Ana Bacalhau em entrevista: "Eu não sabia quem eu era quando só me representava a mim"


Ana Bacalhau em entrevista: "Eu não sabia quem eu era quando só me representava a mim"

Ana Bacalhau chega a solo ao panorama musical e apresenta-nos o seu Nome Próprio. Poucos meses depois do lançamento do primeiro álbum, a artista falou da sua descoberta enquanto individual e do percurso que tem vindo a percorrer na música.

O nome Ana Bacalhau não nos é certamente estranho mas a verdade é que só chega a solo agora. Foi fácil encontrar a tua identidade enquanto artista a solo?

Pois, por isso é que demorou tanto tempo! (risos). Obviamente que havia o traço da Ana Bacalhau nos trabalhos que fiz, tanto nos Lupanar como nos Deolinda. Na realidade eu sempre tive em bandas e sempre fui uma parte de um conjunto maior, portanto, eu não sabia quem eu era quando só me representava a mim. Esperei até ao momento certo, tanto pela carreira dos Deolinda como pela minha maturidade pessoal e profissional, para tentar descobrir isso. De facto, senti que agora era o momento e, apesar de todas as dúvidas e inseguranças, senti que estava preparada para avançar e descobrir-me como artista a solo.

Ana Bacalhau é uma fadista, uma artista de música popular ou uma fusão de vários géneros?

Eu acho que sou uma fusão, uma mescla! Eu nunca me consegui definir dentro de um território, até mesmo noutras questões como a religião e a política, nunca me consegui rever totalmente num só molde. Eu sempre fui uma mistura de muita coisa e na música também! Tenho influências tão diferentes quanto Amália, Elis Regina, Pearl Jam, Bob Dylan, Janis Joplin, e todas elas me influenciam. Portanto acho que sou mesmo uma fusão, uma mistura.

Este Nome Próprio é o resultado que imaginaste quando começaste esta nova aventura?

É e não é! Ou seja, cumpre aquilo que eu queria que é a representação de um universo pessoal e artístico, mas, como tive a ajuda de uma banda e de um produtor incríveis, todos eles me ajudaram a criar som! Portanto este som é muito mais rico e interessante do que o som que eu tinha imaginado ao início. O trabalho de equipa é sempre muito melhor do que trabalho individual!

"Ciúme" foi o primeiro tema revelado ao público de Nome Próprio.

Um pouco nesse seguimento, num comunicado disseste que este projeto é a solo mas que sem a ajuda e a entrega dos outros não seria possível. A quem é que deves este disco?

Bom, para além dos músicos que me acompanham, aos autores porque sem eles não haveria disco! Devo ao meu manager, o Vasco Sacramento, que sempre acreditou em mim, à agência e à editora. Devo também à minha filha Luz que me acompanhou ainda na barriga desde o primeiro ensaio (risos). Ao meu marido e aos meus pais que são incondicionais. No fundo, devo a este conjunto de pessoas que são aqueles que me ajudam e me dão confiança na minha vida. Uma obra nunca é só de uma pessoa. É daqueles que ajudam a fazer e daqueles que depois ouvem e que vão-lhes dando vida.

Apresenta-nos este disco. O que é que ele significa?

Para mim, ele é uma obra que representa bem a Ana que eu conheço. Quando eu era garota vivia em Benfica e passava os verões na casa dos meus avós, esse lado citadino/rural é uma influência neste disco. Depois há uma presença do cancioneiro português mas também do anglo-saxónico. Portanto é um álbum que ata todos estes nós entre estes mundos que fazem parte de mim. É um disco que mostra as minhas facetas, não só a faceta da Ana dos Deolinda que as pessoas mais conhecem e que anda alegre a saltar no palco, mas também a Ana que gosta de cantar de olhos fechados. Esta Ana que canta no seu mundo não apareceu ainda tanto mas ela existe e está cá.

"Leve Como Uma Pena" é o segundo single extraído de Nome Próprio.

Fazes parte do panorama musical há muitos anos. Como é que começou a tua relação com a música?

Eu, aos dois anos, lembro-me de ir buscar o gira-discos portátil dos meus pais para ouvir música e também ouvia as cassetes que eles iam gravando na rádio. Eu ouvia de tudo em miúda. Portanto a música foi entrando assim na minha vida, eu dançava, cantava e adorava! Depois, aos 15 anos, fui aprender a tocar guitarra para a Junta de Freguesia e foi aí que comecei a descobrir a minha voz, a cantar as letras dos Nirvana, dos Pearl Jam e tantos outros. Foi aí que comecei a perceber que tinha voz e que podia fazer disto vida. A partir daí fui andando até hoje!

Para terminar, o que podemos esperar da Ana Bacalhau nos próximos tempos?

Certo é que vou ter uma tour, felizmente extensa para percorrer Portugal, onde vou levar este meu disco e outras canções que foram importantes no meu percurso, não dos Deolinda, mas de versões de influências minhas porque sem elas este disco nunca teria acontecido. Além disso, os concertos vão ter um cenário de vídeos exclusivos que ajudam a contar a história do disco. Isso é o que vai acontecer decerto, depois a vida fará acontecer novas coisas e novas aventuras! Estou à espera de surpresas! (risos)

Entrevista: Daniela Fonseca