Funk Orquestra em entrevista: "A nossa intenção foi trabalhar com músicos clássicos que tivessem a cabeça aberta"


Funk Orquestra em entrevista: "A nossa intenção foi trabalhar com músicos clássicos que tivessem a cabeça aberta"

Criada em 2018, pelo DJ e produtor Fábio Tabach, para homenagear os 30 anos do movimento funk no Brasil, a Funk Orquestra entrou para a história da música pop brasileira ao transformar o Rock in Rio 2019 num baile funk.

Além dos protagonistas 2FAb e Paolozzi, a Funk Orquestra é formada por 15 jovens músicos, parte deles oriundos de projetos sociais em comunidades do Rio de Janeiro. O reportório respeita as origens lúdicas do funk mas evita o constrangimento para os pais de expor as suas crianças aos palavrões, optando pelas versões "clean" dos raps.

Desde o princípio que a proposta da Funk Orquestra é recuperar uma antiga tradição das "bandas de baile" e misturá-la com tudo que o baile Funk tem de mais poderoso para dar origem a uma orquestra dançante e descontraída como nunca se viu antes.

No dia 19 de junho sobem ao Palco Galp Music Valley do Rock in Rio Lisboa para um "grande baile funk". A Noite e Música esteve à conversa com o DJ e produtor Fábio Tabach.

Como nasceu o projeto?
O projeto nasceu há muito tempo dentro da cabeça, o objetivo era mostrar a importância da cultura funk, saída das favelas cariocas, e levar a música de uma forma diferente para o Theatro Municipal do Rio e para as principais salas de concerto do Brasil, mostrando que todo o preconceito que o funk sofria na época e que ainda sofre em menor intensidade hoje, poderia ser diminuído com uma "chancela" erudita, vinda através do Maestro e dos instrumentos clássicos da orquestra. Nosso primeiro show foi no maior festival do mundo, Rock in Rio 2019, e impressionou pelo resultado junto ao público, que cantou da primeira a última música. Tivemos também a oportunidade de encerrar o Rio Montreux Jazz Festival em 2020.

No vosso funk não entram palavrões ou mensagens políticas. Isto é uma mensagem a quem produz o oposto?
Nunca foi nossa intenção mandarmos uma mensagem dessas, os palavrões e mensagens políticas fazem parte também da cultura do funk, como uma crónica ou relato do que os personagens desse movimento vivem diariamente. O funk é um movimento gigante com vários sub-generos. No nosso caso foi somente uma opção artística, para podermos tocar em lugares abertos, festivais, para público de todas as idades, incluindo as crianças. Mesmo a gente editando os palavrões o público continuará cantando sempre.

A Funk Orquestra é composta por músicos oriundos de diversos projetos sociais em comunidades do Rio do Janeiro. Como surgiu a ideia de recrutar elementos a estas comunidades?
A nossa intenção foi trabalhar com músicos clássicos que tivessem a cabeça aberta, e a regra número um é que gostassem muito do funk brasileiro. Vários deles já tocavam em algumas orquestras cariocas e também davam aula, a escolha não veio pelo lugar onde moram nem pelo projeto social e sim pela identidade e representatividade com os valores da nossa orquestra. Tocamos de "bermuda" e "camiseta", todos em pé dançando e cantando do início ao fim, inclusive o maestro.

O vosso concerto no Rock in Rio Brasil foi muito aclamado pela crítica. Como surgiu o convite da organização?
Em 2018, durante o último Rock in Rio Lisboa, eu conversei com o Zé Ricardo, diretor artístico do Palco Sunset (e na época também curador do Music Valley) que dessa vez ele "não teria mais pra onde correr" (kkkk), que a gente tinha montado a orquestra pra ser lançada no palco dele. Ele adorou a ideia e disse que dessa vez tinha chegado o momento certo! Ele foi e continua sendo um dos nossos maiores incentivadores, tanto que seremos headliners no Espaço Favela no próximo Rock in Rio Brasil em setembro, com a direção artística dele. Não poderíamos ficar mais felizes com toda a resposta da crítica e do público, foi uma "catarse" coletiva, um momento único e inesquecível para todos.

Funk Orquestra @ Rock in Rio Brasil 2019 @Celso Lobo

Gostam mais de atuar em festivais ou a solo?
Gostamos de atuar, está no nosso DNA, nosso show é um "bailão" funk pra dançar e cantar o tempo todo. Pode ser no maior festival do mundo ou em um baile de favela, o que a gente quer é levar uma experiência única e inesquecível.

Agora Portugal. A 19 de junho levam a vossa orquestra dançante ao Rock in Rio Lisboa. O que o público pode esperar do concerto?
A primeira coisa que sugiro é que cheguem cedo no dia 19 e vão diretos para o Galp Music Valley, pois tocaremos cedo. Vamos fazer um baile pra todo mundo cantar e dançar juntos, incendiar o público e nos divertir demais. Ahhhh, além do repertório do show novo vamos ter uma surpresa "quenteeeee", que só quem tiver assistindo vai saber (o resto vai descobrir depois, só pelas redes sociais). Nos vemos na pista!

Fotos: Marcelo Tabach