Super Bock Super Rock: Regresso ao Meco com um festival para os pequeninos


Super Bock Super Rock: Regresso ao Meco com um festival para os pequeninos

Quatro anos depois, o Super Bock Super Rock regressou ao Meco, a pedido de muitas famílias. Terá sido um reconhecer de um erro ou a continuação do desnorte que tem sido o festival nos últimos anos?

O recinto sofreu alterações, especialmente na sua colocação, passando para a zona em que antigamente era o parque de estacionamento. Isto fez com que parecesse maior, mas retirou as já poucas sombras existentes. No estacionamento e acessos, tudo igual! Informações contraditórias e desinformação da organização e GNR, levaram ao infelizmente comum caos na saída. Foram muitas as queixas de pessoas que levaram 3 horas para sair do estacionamento ou a regressar a casa de autocarro.

Mas como é a música que interessa, a expetativa era também saber se o cartaz melhoraria em relação às edições realizadas no Parque das Nações. Anunciado o cartaz, o SBSR voltou a posicionar-se como um festival de média dimensão, não apresentando grandes nomes e continuando a esquizofrenia de não saber se quer tornar-se um festival que atinge variados públicos ou num segundo Sudoeste.

No primeiro dia, a tarde começou com Marlon Williams, um Elvis "atualizado" com um mullet que parecia agradar às meninas mais jovens e a público mais velho que dividiam as primeiras filas. Apostando na personalidade de performer, agradou a todos e até terminou com uma versão da "sua banda favorita", os Bee Gees.

No palco principal já Cat Power cantava para uma audiência pouco numerosa e pouco interessada. Durante uma hora, Chan Marshall reviu os seus últimos álbuns, passou por uma cover de Lana del Rey (onde se esperava a presença da headliner da noite, o que não chegou a acontecer) e terminou com "Wanderer".

Entre o palco EDP e o Somersby, passaram dos concertos mais animados do dia e foram todos portugueses: Dino d' Santiago, pôs toda a gente a dançar com o seu funaná contemporâneo e é um sério candidato a palcos maiores. Depois de uns Jungle, que defraudaram um pouco as expetativas mostrando-se um pouco "sem sal", foi Branko a voltar a agitar o palco EDP com a apresentação do seu primeiro álbum a solo, maioritariamente no formato DJ set, mas com as presenças de Cosima e de Dino D’ Santiago.

No palco em frente era o "fenómeno" Conan Osiris que entretia a "pequenada" com a fusão de estilos e letras sarcásticas.

Depois de uns Metronomy um pouco enfadonhos, a histeria chega ao palco Super Bock com a chegada de Lana del Rey. As muitas crianças que estavam no festival fizeram-se ouvir durante todo o concerto cantando e gritando pela norte-americana, contrariando a ideia de que o seu imaginário é algo mais adulto. Muito mais solta do que na sua primeira passagem por Portugal, Lana quase não precisou esforçar-se ou cantar. Num palco com palmeiras e um baloiço deu até para descer e tirar demoradamente, selfies com o público, entre canções. O concerto baseou-se em Born to Die mas pudemos ainda ouvir uma cover dos Sublime, "Doin' Time" e duas músicas do seu próximo álbum Norman Fucking Rockwell: "Mariners Apartment Complex" e "Venice Bitch" a finalizar.

O segundo dia, bastante vazio (parece ser regra este ano, depois do mesmo acontecer no NOS Alive), contou com uma luta entre os britânicos Shame e a armada francesa pelos grandes concertos do dia.

A abrir o palco principal, os Shame apresentaram o seu muito aclamado Songs of Praise num concerto suadíssimo e cheio de intensidade. Cruzando a negritude de uns Joy Division com a atitude punk vista também recentemente nuns Idles, a estrela é o vocalista Charlie Steen, um poço inesgotável de energia, que não pára quieto, comunica com o púclico, tira a camisa, faz crowd surfing logo à segunda música e não se importa com as poucas dezenas que assistem ao concerto. Ele e os restantes elementos estão tão satisfeitos como se tocassem para uma multidão. "Shame Shame Shame is our fucking name", diz no final para que não nos esqueçamos! E vamos recordar e pedir mais para breve!

