NOS Alive'23: Do revivalismo de Red Hot Chili Peppers ao salto quântico com o gigante Jacob Collier


NOS Alive'23: Do revivalismo de Red Hot Chili Peppers ao salto quântico com o gigante Jacob Collier

A 15ª edição do NOS Alive arrancou esta quinta-feira com um regresso programado aos tempos de liceu, às tardes solarengas de praia e às roadtrips de verão, onde as músicas de Red Hot Chili Peppers eram ouvidas on repeat entre amigos. Além da banda californiana, o primeiro dia de festival contou, também, com The Black Keys como cabeças de cartaz, antevendo-se um encontro de gerações amantes de rock.

The Driver Era, dupla americana formada pelos irmãos Rocky e Ross Lynch, e os excêntricos Puscifer inauguraram o Palco NOS, mas não cativaram, enquanto no Palco Heineken decorriam os concertos de Femme Falafel e Men I Trust, numa atmosfera de descontração e aparente normalidade. No entanto, se existe uma linha que separa um antes e um depois, essa linha chama-se Jacob Collier.

Pelas 20h35, o artista britânico, subiu a palco e mudou radicalmente a energia do primeiro dia de festival. Num estilo musical difícil de definir, mas que reúne influências que navegam entre o jazz, pop e música clássica e uma extraordinária capacidade vocal, capaz de arrepiar até o menos sensível, seduziu e hipnotizou todos os presentes com a sua versatilidade. Sempre interativo e visivelmente feliz, recrutou um público bastante participativo e que se fez ouvir em temas como "The Sun Is In Your Eyes" e "All I Need". No entanto, foi com "Can't Help Falling In Love" de Elvis Presley e "Somebody To Love" dos Queen, que se cantou em plenos pulmões pela primeira vez nesta edição do NOS Alive. O final do concerto ficou marcado por um momento especial e que contou com a participação da portuguesa Maro, mas que não beneficiou da agitação e movimento em direção ao Palco NOS para o concerto dos The Black Keys. Naquele que foi um dos melhores concertos do dia, fica o sabor agridoce e a questão que não quer calar: Não teria merecido, Jacob Collier, o Palco NOS?

Jacob Collier @ NOS Alive 2023

Às 21h30, The Black Keys subiram ao Palco NOS para um dos concertos mais esperados da noite. Para aqueles que viram a dupla americana em 2014 e, ainda hoje, guardam na memória aquele concerto memorável, talvez seja difícil de explicar por palavras o sentimento que ficou depois deste regresso, 9 anos volvidos. Talvez a expectativa fosse elevada, talvez a qualidade do som não tenha ajudado Dan Auerbach e Patrick Carney, mas a verdade é que não ouve faísca e a pujança de outros tempos. "I Got Mine" abriu as hostes e, desde logo, se percebeu a falta de vigor. O ambiente estava morno e nem trunfos como "Tighten Up", "Fever" ou "Howlin’ For You" foram suficientes para reforçar a química com o público.  Com "Gold On The Celling" ficou a sensação de que este estava ávido por mais, mas a falta de power da bateria de Carney e da guitarra de Auerbach traduziu-se no chamado "morrer na praia". Antes do encore, ouviu-se ainda "Wild Child", tema do álbum Dropout Boggie, lançado em 2022. A mística "Little Black Submarines" e a icónica "Lonely Boy" encerraram um concerto que não encheu as medidas.

The Black Keys @ NOS Alive 2023

Restava o regresso de Red Hot Chili Peppers, desta vez com John Frusciante, para devolver vitalidade e cor a quem esperava ansiosamente por uma das maiores bandas de sempre. Prestes a completar 40 anos de formação, a banda de Anthony Kiedis continua a arrastar multidões e a marcar gerações. Se por um lado é inevitável um feeling de regresso aquele ano de 1996, em plena adolescência, quando a vida era bem mais simples, despreocupada e sem grandes responsabilidades, por outro, os dois álbuns lançados em 2022 mostram que a banda mantém a capacidade de marcar a vida de novas gerações. Red Hot Chili Peppers apresentaram-se com uma jam insana entre John Frusciante e Flea, seguida de uma explosão de energia nos primeiros acordes de "Can't Stop". Seguiram-se os êxitos "Universally Speaking" e "Dani California" e um público ao rubro. Apesar de uma carreira recheada de sucessos houve, ainda, espaço para temas do Unlimited Love, álbum de 2022, como "The Heavy Wing" e "Black Summer", mas foram temas de outros tempos como "Suck My Kiss", "Soul To Squeeze", "Tell Me Baby" e "Californication" que fizeram o público vibrar. "By The Way" foi o último tema antes do encore e, como não poderia deixar de ser, foi cantado em plenos pulmões. Para o encore ficaram "Under The Bridge" e "Give It Away". Ficaram por tocar temas como "Scar Tissue", "Otherside" e "Snow", ausências sentidas pelos fãs, mas com 40 anos de êxitos escolhas têm de ser feitas. Valeu pelas guitarradas monumentais de Frusciante, a energia e simpatia contagiante de Flea e a qualidade vocal de Kiedis, que nos transportaram para aquelas tardes de estudo ou de convívio entre amigos, onde o CD da banda era sempre o mais pedido. Embora o concerto não tenha superado as expectativas, parafraseando Anthony Kiedis, "teremos sempre esta noite juntos".

Red Hot Chili Peppers @ NOS Alive 2023

Texto: Ana Rosinhas
Noite e Música Magazine no NOS Alive com o apoio dos hotéis GAT ROOMS