Rui Veloso na Super Bock Arena: Um Porto rendido às canções de todos nós


Rui Veloso na Super Bock Arena: Um Porto rendido às canções de todos nós

A Super Bock Arena esgotou para assistir ao Blues Rock de Rui Veloso num concerto que foi, mais uma vez, prova de que estamos perante um dos maiores nomes da música em Portugal.



Rui Veloso rima com Porto e o Porto tem as letras de Rui Veloso escritas nas suas "ruelas e calçadas". E que letras. Há uma intemporalidade nestas canções que impressiona. Letras que têm 40 anos e são de agora. Até pode haver vários artistas que esgotam arenas mas há poucos que o fazem como Rui Veloso o faz.

Rui Veloso entrou nesta Super Bock Arena 20 minutos depois da hora combinada – "Atrasamos alguns minutos porque o trânsito está caótico e queríamos que as pessoas conseguissem ver o espetáculo completo". E que espetáculo. Foram duas horas e meia de música e, se não me falharam as contas, umas 31 canções.

Quando se tem 40 anos de carreira e um reportório como Rui Veloso tem, não se faz um concerto em menos de duas horas. Podíamos dizer que não faltou nenhum clássico, mas os amantes da "Gargantilha" e da "Canção de Alterne" sentir-se-iam traídos.

"Guardador de Margens" foi a primeira a entoar neste novo Palácio de Cristal. Ao início sentiu-se um certo eco mas foi prontamente reparado e deu lugar a uma sonoridade acolhedora que nos envolveu nas pautas deste concerto. Em palco, uma equipa de músicos que esteve irrepreensível. À guitarra e harmónica de Rui Veloso, juntaram-se baixo, teclados, saxofone, back vocals, percussão, bateria, guitarra e a participação pontual da harmónica de António Serrano.

Foram inúmeros os momentos que poderia aqui apontar. Rui Veloso foi conversando bastante com a plateia e não escondeu o carinho especial que tem em atuar naquela que é a sua cidade. O seu Porto.

Ouviram-se temas menos conhecidos como "A Origem do Mal", "Guadiana" e até o "Elétrico Amarelo" que Rui Veloso nunca gravou.

Mas não faltaram "As Regras da Sensatez" nem o "Primeiro Beijo" que foi uma "Jura" não cumprida. Neste espetáculo, "O Prometido é Devido" e só foi pena que Rui Veloso não tivesse "Todo o Tempo do Mundo" para ficar connosco nesta sala que ficou pequena para tanta música.

"Porto Côvo", "Já não há Canções de Amor" e "Não me Mintas" antecederam a entrada de Bezegol para interpretar, junto de Rui Veloso, o tema "Maria", que partilham desde 2016. Mas foi com o icónico "Chico Fininho" que o artista encerrou o tempo regulamentar.

Quando Rui Veloso se despediu da plateia ainda havia muito para cantar. Um encore que, se fosse satisfazer todos os presentes, daria mais um concerto.

"Não Há Estrelas no Céu" e "Anel de Rubi" chegaram finalmente à Super Bock Arena e foram a prova de que o nome de Rui Veloso já se confunde com a nossa essência. Esta arena entoou cada palavra como se fosse sua e Rui Veloso assistiu como um maestro que ia gesticulando para o ritmo não se perder. Um coro que poucos artistas se podem gabar. E ainda faltava "esta canção que nos diz tanto, a todos". Sem surpresas escutou-se "Porto Sentido" como um embalo para um público que tão bem conhece este "milhafre ferido na asa".

"Agora vou cantar uma música de Natal" – A declaração caiu em graça visto que, para todos os efeitos, este era um concerto anunciado como sendo de Natal. Momento então de escutar o "Presépio de Lata" que foi escrito em 1998.

Terminava assim o espetáculo. Agradecimentos feitos, as pessoas já se encaminhavam para as escadas quando Rui Veloso decidiu que ia cantar mais uma. "Vou fazer mais uma mas podem ir andando que eu fico aqui a cantar" – brincou o artista. Soou então o "Cavaleiro Andante" que muitos já nem esperavam ouvir.

Rui Veloso é um nome incontornável da música portuguesa. Há muito poucos que fazem o que este artista fez nesta noite. Embalar milhares de pessoas como se de uma sala pequena se tratasse e levá-las numa viagem de canções que já são a história de um povo. Senhoras e senhores, isto é um caso sério de sucesso.

Fotografia: António Teixeira
Texto: Daniela Fonseca