Depois do regresso de Kaló e Raquel Ralha com mais uma banda, os The Twist Connection de novo com o rock mais old school, a armada francesa atraca no Meco (eram, pelo menos 4 a 5 artistas/bandas francesas neste dia). O grande destaque vai para Christine and the Queens e para Heloise Letissier, uma french Madonna que agarrou a audiência desde o início com espetáculo visual minimalista, mas muito bem conseguido. Com vários bailarinos em palco, a dança que se via era contemporânea e não urbana, o ritmo era de pop electrónico e não de hip-hop ou r&b e a mensagem era clara e assumidamente queer. Christine and the Queens foram uma bela surpresa para quem não conhecia e merecem mais e melhor público num futuro concerto no nosso país.

No palco EDP, tocava alguém já bem conhecido, a atriz Charlotte Gainsbourg, filha de Serge Gainsbourg e Jane Birkin e personagem polémica dos filmes de Lars von Trier. Talvez cansada da exposição no cinema, a francesa apresentou-se na sua faceta de cantora, sempre discreta, com poucas palavras e atrás da cenografia composta por grandes quadros luminosos. A música é decalcada dos também franceses Air (com quem trabalha habitualmente), com uma pop eletrónica secundada pela voz doce de Charlotte. Não faltou ainda a polémica "Lemon Incest", gravada com o pai aos 13 anos, a finalizar.

Para o final do dia, os também franceses Phoenix mostraram que, apesar da sua segurança em palco e do seu indie rock orelhudo, não conseguem atrair grande público para serem headliners em Portugal. A banda de Thomas Mars, lançou os hits todos ao início para agarrar o público: "J-Boy", "Lasso", "Entertainment" e "Lisztomania" foram o início sempre a abrir. Depois da algum crowd surfing a aposta final foi no seu álbum "italiano", o último Ti Amo de 2017.

Para o último dia estava guardado o já habitual dia do hip-hop, uma tendência que tem, em alguns anos segurado este Super Bock Super "Rock".

Mais uma vez foi dos dias mais concorridos, talvez para ver a estreia dos Migos em Portugal. Mas pelos vários palcos passaram várias gerações de rappers e em vários estágios de popularidade.

No palco LG, anfiteatro dos mais "jovens", destaque para Pedro Mafama, misturando fado, música arábica e africana. Já no palco EDP, os destaques eram estrangeiros: jamaicano Masego com o seu saxofone cheio de soul, funk e hip-hop; o multi-cultural supergrupo "Superorganism" nascido de encontros na internet e os londrinos Gordon City.

No palco principal, a abertura coube ao bem português Profjam. O artista de Telheiras, acompanhado de Mike El Nite começou a aquecer o público com o seu gangsta rap tuga que tantos hits tem lançado pela rádio. Antes do final com "Água de Coco" ainda contámos com a presença da mãe do artista em palco, num emotivo "À Vontade".

A melhor atuação da noite estava guardada para a já muito conhecida no nosso país Janelle Monáe. No último concerto da "Dirty Computer Experience", dedicada ao seu último álbum, a artista americana não deixou de vincar a sua veia ativista exigindo a impugnação de Donald Trump ou lançando mensagens de luta pelos cidadãos LGBTQI+. Foi por entre coreografias com os bailarinos e roupas extravagantes que apresentou o seu funk pop com muitas referências a Prince.

Antes do final em modo DJ set com os irmãos Lawrence (Disclosure), os norte-americanos Migos estrearam-se em Portugal. Quavo, Offset (também conhecido como o "marido da Cardi B") e Takeoff, acompanhados de DJ Durel, puxaram pelo público durante uma curta hora com os seus êxitos "Stripper Bowl", "Kelly Price" ou "Walk It Talk It", fogo e gelo seco em palco ou até um mosh pit em "Open It Up". Os pedidos de regresso foram muitos.

Como resumo desta edição, podemos dizer que o SBSR faz um regresso ao passado para tentar aguentar-se no futuro. O público é cada vez mais jovem, os cartazes continuam erráticos e as condições apresentadas afastam o público mais exigente, fazendo caminhar o festival para um mini-Sudoeste.

Aguardemos novas edições! A próxima está já marcada para 16, 17 e 18 de julho de 2020.

Fotograxfia Janelle Monáe: Facebook Super Bock Super Rock

Equipa Noite e Música Magazine no Super Bock Super Rock
Textos: Miguel Lopes
Edição: Nelson Tiago