Caelum’s Edge em entrevista: "Nenhuma banda se pode rotular por apenas um género musical"


Caelum’s Edge em entrevista: "Nenhuma banda se pode rotular por apenas um género musical"

Banda vencedora da primeira edição do EDP Live Bands edita hoje o seu primeiro álbum pela Sony Music Portugal. Estivemos á conversa com os Caelum’s Edge.

Noite e Música: Podem fazer uma pequena apresentação dos Caelum’s Edge aos leitores da Noite e Música Magazine que ainda não tomaram contacto com a banda?
Caelum’s Edge: Os Caelum’s Edge são uma banda de Space Rock, Pop/Rock do Barreiro, vencedora da primeira edição do concurso EDP Live Bands. O novo disco, ENIGMA, será lançado a 29 de janeiro pela Sony Music Portugal e "O Jogo" é o primeiro single. Em 2012, New World [EP] foi o primeiro lançamento público da banda, tendo já passado por grandes palcos portugueses. Os Caelum’s Edge apresentam agora o seu primeiro álbum ENIGMA e levam-te numa viagem, com canções em português e inglês. Fruto de um intenso e apaixonante trabalho, o novo disco, mais maduro e com vista a um público mais vasto, entoa melodias épicas e encorpadas, mostrando uma faceta emocional com assuntos que versam acerca de viagens interiores, relações humanas e a saudade, um tema tão português. A banda é composta por Pedro Correia (voz e guitarra), Diogo Costa (guitarra e teclado), José Ganchinho (baixo) e Diogo Lopes (bateria).

NM: O que significou para os Caelum’s Edge terem vencido a primeira edição do EDP Live bands?
CE: Para os Caelum’s Edge, a vitória do EDP Live Bands foi um prémio pelo esforço e dedicação desde sempre manifestado pela banda. Mais do que isso, foram várias portas que se abriram, desde a possibilidade de poder atuar num dos grandes palcos do NOS Alive à gravação e edição do nosso primeiro disco pela Sony Music Portugal. Não foram boleias, porque muito tivemos de percorrer por nós próprios mesmo depois deste triunfo, mas foram oportunidades que decidimos agarrar com muita força e fazê-las valer a pena. Tem estado a valer.

NM: A vossa banda também ficou em segundo lugar na Hard Rock Rising Competition 2013. Estas classificações nestes concursos de bandas dão-vos de alguma forma uma motivação extra?
CE: O segundo lugar no Hard Rock Rising 2013, apesar de muito positivo, pode também ser encarado como uma derrota. E nós gostamos de ver o lado positivo das derrotas: o lado da aprendizagem que dali retiramos, o lado em que se calhar aquele ainda não era o momento e em que teremos de trabalhar mais e melhor para alcançar os nossos sonhos.

NM: Porque decidiram escrever letras em português e inglês para o vosso disco de estreia ao invés de se concentrarem somente numa língua?
CE: O Pedro (vocalista) confessa que sempre lhe foi mais fácil escrever em inglês. Aliás, este álbum é para ele uma estreia e realização pessoal, sendo que, como letrista principal, foi a primeira vez que se aventurou na sua língua nativa. Não veio como uma necessidade, mas sim como um desafio. Desde o nosso primeiro EP que nos perguntavam porque é que só escrevíamos em inglês, já que somos portugueses e temos uma língua extraordinariamente rica. Respondíamos sempre que não havia nenhuma razão em específico e que não o negaríamos fazer num futuro próximo: acabou por ser no ENIGMA, o nosso primeiro álbum. Inclusive o nome do álbum foi cuidadosamente escolhido para que fosse lido e compreendido de maneira igual nas duas línguas.

NM: Consideram que o rótulo Space Rock é o que melhor vos define musicalmente?
CE: Nenhuma banda se pode rotular por apenas um género musical. As obras de um artista são sempre fruto de diversos fatores e amplamente influenciadas por fases específicas da vida deste. O género "Space Rock" apareceu associado instrumentalmente ao uso de sintetizadores e à exploração de efeitos na guitarra, como delays e reverbs. A música de grandes bandas e referências para o nosso trabalho, como Pink Foyd, Angels and Airwaves ou 30 Seconds to Mars, pode também ser designada como tal. Assim, desde o início que nos pareceu óbvio vestir este termo devido ao nosso fascínio pelo épico, ao nosso interesse em explorar lírica e musicalmente temáticas como “Espaço” e “Universo” e ao intuito de conduzir o ouvinte a uma sonoridade de ambientes cheios e grandiosos.

