosinhas