U2 na Altice Arena: os domingos nunca mais serão sangrentos

Foi em 1976 que a grande e longa história dos irlandeses U2 teve início. Juntaram-se em resposta a um anúncio – "músicos, precisam-se!" – e mais de 40 anos depois continuam a marcar gerações sem nunca cair na repetitividade mas sempre mantendo os traços musicais que tão bem os distinguem. Na noite passada os U2 inauguraram a primeira de duas atuações da eXPERIENCE + iNNOCENCE Tour na Altice Arena, encantando Lisboa com um ambicioso e incrível espetáculo.

O concerto estava agendado para as 21 horas mas ainda não eram nove da manhã quando os fãs começaram a preencher os arredores da arena aguardando ansiosamente a chegada dos icónicos U2. E enquanto os fanáticos que esgotaram a Altice Arena os esperavam na rua, no interior um enorme sistema de som, luz e vídeo já estava pronto e prometia impressionar.

Fugindo à pontualidade britânica, o espetáculo começou com 20 minutos de atraso, mas a espera valeu mais que a pena. A introdução foi feita em tom crítico com um excerto do filme do Charlie Chaplin, O Grande Ditador, e imagens do pós-guerra nos vários países europeus afetados. E foi dentro do enorme ecrã colocado ao centro da Arena que os U2 tocaram os primeiros temas. "The Blackout" deu o pontapé de saída e não tardou para que se recordasse um dos maiores clássicos do conjunto "I Will Follow", que deixou a audiência ao rubro.

A digressão iNNOCENCE + eXPERIENCE começou em 2015 com o lançamento do álbum Songs Of Innocence editado em 2014. Este ano, com o lançamento do álbum Songs Of Experience a digressão de há 3 anos teve finalmente direito a sequela. No entanto, este novo formato é muito mais completo e complexo que o anterior. O vídeo e a luz impressionaram, mas foi o som 360⁰ desenhado por Joe O'Herlihy que mais impactou tendo em conta que permitiu que todo o público tivesse uma experiência sonora agradável, o que nem sempre (ou quase nunca) acontece na Altice Arena.

Outrora adolescentes, os agora cinquentões Adam Clayton, Bono Vox, Larry Mullen e The Edge mantêm a energia em palco como jovens – sem nunca descurar as qualidades musicais. Em pouco mais de duas horas, o quarteto de Dublin impressionou a plateia com a mais variada paleta de surpresas. Brincadeiras com a tecnologia de mudança de cara no ecrã gigante, críticas fortes (e irónicas) ao fascismo e à tirania, homenagens à mãe de Bono e discursos em português são alguns dos presentes que os U2 ofereceram à plateia na noite que passou.

E, embora o foco fosse dado aos dois últimos álbuns do conjunto, é claro que no alinhamento não faltaram alguns dos temas mais icónicos da banda de Dublin. Começaram com a primeira música do álbum de estreia, "I Will Follow", mas outros clássicos não ficaram esquecidos: "Sunday Bloody Sunday" e "New Year's Day", ambos do álbum War de 1993, "Elevation", de 2000, e também, mas não só, "Vertigo" do álbum How To Dismantle An Atomic Bomb, ecoaram na arena. "City Of Blinding Lights" foi a canção que marcou a primeira saída de palco do aclamado quarteto irlandês.

Chegada a hora do encore, Bono Vox aproveitou para mencionar o movimento #womenoftheworldtakeover que tem como canção oficial o tema de Ivor Cutler popularizado por Jim O'Rourke ao qual a portuguesa Ana Moura dá voz nos concertos de Lisboa. "One", "Love Is Bigger Than Anything In Its Way" e "13 (There Is A Light)" foram os temas que marcaram o final do espetáculo e a saída de Bono foi feita da forma habitual, pela plateia, no meio da audiência. O espetáculo repete-se novamente na noite de hoje e a garantia é que serão mais duas horas muito bem passadas na Altice Arena. Esperemos que desta vez não tenhamos que esperar mais oito anos pelo retorno dos incríveis U2 a solo luso.

Alinhamento
The Blackout
Lights of Home
I Will Follow
Red Flag Day
Beautiful Day
The Ocean
Iris
Cedarwood Road
Sunday Bloody Sunday
Until the End of the World
Elevation
Vertigo
Even Better Than the Real Thing
Acrobat
You're The Best Thing About Me
Summer of Love
Pride
Get Out of Your Own Way
New Year's Day
City of Blinding Lights
Encore
One
Love is Bigger Than Anything in Its Way
There Is a Light

Fotografia: Danny North/U2
Texto: Maria Roldão