The Gift @ Coliseu do Porto


Explosiva Primavera em plena noite de inverno.

Três horas. Foi durante três horas que a banda de Alcobaça deu um espetáculo fora do normal no Coliseu do Porto.
Tal qual uma peça de teatro, em que a cenografia foi pensada até ao mais pequeno pormenor, o espetáculo dividiu-se em cinco atos. Entre um e outro ato, Álvaro Costa, o radialista e comentador pop mais portuense das redondezas, intervinha em jeito de apresentador, anunciando a banda e prometendo a todos os presentes um espetáculo mágico, cheio de surpresas (não só musicais) e muitos momentos bem passados.

Num coliseu completamente lotado, em que até os jornalistas e os fotógrafos tiveram de ficar de pé durante todo o espetáculo, foi de sucessos, de muitos e antigos sucessos, que se fez este concerto. Vários foram os álbuns revisitados, várias foram as músicas cantadas numa voz só, por toda a sala de espetáculos mais emblemática da Mui Nobre Invicta.

No primeiro ato, Primavera ecoou com sete músicas. O disco mais introspetivo e melódico da banda abriu o espetáculo com "Black", ainda sem Sónia Tavares em palco. Seguiram-se "Are You Near?", "Open Window", "Senschut", que contou com uma apresentação peculiar onde vimos a excêntrica alcobacense a fazer de carapau seco, como os que tanto se veem a secar na Nazaré, "Meaning Of Life", "Les Tulipes de Mon Jardin" e a tão esperada e aclamada homónima do álbum, "Primavera". A cortina ostentada sob o palco fecha-se, deixando Sónia Tavares e Nuno Goncalves na frente. Com um pequeno piano na mão, dirigem-se para o meio do público, que com surpresa os recebe e é presenteado com uma versão de "Fácil de Entender", quase acapella.
Primeiro ato termina. Vemos novamente um Álvaro Costa de palanque montado no meio da plateia, com um foco de luz a apontar para si e a preparar o público para mais um momento de magia.

O segundo ato mudou de poiso. O palco já não era suficiente e uma mudança pareceu mais do que necessária. Eis que, num camarote fechado, aparecem os sete músicos, apetrechados de instrumentos e microfones, para uma pequena sessão acústica, preparados para pôr um coliseu em pé e a cantar todas as músicas; hits foram o que escolheram para cantar a alguns metros do chão. "Five Minutes", "Me, Myself and I" e "Ok! Do You Want Something Simple?" ecoaram na sala cheia.

Com o terceiro ato, vieram mais algumas old songs. Com um ciclorama branco e uma tela semi-transparente à frente do palco, causando um jogo de silhuetas com os membros da banda, ouviram-se os primeiros acordes de "Music". A tela caio a meio da música, e o público soltou-se. Seguiram-se "Driving You Slow", "11:33", "1977", dedicada a todos os presentes nascidos nesse ano, e "Front Of".

E ainda mais dois atos estavam para vir. Explode e New Explode, ouviram-se no quarto e quinto ato. Os sucessos do mais recente álbum da banda formada em 1994 pelos músicos, foram guardados para fim, para marcarem uma explosão de cor, luz, e cenografia excêntrica. "RGB", "Made For You", "Race Is Long" e "Always Better If You Wait The Sunrise!"; houve tempo ainda para a apresentação de uma canção nova, "Doctor", apresentada por Nuno Gonçalves que fez até uma piada, perguntando quem tinha estado no Coliseu dos Recreios, pois seriam os únicos a reconhecer a música – cerca de 10 pessoas levantaram o braço, levando Nuno a comentar "então foram vocês que 10 que compraram bilhete para Lisboa!", claramente uma piada, sendo que também em Lisboa o espetáculo esgotou. "The Singles" foi o último tema a ser cantado; o primeiro single do último trabalho, que já serviu de banda sonora de campanhas publicitárias, foi cantado juntamente com um espetáculo de cores característico deste último álbum, e com uma Sónia Tavares enérgica como estamos habituados.
A banda saiu então de palco, deixando a plateia extasiada e anestesiada, para voltar minutos depois para o primeiro de dois encores. "645" e "In Repeat" foram os escolhidos para este primeiro regresso ao palco, e contaram com um desabafo da vocalista que confessou estar com medo que o público não os chamasse de volta.

O final do primeiro encore deu azo ao regresso de Álvaro Costa, desta vez em palco, deixando o palanque do costume sem ser pisado. Apresenta a banda como sendo uma das mais carismáticas bandas portuguesas e que reforçou que todos deveriam dar o devido valor aos artistas que realmente merecem. E enquanto enchia o coliseu de palavras de incentivo à música, eis que os sete gigantes da música entram pela porta de acesso à plateia, passando pelo público e sentando-se nas cadeiras de alguns fãs para um tipo de jam session. "Aquatica" foi o tema escolhido para essa sessão acústica, onde contavam apenas com dois microfones, levando Nuno Gonçalves a implorar ao público silêncio, para tornar aquele momento possível. E assim, com um aglomerar de pessoas no centro da plateia, terminou um concerto de que pouco se falou mas ainda tinha muito para contar.

Os The Gift usaram e abusaram do coliseu, fizeram 30 por uma linha do recinto e dos presentes, e todos adoraram a irreverência. Até breve, num próximo coliseu esgotado.

Alinhamento:
I Ato "Primavera"
Black
Are You Near?
Open Window
Senschut
Meaning Of Life
Les Tulipes de Mon Jardin
primavera
Fácil de Entender
II Ato "Acústico"
Five Minutes
Me, Myself and I
Ok! Do You Want Something Simple?
III Ato "Old Songs"
Music
Driving You Slow
11:33
1977
Front Of
IV Ato "Explode"
RGB
Made For You
Race Is Long
Always Is Better If You Wait The Sunrise
V Ato "New Explode"
Doctor
The Singles
Encore:
645
In Repeat
Encore 2:
Aquatica

Fotos e Texto: Marta Ribeiro