Meo Marés Vivas: 2º dia, 19 de julho


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Casa a rebentar pelas costuras (25 mil pessoas a dançar), para assistir ao dia de pop, sintetizadores e umas quantas guitarras, enquadradas num cenário de luzes psicadélicas.

O relógio marcava 20h30 e Orelha Negra – os bons rapazes Sam the Kid, Dj Cruzfader, Fred, Francisco Rebelo e João Gomes – já estavam de olho na mesa de mistura, nas baquetas, teclas e instrumentos de cordas, para a demonstração de talento que, poucos mas bons, aguardavam. Ouviram-se remisturas de clássicos do hip hop, com samples tirados de preciosidades musicais, loops funk, influências reggae que foram dar um passeio com as vozes masculinas do jazz e do soul Motown. A sintonia rítmica, entre a banda e a vertente eletrónica, causaram movimentos de anca à Flashdance e arrepios a cada transição. Os mestres levaram até à praia, registos breve de clássicos como "Groove is in the Heart" (Deee-lite), "I’ve got power" (Snap), "Jump" (Kriss Kross) e "U Can’t Touch This" (MC Hammer). Os pontos altos chegaram com os melodiosos e queridos singles "M.I.R.I.A.M.", "Since You’ve Been Gone", "Throwback" e "Bastidores", com as rimas de Valete.

O público ia chegando, o que se safava do transito e das filas de entrada, e o que saía do concerto de Márcia, subtil e de encantos acústicos. A lua estava alta e La Roux, a senhora de pompadour, entra em palco para animar os resistentes colados às grades.

A pontualidade inglesa não falhou e "In for the Kill" entrou, realmente, a matar. Elly Jackson aparece mais contida, menos extravagante, a desfilar pelo cenário, embalada pelo disco, pop e espasmos sintetizados. A voz varia entre uma ligeira rouquidão e agudos, e o alinhamento vai de "Quicksand" – o single de apresentação do álbum de caloira – aos novos "Sexoteque", "Kiss and Not Tell" e "Tropical Chancer". "Bulletproof", infalível e uma valente bala de synthpop, demonstra que o passado é bom mas o futuro é, surpreendentemente, promissor.

Animadores da rádio oficial do festival, subiram ao palco para uma energética partilha com a plateia. O hino, depois de ter passado (vezes sem conta) no airplay Marés Vivas, cantou-se de pulmões cheios e Vasco Palmeirim andou de barco insuflável, num crowdsurfing à Steve Aoki.

Começam os aquecimentos vocais, puxam-se os lenços de papel da mochila e controla-se a emoção, até à entrada de James "Pinga-Amor" Morrison. O género feminino, de todas as gerações possíveis naquela noite, deixou-se derreter pela aparência e pelas palavras que o jovem cantor distribuía, em dinâmicas slow e outras canções mais animadas. Os homens, com cara de quem não se deixa impressionar com facilidade, iam dando beijinhos à cara metade e outros sorriam assertivos – "You sound good and look awesome, good times!".

"In my dreams", um tema escrito após a morte do seu pai, foi dedicado aos entusiastas portugueses. "Pieces Don’t Fit Anymore" coordenou o baloiçar de braços e "Broken Strings" (sem o acompanhamento de Nelly Furtado) fez as delicias (até) das pessoas penduradas no muro que limitava o recinto. Não faltou a tentativa de comunicação em português, com "obrigado" e "muito bem" que causaram delírio.

Ao piano, tocou um mashup de "People Get Ready", cantado em tempos pelos The Impressions, com "Precious Love". E com o tempo de antena a chegar ao fim, veio o tema que tornou possível, toda esta aventura musical, "You Give Me Something". Para o encore ficou guardado o pop meloso e suave, de guitarras em choro blues e grão na voz, a dois tempos – "The Awakening" e "Wonderful World".

David Guetta, o homem da noite – num pedestal a 3 metros do chão e com a promessa de transformar o Marés Vivas na maior pista de dança do mundo – vinha munido de um aparato visual planetário e uma orquestra sinfónica de beats e rave. Luzes capazes de causar convulsões, criaram dimensões psicadélicas que atravessavam o espetro do sonoro, desde drum’n’bass ao dubstep.

As produções de doutrina pop, iniciaram a noite com "Play Hard", o mais recente single em colaboração com Ne-Yo (e Akon), e uma introdução pesada de "Song 2", dos Blur. Guetta vai recebendo o ânimo coletivo de braço abertos e, àquela altura, personificava um Cristo Rei, loiro! "Love don’t let me go" foi retirado do baú, para contentamento de apreciadores de uma casta mais antiga.

"Titaninum", vociferado por Sia Furler, ouve-se do outro lado do Douro. "I need your love", tema de Ellie Goulding e Calvin Harris, e "Memories", onde Kid Kudi desafia todos a perderem o controlo, fizeram parte da cerimónia incendiária e pirotécnica, à responsabilidade do DJ francês.

Agora, aguarda-se pela última noite de Meo Marés Vivas, com especial destaque para a banda de Jared Leto e companhia, 30 Seconds To Mars, que fizeram esgotar bilhetes antecipadamente. Virgem Suta prometem animar a malta, os Klaxons trazem o indie rock britânico até Gaia e Rui Veloso, junta-se às festividades, com um panóplia de guitarras, de fazer chorar de inveja.

Fotos: Nuno Fangueiro
Texto: Sara Fidalgo