Super Bock Super Rock: dia 1 (17/07), com Massive Attack e Disclosure


Super Bock Super Rock: dia 1 (17/07), com Massive Attack e Disclosure

Ao entrar no recinto do SBSR pouco há a registar pois nada de novo em relação a anos anteriores. Pelo contrário, e apesar de alguns "cromos repetidos" que as promotoras nacionais andam a trocar entre si, o cartaz apresentavam alguns motivos de nota a confirmar ao longo destes três dias.

No palco Antena 3 saltou à vista a maior identificação com a rádio que lhe dá o nome (e que tal como o festival comemora 20 anos de existência), mas também um desinvestimento ao cortar nos grandes nomes da música eletrónica internacional que costumava trazer para animar as late nights do festival substituindo-os pelos "mete-discos" da sua estação.

Para além disso, a mesma aposta na música nacional tendo a abrir os "betinhos do roque" nacional, Ciclo Preparatório, que apesar de parecerem realmente ainda não ter chegado à universidade da música nacional, já conseguem animar a malta mantendo a linha aberta pela moda da Flor Caveira. Beneficiando da participação de Manuel Fúria em "Deixem-nos Brincar", enaltecendo os Sétima Legião em "Por quem não esqueci" ou rolando pelos singles "Lena del Rey" e "A volta ao mundo com a Lena D’Água" lá foram fazendo a festa.

Mais tarde, o já mais adulto Frankie Chavez, mostra cada vez mais maturidade, estando mais solto no seu concerto rock, juntando a bateria, a slide guitar e beneficiando duma tenda muito mais composta.

No palco EDP, a tarde começou com os Million Dollar Lips, a mostrarem um retrocesso evidente a quem os conhece a alguns anos. Não só não evoluíram de uma colagem a bandas 80’s (The Cure, Depeche Mode, etc), como assassinaram "Mistify" dos INXS e desceram a uma versão "carrinhos de choque" de Peter Murphy. A evitar nos próximos tempos!

Segue-se o simpático (e cada vez mais português), Erlend Oye que acompanhado por um flautista e um guitarrista islandês com uma barba maior que Quim Albergaria (PAUS), lá foi contando as suas histórias em formato canção e entretendo o público em inglês, italiano ou francês. Entre conselhos sobre a vida, mulheres italianas, cerveja e a banda Cock Motherfucker que produziu na sua terra natal, o tempo lá foi passando até concertos mais aguardados noutros palcos.

A festa foi feita com a grande formação dos The Cat Empire que, por entre fanfarras ska, folk e rock, puseram uma grande plateia a saltar e dançar.

O grande nome chegava depois com o artista, talvez mais novo do dia: Jake Bugg. Com 20 anos, o cantor e compositor inglês, já goza de grande reputação em Inglaterra e muitos fãs em Portugal. Apenas com 2 álbuns em 2 anos já tocou nos mais reputados festivais ingleses, ganhou prémios e demonstra grande segurança na guitarra e nas letras. Tal como mostrou neste concerto, só lhe faltará mais comunicação e à-vontade com o público para se tornar uma das próximas estrelas à escala global com o seu country-rock influenciado por The Beatles, Rolling Stones ou Neil Young.

Para terminar, apresentou-se um enfadonho Panda Bear que, quase em modo DJ, adormeceu (ou drogou) os presentes com a sua eletrónica narcótica a precisar voltar a outros palcos mais adequados (aguarda-se o regresso à ZDB!).

No que diz respeito ao palco principal, o dia mais classy do festival começou com os californianos Vintage Trouble. Impecavelmente vestidos com fatos de gala (apesar do calor que se fazia sentir), entusiasmaram o ainda pouco público com o seu soul-rock de matriz Motown dos anos 50. Ainda demonstraram as raízes latinas da sua música em "Lo and Behold" e o "Run Baby Run" fez o frontman Ty Talor subir à torre de FOH.

Por entre as nuvens (que correspondiam à sua cenografia de palco) andaram os Metronomy, com uma receção entusiasta por parte do público. O seu synth-pop variava entre a formação de sintetizadores/teclados mais vozes e a mais completa com baixo e bateria. Os britânicos apostaram essencialmente no mais recente Love Letters, com os singles "I’m Aquarius" ou a homónima "Love Letters", "Rerervoir" ou a instrumental "Boy Racers". Eles divertiram-se e nós também!

De seguida a banda mais aguardada pelos restantes músicos presentes neste dia de festival (pelo menos Erlend Oye e os Metronomy referiram isso em palco). Os Tame Impala regressaram ao nosso país depois do concerto moderadamente recebido do Alive e conquistaram, pelo menos os seus já largos fãs. O psicadelismo dos anos 60/70 é espelhado na banda australiana "gerida" por Kevin Parker. As músicas de Innerspeaker (2010) e Lonerism (2012), acompanhadas dos vídeos a rigor soam a 1970’s e não têm pretensões de soar a novo mas ninguém se importa. O hino "Elephant", a bateria de "Tomorrow Never Knows" ou os teclados de "Apocalypse Dreams" fazem todos os presentes entrar numa das melhores trips das suas vidas (com ou sem LSD).

Com estes ácidos e mais alguns, a verdadeira trip da noite aconteceu com os veteranos da noite. Os Massive Attack são daqueles jogadores que nunca jogam mal. Com quase 30 anos de carreira o espetáculo musical, e visual, dos naturais de Bristol nunca perde atualidade. O poder da mensagem é sempre contundente e toca as questões da atualidade mundial e mesmo local (vimos várias marcas portuguesas no meio de tantas outras, mensagens sobre a atualidade nacional e mesmo um "Passos vendido a 16 euros" nos ecrãs). A setlist passou pelos esperados álbuns Blue Lines e Unfinised Sympathy mas também não faltou material novo logo no início. A formação comandada por Robert del Naja e Daddy contou com ainda com os colaboradores habituais: Horace Andy a emprestar o groove a "Girl I Love You", Martina Topley-Bird (que já tinha feito a primeira parte do último concerto do Campo Pequeno) a a soulwoman Deborah Miller. É caso para dizer, que os mestres continuam a ensinar como se faz.

A terminar a noite os recém-promovidos (no ano passado tocaram em palcos menores) Disclosure. Acabados de conquistar Glastonbury, os irmãos Guy e Howard Lawrence entraram já a horas tardias (com 20 minutos de atraso) e fizeram as vezes dos substituídos grandes nomes do palco Antena 3. E com grande melhoria, pode-se dizer! Baseando-se no único álbum Settle, deram uma verdadeira aula de dança atual e contagiante. Apesar da falha técnica que parou durante 5 minutos a emblemática "White Noise", as vozes "emprestadas" de Eliza Doolitle em "You & Me", Jessie Ware em "Confess to Me", Sam Smith em "Latch" e as reconhecíveis "When a Fire Starts to Burn" ou "F For You" fizeram as delícias da noite.

Fotos: João Paulo Wadhoomall/Oporto Agency
Texto: Miguel Lopes c/ Oporto Agency