Amor Electro @ Coliseu dos Recreios


Os Amor Electro juntaram-se à Orquestra Fantasma para fechar com chave de ouro uma digressão de mais de um ano e meio, na sala mais portuguesa de Portugal.

Estava uma noite chuvosa, mas a entrada do Coliseu dos Recreios apresentava-se bem composta. Contudo na plateia existiam alguns lugares livres. O relógio marcava as 21 horas e 50 minutos quando as luzes se apagam e a Orquestra Fantasma começa a entrar em palco, por detrás de um pano onde são exibidas algumas imagens dos membros da banda e da orquestra. Ricardo Vasconcelos (piano), Rui Rechena (baixo), Tiago Pais Dias (guitarra, sintetizadores, acordeão) e Marisa Liz (voz) estão em palco e assim que cai o pano já se ecoa nos recantos do coliseu "No Teu Poema", original de Carlos Paredes. Marisa Liz, que trazia um curto vestido mostrou que é uma mulher de palco e que sentia cada acorde tocado pela banda, mostrou-se sorridente, recebendo o público com "Boa noite Coliseu dos Recreios! Muito obrigada a todos por terem vindo, é um prazer enorme passado tantos anos a tocar em nosso nome na sala mais portuguesa de sempre!".

 A presença da Orquestra Fantasma no concerto veio dar um novo tom a cada música (principalmente com a inclusão de vários violinos), não destoando nunca da sonorosidade da banda.

O concerto contou também com a presença de vários convidados. O primeiro foi Hélder Moutinho que, logo após "O Amor É Maior Que a Vida" (música escrita por Mariza e composta pelo Tiago Pais Dias que foi interpretada pela Joana Leite no Festival da Canção do corrente ano), entra em palco a tempo de dar continuidade às palavras iniciais da "Bem Vindo ao Passado". A junção das duas vozes foi recebida por um caloroso aplauso do público, originando um dos vários momentos fortes da noite.

Ao estilo da "We Will Rock You" dos Queen, Mariza descalçou os sapatos e meteu toda a plateia a bater palmas para despertar o fantasma dos Ornatos Violeta que ainda ecoava nas paredes da sala (que tinham pisado o mesmo palco na semana anterior por três vezes) e mostrar o "Capitão Romance" com o corpo dos Amor Electro e a alma da Orquestra Fantasma. O tema recebeu a maior ovação até então.

A cantora confessa "Estamos um bocadinho nervosos, mas está tudo a correr bem não está?". Pede aos presentes que se abracem uns aos outros e apresenta "Onde Tu Me Quiseres" que foi interpretada também pelo segundo convidado da noite; Yami (autor da música). Apesar de não ter sido pronunciado verbalmente esta música mostrou uma forte ligação entre a banda e os fãs que cantavam, dançavam e acenavam de perto do palco.

As luzes apagam-se e entra o convidado mais aplaudido da noite; Carlos Nobre (mais conhecido por Pacman, dos Da Weasel) que transformou as palavras de "Estrela da Noite" (de Fernando Tordo que estava no meio da plateia) num rap que se fundiu na perfeição com o tom eletrónico do instrumental e a poderosa voz da Marisa. Carlos ajoelha-se em palco, beija a mão da cantora e sai, dando lugar a Pedro Oliveira, que de entre a escuridão começou a cantar o refrão da mais conhecida música da sua banda natal; "Sete Mares" imortalizada pelos Sétima Legião. O convidado mostrou que também domina guitarra, entregando o microfone à vocalista da banda. Várias pessoas levantaram-se para aplaudir o grande momento vivido na mais mediática sala da cidade de Lisboa.

No meio do público aparece Tiago Pais Dias (o multi-instrumentista e o grande responsável pela composição dos temas recriados pela banda) agarrado a um teclado, iluminado por um foco de luz e começa a tocar uma pequena introdução. Rapidamente aparece Marisa Liz com um vestido-saia vermelho brilhante e também curto, que se junta ao companheiro (de música e de vida) e dedicam "Rosa Sangue" à filha. A música começou com um ambiente intimista (com um breve beijo da vocalista a Simone de Oliveira que se encontrava na plateia), cresceu de intensidade com violinos e terminou no palco, com a complexidade instrumental da versão original. O público ficou em êxtase com a performance e assim continuou durante "Foram Cardos Foram Prosas".

A cantora já se tinha mostrado orgulhosa de ser portuguesa, contudo decidiu reforçar a ideia quando afirmou que há algo que todos nós temos em comum; "Somos Portugueses". Confessou que iria arriscar cantar a música mais portuguesa de todas. Dirige-se para junto das teclas de Tiago e começa a interpretar o Hino Nacional (A Portuguesa), com um instrumental completamente diferente e com a alma única da cantora que se mostrou muito emocionada. Mais um momento forte ficou marcado na memória dos portugueses que decidiram acabar a noite ao som dos Amor Electro.

A banda sai de palco, mas o público quer mais e a banda volta com "Amanhecer" seguido do primeiro tema original da banda (escrito pela cantora que se desmanchou em agradecimentos a todos os responsáveis por fazerem com que a banda tivesse conseguido pisar o palco do coliseu), "A Máquina (acordou)" que fez toda a plateia se levantar desde o primeiro acorde e acompanhar toda a letra da canção.

Para terminar em grande, a banda evoca Amália Rodrigues com a reconstrução do "Barco Negro" que trouxe os Tocá Rufar pelo meio do público e meteu o coliseu a bater palmas. Foi com todos os convidados, a Orquestra e a Banda alinhados em palco que Marisa Liz agradeceu aos presentes e termina com palavras de ordem; "Não desistam!". Sem dúvida que os presentes esperam que a banda nunca desista de fazer e reconstruir música e que seja sempre na nossa língua materna.

Fotos: João Paulo Wadhoomall
Texto: Bruno Silva