Vodafone Mexefest: a reportagem do festival [fotos + texto]


Vodafone Mexefest: a reportagem do festival [fotos + texto]

Damos início a mais uma viagem pelo festival Vodafone Mexefest. Sim, porque é de uma viagem que se trata, pela música mais recente no espetro indie e, neste ano, não pela Avenida (da Liberdade) mas quase exclusivamente pela zona do Restauradores.

DIA 28

As novidades são apenas duas (e meia) salas novas: o Palácio Foz e a Garagem da EPAL, com a metade a ser a abertura de uma segunda sala no Ateneu Comercial de Lisboa (em substituição do anteriormente anunciado Ritz Clube). De resto, tudo o que já conhecemos de anos anteriores.

Depois do habitual início com os portugueses menos conhecidos (Sara Paço no Palácio Foz e Ana Cláudia na Sociedade de Geografia) e um veterano do hip-hop (NBC na Casa do Alentejo), encaixamo-nos numa Igreja de São Luís dos Franceses a abarrotar para ver a estreia dos JJ em solo nacional. A escolha da sala foi perfeita para os acordes eletrónicos e lo-fi dos "freaks" suecos, em que se destacou a voz misteriosa de Elin Kastlander e a "trip", entre o ausente e alucinogénio, do seu companheiro Joakim Benon.

Fomos de seguida conhecer a Garagem da EPAL e as madrilenas Deers, quatro raparigas que destilam melodias cruas a remeter para os anos 60 mas que se revelaram demasiado "verdes" para estas andanças. Beneficiam do hype de serem uma banda rock exclusivamente feminina (um pouco como as nacionais Anarchicks), mas mostraram ainda terem de pedalar muito para saírem da garagem.

A caminho do Coliseu, ainda descansámos um pouco ao som de de Francis Dale (o luso Diogo Ribeiro) e sua voz soul, na bela Sala dos Espelhos do Palácio Foz. Aconselha-se o download gratuito do seu EP Lost in Finite e uma audição mais atenta fora de festival.

Chegámos por fim à maior sala do festival para ver e ouvir o primeiro headliner da noite. A percussionista norte-americana Tune-Yards (aqui acompanhada de mais quatro elementos), saltitou entre sons soul e tribais (quase parecíamos, a certo momento, ouvir uma tribo africana a cantar inglês) que convidavam à dança mas nunca chegavam ao êxtase que prometiam. Foi interessante de ouvir, mas com uma pequena desilusão por o Coliseu praticamente cheio nunca explodir numa rave tribal dançante.

Tune-Yards

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Acelerámos pela rua, para conseguir espreitar 3 a 4 concertos numa hora. Começámos por beber uma imperial ao som do hip-hop underground do nova-iorquino Pharoahe Monch, por entre um público algo diferente das restantes salas do festival (no Ateneu ouvia-se essencialmente hip-hop nesta noite).

Na Garagem EPAL, escutamos um dos momentos da noite: o rock psicadélico dos King Gizzard and the Lizard Wizard. E se as Deers nos parecerão não vir a sair da garagem, estes australianos "descentes" dos Tame Impala ou de uns Unknown Mortal Orchestra, já merecem palcos maiores onde as suas canções quentes e guitarras melódicas possam fazer transpirar maiores plateias. O som dos mestres dos 70s está todo lá até na utilização das harmónicas ou flautas no meio de um improviso de 10 minutos de rock. Esperamos ansiosamente pelo seu regresso.

Ainda a correr, maravilhamo-nos com o mais belo palco do festival, o do exterior da Estação da CP dos Restauradores. E como tem sido hábito em anos anteriores, é o soul e o r&b que dominam as sonoridades. Desta vez com a voz "branca" de Adam Brainbridge (um cruzamento de Bruno Nogueira "on acid" com Bobby Gillespie dos Primal Scream) e os seus Kindness a colocarem uma plateia mais velha (late 30s) a dançar ao som de misturas dos 80s (ouvimos até "I Wanna Dance with Somebody" de Whitney Houston), a acid-jazz e soul e funk transportado da Motown para o séx. XXI.

