Lotus Fever em entrevista: "Não gostamos de catalogar a música"


Lotus Fever em entrevista: "Não gostamos de catalogar a música"

Estivemos à conversa com Bernardo Afonso, teclista dos Lotus Fever que acabam de editar o primeiro trabalho de longa-duração Search for Meaning.

Noite e Música – Como surgiram os Lotus Fever?
Bernardo Afonso – Eu, o Pedro e o Manuel começámos a tocar em 2011. Tocávamos covers e queríamos fazer alguma coisa mais… Entretanto o Diogo entrou e começámos a tentar compor os primeiros originais e experimentávamos ao vivo e o público gostava. Foi muito rápido o processo de composição tanto que no ano seguinte já tínhamos o primeiro EP produzido pelo Ramón Galarza.

NM – A banda passou por uma mudança de nome (de Roadie para Lotus Fever). A mudança foi apenas no nome ou houve alguma transformação?
BA – A grande mudança foi só no nome. Coincidiu com uma altura em que a banda começou a ficar muito mais planeada. Começámos a trabalhar com A Firma e digamos que houve um grande processo de profissionalização.

NM – E quem são agora os Lótus Fever?
BA – Sou eu nos teclados, Diogo Teixeira de Abreu na bateria, Pedro Zuzarte na guitarra e voz e Manuel Siqueira na guitarra. Fazemos rock progressivo com algumas influências psicadélicas. Não gostamos de catalogar a música mas temos que o fazer por uma questão de organização. Temos várias influências desde o jazz, música clássica, eletrónica…

NM – Como é que se sentem pelo fato do vosso primeiro longa-duração (editado esta semana) ter sido financiado por crowdfunding?
BA – Espetacular, na altura estávamos a pensar nas maneiras mais viáveis e surgiu essa ideia e não estávamos à espera do impacto que teve. Foram muitas as doações e conseguimos alcançar todo o valor proposto. Saber que há pessoas que pagam por algo que ainda não está feito é algo extraordinário. É sinal que há muitas pessoas que gostam do nosso trabalho e sem dúvida que isso nos traz muita motivação.

NM – Quais são as expetativas para o álbum?
BA – Agora temos que ter os pés assentes na terra. Temos uma tour à porta e estamos focados em fazer com que o disco tenha a dimensão "live" muito bem trabalhada porque não é só fazer um álbum, temos que pensar na melhor forma de o executar ao vivo… Estamos muito entusiasmados porque vamos para fora de Lisboa pela primeira vez, com novos públicos e queremos dar-nos a conhecer a todos.

NM – Como é que o definem?
BA – É um álbum conceptual mas temos a ideia de que o disco pode estar vivo e ser interpretado de diversas formas. Quisemos fazer um álbum que funcionasse como um todo. Fala de dualidades de problemas face a situações difíceis, sobre decisões ambíguas. Esta ideia está refletida na personalidade do disco. Tem várias influências, muitas mudanças de ritmo… Oiçam o álbum e tirem as vossas próprias conclusões.

NM – Como correu o concerto de apresentação no Musicbox?
BA – Correu muito bem. Estava cheio, não estávamos à espera que tivesse tanta gente que não conhecíamos… Muitas vezes no início temos a família e os amigos por isso foi uma enorme surpresa e o feedback no final do concerto foi muito bom. Malta que já esta na música há alguns anos veio dar-nos os parabéns… Foi muito especial! O maior que fizemos até agora e foi mesmo inacreditável.

NM – O que é que nunca pode faltar nos vossos espetáculos?
BA – Vontade de abanar a cabeça, de dançar, de curtir a música e a capacidade de tentar sentir boa música.

NM – Ainda se sentem nervosos quando estão prestes a subir ao palco?
BA – (Risos) Sim, ainda nos sentimos muito nervosos… Esse nervosismo vem da responsabilidade e até é bom porque mostra que queremos muito fazer isto… Acho que nunca vai desaparecer, não tenho grandes ilusões.

NM – É difícil ser músico em Portugal?
BA – Sim… Principalmente porque o mercado não permite que seja uma escolha óbvia. Não é como querer ser médico ou economista onde se tira um curso e dás o máximo para ter um trabalho nessa área… Na música não é assim, não é por estudar nem por se ser bom. É um mercado pequeno, cheio de lobbies e coisas ambíguas. É difícil ter uma carreira consolidada e vender. Mas não é a dificuldade de viver da música que vai fazer com que não haja malta como nós a tentar e a arriscar vingar neste Mundo.

NM – Os Lotus Fever são uma oferta "fresca" da música nacional?
BA – Acho que se não pensássemos assim e se todas as bandas não o fizessem não teria sentido existir. Todos têm que achar que estão a fazer algo de novo. A música é uma arte, é preciso algum fator de inovação e criação. Muitos já fizeram o que fazemos ou o que iremos fazer mas continuamos a procurar fazer diferente através do nosso estilo e da nossa instrumentação. Tentamos fazer musica que gostávamos de ouvir na rádio… Achamos que estamos a fazer algo de novo e de diferente.

NM – O que esperam para o futuro?
BA – Basicamente agora estamos focados na tour. Depois vamos pensar num segundo álbum e certamente as ideias vão surgir mais cedo do que esperávamos. Vamos a Évora, ao Porto, a Coimbra e a Cascais e queremos que as pessoas gostem de nós, do nosso som e que achem que estamos a fazer uma coisa diferente!

Entrevista: Bruno Silva