Eneida Marta em entrevista: "Cresci como mulher e como profissional"


Eneida Marta em entrevista: "Cresci como mulher e como profissional"

Estivemos à conversa com umas das mais conceituadas cantoras da Guiné-Bissau na atualidade; Eneida Marta.

Eneida Marta, ícone da música guineense, lançou a 27 de março o seu novo álbum, Nha Sunhu. Este álbum conta com a sua produção e, em relação às letras, para além de ter um tema com autoria própria, na sua grande maioria pertencem a grandes poetas guineenses.

Para além de ser a primeira embaixadora da UNICEF na Guiné-Bissau, Eneida já foi entrevistada pelo programa da CNN "Inside África", e já atuou em showcase na WOMEX.

Os concertos de apresentação do álbum serão a 28 de maio na Casa da Música (Porto) e a 29 de maio na Culturgest (Lisboa).

Noite e Música – Quem é a Eneida Marta?
Eneida Marta – A Eneida Marta é uma filha da Guiné-Bissau, é uma mulher extremamente divertida, alegre, simples, de fácil trato e cantora. Em pequenina participei em concursos em escolas e mas canto profissionalmente há 14 anos, desde 2001.

NM – Sobre que sentimentos gosta de cantar?
EM – Gosto de cantar de tudo um pouco. Gosto de falar de amor, das nossas vivências, da nossa forma de estar na vida, vou tocando em variadíssimos pontos e assuntos…

NM – O que é que mudou desde Nô Storia em 2001?
EM – Mudou muita coisa. Cresci como mulher e como profissional, evolui bastante. Nota-se uma diferença do dia para a noite sem sombra de dúvidas. Aprendi bastante, percorri vários caminhos, com altos e baixos e isso tudo fez com que ficasse mais madura como mulher e como profissional.

NM – Qual o motivo da escolha do título no novo trabalho Nha Sunhu?
EM – Em português o título significa "Meu Sonho". Todos nós temos sonhos, muitos sonhos… Neste momento em termos de prioridade o meu maior sonho é ouvir o nome da Guiné-Bissau de uma forma positiva. O meu segundo maior sonho já se realizou e foi a produção deste álbum. Sempre quis produzir um tema meu nos álbuns anteriores mas não tive oportunidade para isso. Finalmente tive essa oportunidade e produzi os 14 temas deste trabalho. Esses dois fatores fizeram com que escolhesse então este título para o álbum.

NM – Como é que o descreve?
EM – É um álbum que da conselhos em varias situações da vida, principalmente na parte amorosa, política, na nossa forma de estarmos na vida…

NM – Foi fácil a escolha dos poetas guineenses que colaboraram neste trabalho?
EM – Não foi fácil… Cada poema que eu lia achava-o muito bom. Se houvesse maneira de os transformar todos em canções fazia-o sem hesitar. Acabei por passar essa bola a um amigo para ele escolher alguns poemas, sempre de forma orientada. Ele fez essa pré-seleção e eu escolhi-os. Neste disco fiz as coisas um pouco diferentes. Escolhi os poemas que me tocaram. Nós vivemos sentimentos que se repetem e pensei que se algo me toca certamente iria tocar mais alguém porque as coisas repetem-se e foi este o critério que usei na escolha dos poemas. Graças a Deus está a fazer muito sucesso na Guiné-Bissau porque cada pessoa identifica-se com um tema ou dois… Mas não foi fácil.

NM – O single "Kabalindadi" (Maldade) faz parte da banda sonora do multipremiado filme "Espinho da Rosa". Como é ver um tema seu ilustrado no grande ecrã?
EM – É estranho. A primeira vez em que assisti fiquei com um misto de sensações muito estranhas. Não sabia se queria rir ou chorar. Foi muito muito estranho. Não consigo descrever por palavras a sensação, mas era tão boa que não sabia o que fazer. Mas é muito bom.

NM – Ao longo da sua carreira já colaborou com vários músicos (Dom Kikas, Rui Sangara, Aliu Bari ou Iva Ichi). Com quem gostaria de colaborar mas ainda não teve oportunidade?
EM – Sem dúvida. Gostaria muito de vir a colaborar com a Concha Buika que eu adoro, com Andrea Bocelli por quem sou louca e com uma grande cantora, uma grande senhora que é a Simone de Oliveira, por quem tenho uma admiração enorme. Seria uma honra algum dia poder partilhar o palco com ela porque vejo nela uma força e uma coragem enorme. Mas há muitos mais…

NM – O que podemos esperar dos espetáculos de apresentação a 28 de maio na Casa da Música (Porto) e a 29 de maio na Culturgest (Lisboa)?
EM – Vou apresentar praticamente apenas os temas do novo álbum, com exceção de um tema ou outro. Vão haver surpresas, principalmente na Culturgest onde irei ter convidados especiais que não vão ser revelados até à entrada deles em palco. Vai ser um concerto diferente, principalmente pela minha postura; mais madura, mais certa, mais dona de mim… Vão ser dois concertos muito alegres. Em todos os meus concertos as pessoas saem a rir e contentes. São uma boa terapia (risos).

NM – Como se sente por ser a primeira Embaixadora da UNICEF do seu país?
EM – Sinto-me extremamente honrada, principalmente por ser a primeira. A UNICEF está na Guiné-Bissau há mais de 30 anos e nunca tinham tido um embaixador. É uma sensação indescritível, algo que não estava à espera, que me caiu de repente no colo…

NM – Queres deixar uma mensagem aos nossos leitores?
EM – Quero convida-los todos para os meus concertos, não se vão arrepender. Quem quiser conhecer um pouco o meu país, a música do meu país e passar por uma terapia (risos) venham partilhar estes momentos comigo. Vai ser muito especial. Não vai ser um concerto meu, nem da minha banda; vai ser nosso. Venham fazer estes dois grandes concertos comigo.

Entrevista: Bruno Silva