Kindness

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Para terminar a noite, assistimos a uma St. Vincent (foto topo) a tentar a transformação de uma intimidada cantora pop para uma experiente estrela rock. Quase sempre de guitarra em punho e meias rasgadas, Annie Clark tentava atingir o topo (a segurança de PJ Harvey ou a irreverência de Alison Mosshart), mas a sua desenvoltura parecia ainda demasiado encenada para lá chegar. A sala cheia do Coliseu respondeu bem, ainda assim, aos temas mais fortes do seu último álbum homónimo (que já figura nas listas dos melhores do ano) como "Every Tear Disappears" ou "I Prefer Your Love". Também os momentos mais intimistas, como "Prince Johnny" em que nadou nos braços dos fãs, ou outros em que largou a guitarra e cantou deitada na pirâmide montada em palco, St. Vincent mostrou que já está a atingir o topo da hierquia indie e está naquele momento em que irá ascender aos maiores ou cair a pique para o esquecimento.

St. Vincent

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DIA 29

Neste segundo dia focámo-nos nas salas maiores (São Jorge e Coliseu) depois de ontem termos conhecido as novas salas deste Mexefest 2014.

Tal como no primeiro dia, as primeiras bandas eram portuguesas (ou lusófonas) com o rock psicadélico dos Savanna na sala mais pequena do São Jorge, metade dos Capitão Fausto transformados, numa versão mais dura, como Modernos, os Salto na Garagem EPAL, entre o pop e a eletrónica, e a repetir a sua presença este ano (já tinham estado ontem de surpresa – Best Kept Secrets da Vodafone – no São Jorge), o rock dos trópicos dos Throes + The Shine, ou o brasileiro Tiago Iorc na Sociedade de Geografia a cantar versões de Los Hermanos.

De regresso ao Coliseu, para um concerto intimista de Sharon Van Etten que quase merecia uma sala mais pequena (porque não um barzinho com poucas dezenas de pessoas?), para ouvir as folk desta cantora de New Jersey. Afastando as sonoridades mais elétricas de Tramp, apoiou-se essencialmente no seu último álbum Are We There para o seu concerto à meia-luz. Dona de uma voz ampla e elástica encantou todos com as suas histórias de amor nesta terceira passagem por Portugal.

Sharon Van Etten

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Na sala maior do cinema São Jorge, esgotada e ainda com fila à porta, Perfume Genius, em apresentação do seu último álbum Too Bright (produzido por Adrien Utley dos Portishead e participação de John Parish), manteve o ambiente intimista com as suas "murder ballads" emocionais até ao êxtase final de "Queen", já no final do concerto.

Perfume Genius

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Um rápido salto à Estação Vodafone FM, para tentar escutar canções dos Palma Violets, por entre o volume estridente colocado hoje neste palco. Se foi exigência da banda ou de um técnico de som meio-surdo, não sabemos, mas lá conseguimos escutar poderosas canções de 180 (o seu álbum de estreia) com o single "Best of Friends" a ser cantado em uníssono pelo público.

Palma Violets

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Terminámos o festival deste ano, para escutar pela segunda vez este ano os Wild Beasts no Coliseu dos Recreios. Depois de este ano já terem vindo, pela mão da Vodafone, ao Rock in Rio este quarteto britânico era já um fenómeno de culto, no panorama indie em Portugal. Apesar dos recortes mais eletrónicos do último álbum Present Tense, ainda foi o lado mais rock da banda a despertar mais emoções na plateia, especialmente o final com "A Dog´s Life" e, já no encore "Wanderlust" (a mais aplaudida), "At the King’s Men" e "Lion’s Share". Foi segundo muitas opiniões ouvidas, dos melhores concertos do festival e, para nós, uma bela despedida este ano.

Wild Beasts

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Em 2015 esperamos por nova viagem pela Avenida, se possível, mais alargada na distribuição de salas e mais organizada nas entradas, saídas e lotação dos espaços (algo que parece continuar a ser ignorado pela promotora).

Ambiente Vodafone Mexefest

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Fotos: Eduardo Alberto/Oporto Agency
Texto: Miguel Lopes e Joana Olivença c/ Oporto Agency