Vodafone Paredes de Coura: dia 2 (18/08), com LCD Soundsystem, Thee Oh Sees e Sleaford Mods
James Murphy desfilou todos os hits na sua passagem por terras minhotas.
O primeiro dia "à séria" da 24ª edição do festival Vodafone Paredes de Coura arrancou com o norte-americano Ryley Walker no palco principal, um dos nomes em ascensão na folk oriunda do outro lado do oceano e que começa agora a tomar o seu lugar de destaque no campeonato dos festivais de verão. Em Portugal, Ryley contou com o português Gabriel Ferrandini na bateria, uma colaboração que se estenderá a mais alguns concertos da tour europeia do norte-americana de 26 anos. Golden Sings That Have Been Sung é o disco que o levará a percorrer ainda alguns países da Europa e foi esse que deu a conhecer com excelência na margem esquerda do Taboão. Ryley viria a fazer a ponte country-folk para Joana Serrat, espanhola também dedicada às canções folk que procura um lugar seu num aquário sem espaço para peixes exóticos de origem não anglo-saxónica. Naquele que será provavelmente o dia de maior enchente do festival, a noite foi caindo na pequena vila de Paredes de Coura ao som dos concertos de Whitney, norte-americanos melancólicos com carimbo da sempre mui respeitada Secretly Canadian, e dos portugueses Bed Legs, um nome que cai de pára-quedas no cartaz do festival face ao pouco mediatismo do grupo de Braga.
Bed Legs
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Entretenimento de lado, os Sleaford Mods foram a primeira cuspidela do festival. Jason e Andrew, duo de Nottingham, em Inglaterra, não se fizeram de rogados por serem apenas dois no palco principal: ocuparam-no – como os ocupas punks o fazem – com todas as forças que tinham. São a prova viva de que o que fazem, por mais simples que seja, nada deve a formações orgânicas, provando que a essência está na maior parte das vezes na atitude e na força da palavra, resumindo uma modesta hora de concerto a um computador que dispara faixas e a um microfone.
Sleaford Mods
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Com nome da capital da Argélia, os Algiers, que de nada têm do país norte-africano, foram o nome que se seguiu na levada da noite e que foi responsável por um acréscimo qualitativo no alinhamento do festival. Pela segunda vez em Portugal no curto espaço de meio ano – vimos a banda de Franklin James Fisher ao final da tarde do Primavera Sound 2016 -, os Algiers são uns dos nomes de 2015 e são dos vieram para ficar. Há pós-punk, há obscuridade, há atitude e há romantismo, condimentos essenciais para uma banda que cresce de concerto para concerto e que, certamente, não defraudará num futuro disco.
Algiers
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São Francisco, Califórnia. Terra de Jerry Garcia, terra do melhor produto sintético psicadélico, terra detentora do maior número de páginas na história do rock'n'roll, terra que se auto-lavra ao ponto de, após tantas páginas viradas, ainda nos conseguir surpreender com um possível futuro para o rock'n'roll. É disso que se trata quando vemos as duas baterias, o baixo e a guitarra dos Thee Oh Sees: do futuro do rock'n'roll. A impossível vivência com o pó quando ameaçada por um frenesim garage-rock, talvez o melhor que aconteceu ao garage-rock nas últimas décadas. A culpa é deles, deste quatro pregadores de insanidade. Diziam eles, algures na reta final do concerto, sobre o que se vivia no anfiteatro natural de Coura: "you can't control Portugal". Tudo dito numa frase sobre o que eles fizeram?
Thee Oh Sees
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Com o cancelamento da locomotiva funk e soul de Sharon Jones & The Dap-Kings, coube a Shura, estrelita eletro-pop ocupar o lugar deixado. Canções "orelhudas", dignas de anúncios de televisão, dispensáveis na sua grande maioria, que em nada acrescentou à noite do festival minhoto e que, claramente, serviu apenas como música de fundo para quem aguardava com anseio o suposto concerto da noite: LCD Soundsystem.
Shura
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São raras as vezes que vemos um palco principal de um festival de verão ser pequeno para tanto instrumento e maquinaria. Uma dessas raras vezes aconteceu esta noite com a banda de James Murphy, carregada e armada até aos dentes, pronta para rebater uma escola de dança revivalista da música eletrónica. Aquele que é, voltamos a referir, um dos concertos mais esperados desta edição do festival, não defraudou, mas também não levou Coura para outro planeta durante a 1 hora e 40 minutos de concerto. Após um hiato anunciado, que se esperava longo, o estranho e súbito regresso dos LCD Soundsystem aconteceu, por força da vontade de Murphy, dos fãs, do público em geral, mas não certamente pela necessidade da sua música no contexto atual da música de dança. O insaciável retiro faz destas coisas: gostamos mais quando se vão embora e pensávamos que gostávamos mesmo muito quando elas regressam. Expectativas colocadas de lado, Murphy leva o respeito de muitos festivaleiros courenses para casa com um simples gesto: relembra a noite em que partilhou o alinhamento do festival com Lemmy, dos Motörhead, ícone rock'n'roll que faleceu nos últimos dias de 2015, noite em que viu o baixista parar a chuva em Paredes de Coura. Findo um desfilar de hits, Murphy abandonou Coura com o palco vazio e com "Nothing Compares 2 U", de Sinéad O’Connor, a tocar de fundo. Estava feito um dos cabeças de cartaz do festival. Cumpriu o hiato, cumpriu o regresso, mas não cumpriu gloriosamente.
LCD Soundsystem
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A primeira noite "à séria", segunda noite regular do festival, encerrou com os dj sets de Rastronaut e Branko (Buraka Som Sistema), que andam em digressão conjunta na celebração dos 10 anos da Enchufada, uma das casas musicais mais conceituada deste país, responsável por ter dado Portugal ao mundo com os Buraka Som Sistema e, legitimado e reconhecido, o mundo a Portugal.
Equipa Noite e Música Magazine no Vodafone Paredes de Coura
Fotos: Hugo Sousa
Textos: José Costa
Edição: Nelson Tiago
Inserido por Redação · 19/08/2016 às 19:20