Jafumega @ Coliseu do Porto: um reencontro feliz


Algo que sempre me fez confusão nos concertos dos Coliseus é a presença das cadeiras em concertos de pop/rock. É tão estranho ver as pessoas aos "pinotes" nas cadeiras com vontade de dançar e não o fazer, tem de haver sempre uma pessoa, uma música… que vá aos poucos libertando os presentes das cadeiras de tortura. No concerto dos Jafumega, isto foi acontecendo em pequenas ondas, primeiro com "Dá-me Lume", depois com "Kasbah" até que praticamente todos se soltaram e como se de uma viagem no tempo se tratara dançaram e cantaram ao som desta banda mítica do panorama pop nacional dos anos 80.

Apesar do Coliseu não ter enchido na sua totalidade, deu para sentir que as pessoas gostam destes concertos comemorativos e de reencontro e que não é necessário um disco novo para se organizarem concertos deste tipo, bastam as memórias da música portuguesa e as de cada um claro! É giro estar a observar as pessoas e ver na sua cara que com cada música vem ao seu corpo-mente memórias vividas e os Jafumega, sem dúvida, fazem parte da banda sonora pessoal de muitos dos que assistiram ao reencontro da banda portuense 30 anos depois.

A banda surgiu com a sua formação de sempre, que inclui as presenças de Luís Portugal (voz), Mário Barreiros (guitarra), Eugénio Barreiros (voz, e teclas), Pedro Barreiros (baixo), José Nogueira (saxofone e teclas) e Álvaro Marques (bateria). Os Jafumega contaram ainda com o apoio de Miguel Ferreira (Clã) nos teclados e coros, de Rui Vilhena (Vozes da Rádio) nas guitarras e coros.

E neste reencontro houve espaço para lembrar que já passaram 30 anos, apesar de haver "coisas" que na verdade, permanecem exatamente igual e que temas como "Só Sai a Ti (Society)" continuam bastante atuais.

E em concertos deste tipo não podem faltar convidados: o primeiro deles Jorge Palma que subiu ao palco para acompanhar os Jafumega no tema "Homem da Rádio" e assim agradecer a todos os homens da rádio que ao longo dos anos vão apoiando a música portuguesa. Mais à frente foi a vez do "jovem promissor" Pedro Abrunhosa com "Nó Cego", que acabou por animar mais alguns intimidados pelas cadeiras a marcar o seu pezinho de dança e algum mais atrevido até o fez junto ao palco.

Também houve tempo para relembrar que as palavras do Jafumega nem sempre foram em português e podemos recordar temas do primeiro disco, "Estamos Aí" como famoso tema "Keep Your Girl", também houve espaço para recordar poetas como António Aleixo ou Florbela Espanca.

Mas sem dúvida alguma um dos momentos altos da noite, onde as cadeiras de tortura terminaram por perder a batalha de manter toda a gente sentada, foi com "Ribeira" e a incontornável "Latin' América", um dos hinos dos Jafumega que todos alguma vez já cantarolamos. E com este hino os Jafumega despedem-se e abandonam o palco mas por apenas um par de minutos para o encore e mais convidados… e mais dança com "Romaria" como avisa a letra "Toca a banda no coreto, que vontade de dançar".

Depois da dança animada no coreto (coliseu) veio o momento dos agradecimentos e da partilha de mensagens politicas, especialmente uma dirigida diretamente a autarquia da cidade do Porto que nos últimos tempos não tem sido nada amiga da cultura e foi neste ambiente de agradecimento e mensagem politica que cantaram mais um tema, "Assim não", na companhia de Capicua ao lado do rapper DEAU, exigindo nas rimas e na atitude mais respeito pela cultura e pelos jovens obrigados a emigrar. Para mim foi certamente um dos melhores momentos musicais da noite. Para fechar a noite voltaram a tocar o tema "Ribeira" e fechar com chave de ouro. Para os que não assistiram ao concerto mas ficaram com vontade, fica a nota que foi registado em vídeo para posterior edição em DVD.

Para as novas gerações que não conhecem muito da história da música portuguesa aqui fica uma breve nota sobre a banda:

Os Jafumega surgiram em finais dos anos 70 na sequência do fim dos Mini Pop, trio que juntara os irmãos Barreiros desde 1969 e que chegou a gravar uma série de discos entre 1971 e 73. Estrearam-se em disco com o álbum Estamos Aí (Metro Som, 1980), cantado em inglês. Ganham contudo visibilidade com um single que lançam em 1981 que, apesar de apresentar Dá-me Lume, chama atenções com Ribeira e que levou à banda sonora desse ano a expressão "a ponte é uma passagem, para a outra margem"… Já com um perfil de grande popularidade editam os álbuns Jáfumega (PolyGram, 1982) e Recados (PolyGram, 1983). Chegam a atuar em Paris, numa mostra de música moderna, mas apesar de anunciarem um possível novo disco em 1985, o projeto não chegou a bom porto e a banda saiu de cena. Em 1990 surgiria uma antologia com o título Jáfumega.

Fotos: Nuno Fangueiro
Texto: Aida Suarez