Chico Buarque ao vivo no Coliseu do Porto: A Caravana passou pelas estradas do Norte [fotos + texto]


Chico Buarque ao vivo no Coliseu do Porto: A Caravana passou pelas estradas do Norte [fotos + texto]

A tournée Caravanas iniciada em outubro do ano passado, marcou o regresso do cantor e poeta brasileiro ao Coliseu do Porto. Num concerto em que o tempo pareceu escasso para tamanha carreira, foi apresentado o álbum Caravanas e houve lugar para revisitar alguns êxitos do cantor brasileiro.

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"Minha embaixada chegou, Deixem meu povo passar, Meu povo pede licença, Pra na batucada desacatar". Foi entoando estes versos que Chico Buarque se mostrou no palco do Coliseu, às 21:35h deste sábado. Com a classe de um artista cuja carreira ultrapassa os 50 anos e 38 álbuns editados, esta figura da música brasileira apresentou-se, como é seu costume, com uma postura sóbria, deixando a sua música falar por si.

O concerto foi uma homenagem a uma figura importante da sua banda, o baterista Wilson das Neves, que acompanhou Chico Buarque ao longo de 30 anos e que faleceu no ano transato. A música "Grande Hotel", escrita pelos dois artistas, foi a referência dessa homenagem.

O concerto seguiu o alinhamento comum da tournée, sem espaço para grandes alterações, como é costume de Chico Buarque. Os seus espetáculos têm por base uma mensagem que se pretende que seja passada de igual forma a todos. Após a música "Minha Embaixada Chegou" seguiu-se "Mabembe", um dos temas mais antigos do cantor e escritor brasileiro de 73 anos. "Partido Alto" foi a música seguinte, originalmente em dueto com Caetano Veloso, este sábado entoada a solo. Prosseguiu para "Yolanda", música da co-autoria de Pablo Milanés e que conta com uma versão em espanhol.

A apresentação do álbum Caravanas, propriamente dita, começou a partir de "Casualmente", composição em espanhol, influência das amizades cubanas de Chico Buarque traduzidas num bolero romântico. "A Moça do Sonho" e "Dueto" são canções que constaram também deste concerto, embora incluídas em Caravanas, não são composições inéditas de Chico. Esta última composição baseia-se originalmente num dueto com a sua neta, Clara Buarque, substituída pela voz de Bea Paes Leme nesta tournée.

Com algum humor à mistura, o espetáculo continuou com uma sequência de antigos êxitos conhecidos do público. Recuou-se ao álbum de 1978, Chico Buarque com a música "Homenagem ao Malandro" e, seguidamente a 1985, ao álbum Malandro, através das músicas "A Volta do Malandro" e "Palavra de Mulher", conhecidas de cor pela plateia que sempre que possível cantou em uníssono com o artista carioca.

Embora o espetáculo tenha sido recheado de momentos nostálgicos, poucas músicas causaram tanto impacto na plateia como "As Vitrines" do álbum Almanaque (1981) ou "Sabiá" (escrita por Chico e Tom Jobim). Raras foram as pessoas que não sabiam essas músicas "de trás p'ra frente".

Retornando a Caravanas, Chico interpretou "Jogo de Bola" numa ode a uma das suas grandes paixões, o futebol. "Massarandupió" é o nome da música que se seguiu e simultaneamente o nome de uma praia na Bahia, histórica para as raízes da família de Chico, onde inclusivamente, segundo o próprio, a "filha enterrou o cordão umbilical do seu neto Chico Brown". Curiosamente foi com o seu neto que esta música foi escrita e editada, em mais um dueto de família, embora no concerto tenha sido entoada a solo.

Chico presenteou a plateia com outros tantos clássicos, nomeadamente a notável "Geni e o Zepelim", escrita para a sua Ópera do Malandro (1979); "Futuros Amantes" e "Paratodos", ambas do álbum ParaTodos (1993).

De um concerto de duas horas, é certo que não lhe chegaria 1 dia para cantar todos os seus êxitos. Enumerar todas as canções deste espetáculo retiraria o brilho que uma atuação deste requinte merece. Através de um jogo de luzes simples e muito eficaz, sobressaiu a banda, rica em experiência e virtuosismo, e, claro, o talento elegante de Chico Buarque, numa noite em que a música foi o principal destaque.

Com um estilo muito próprio, conciliando Samba, Blues, com algum Jazz e Bossa-Nova, Chico Buarque mostrou, sem grande esforço, porque é um dos grandes artistas deste século, "na estrada há muitos anos".

Fotos: António Teixeira
Texto: Gonçalo Neves