NM: Há bandas e situações da vossa vida pessoal que tenham influenciado a composição do vosso álbum?
CE: Sem dúvida! Cada um de nós é marcado individualmente pelos seus artistas favoritos e é inevitável que isso transpareça no resultado final. Como já referido antes, bandas como Angels and Airwaves, 30 Seconds to Mars, Linkin Park ou os icónicos Pink Floyd foram relevantes para o nosso amadurecimento como grupo compositor. Em estúdio, o brilhante trabalho dos nossos produtores (Vasco e Filipe, dos More Than a Thousand) teve também um papel crucial para conseguirmos a direção na qual pretendíamos percorrer para este álbum. Uma outra banda em que eles claramente se inspiraram para conseguir o melhor de nós foram os Biffy Clyro. O bom de termos trabalhado com eles é que, para além do enorme bom gosto musical, tinham também a visão de músicos profissionais ativos, encontrando na perfeição o ponto de equilíbrio entre o que é estimulantemente bom de se tocar e o estimulantemente bom de se ouvir. A maioria das músicas nasceram de um processo progressivo de composição e não pode ser confinado temporariamente apenas ao processo de estúdio. Algumas ideias que se podem ouvir no ENIGMA inclusive já existiam antes de a banda nascer, individualmente na cabeça de cada um – só ainda não tinham ganho forma. Outras foram maturando naturalmente no processo quotidiano da sala de ensaio. Neste álbum podem encontrar temas como saudade (de quando, felizmente para nós, estivemos em tour neste verão passado e ficámos dias ou semanas sem ver os entes queridos), dor de quem perde alguém, amizade e desilusão, paixão ou sonhos e realizações pessoais. Outras são apenas histórias fictícias a que quisemos dar vida e torná-las em canções. O que é certo é que estivemos todos juntos a morar em estúdio por 29 dias para gravar este álbum, onde só folgávamos para ir dar concertos, e isso fortaleceu-nos e ao nosso trabalho de uma maneira incrível.

NM: O concerto de apresentação do álbum Enigma está marcado para o dia 11 de fevereiro, no Popular Alvalade, sendo que a entrada será gratuita. O que podemos esperar desse espetáculo? Suponho que estejam ansiosos por começar a tocar os novos temas ao vivo.
CE: A ânsia de tocar os novos temas ao vivo já reside em nós desde o momento em que os criámos e já nos perguntávamos como soariam ao vivo ou como as pessoas os receberiam. Será sempre uma surpresa e achamos que é isso que ainda o torna mais empolgante. Consideramo-nos uma banda muito física e energética em palco e tentamos sempre que essa força seja transmitida nas nossas performances, desde os espaços mais pequenos aos palcos dos maiores festivais. Como tal, prometemos um concerto intenso, íntimo e repleto de boa energia.

NM: "O Jogo" é o primeiro single do disco. Consideraram este o tema mais indicado para apresentar a sonoridade dos Caelum’s Edge ao público?
CE: Os Caelum’s Edge entraram em estúdio para gravar este álbum ainda sob uma linha difusa para guiar a sua sonoridade. Este é um disco de experiências e procura pessoal da banda. E nada mais poderá ser exigido de um primeiro álbum. É natural que todas as bandas se testem, errem e vejam até onde conseguem ir com a sua música de forma a se encontrarem. "O Jogo" é uma música de que gostamos muito e é uma estreia em vários sentidos, desde a língua à musicalidade. Mas, acreditem, qualquer uma das faixas integrantes do ENIGMA possui inquestionavelmente o ADN "caelumsedgiano".

NM: Quais são as outras músicas do álbum que têm a destacar e que acham que vale a pena serem descobertas pelas pessoas?
CE: Todas as músicas foram criadas com a mesma dedicação e exigência. São como os nossos filhotes e a verdade é que nenhum pai gosta de distinguir os seus favoritos. Na nossa humilde opinião, achamos que o ENIGMA é um álbum muito completo e diversificado, agradando a quem gosta de música alegre, menos alegre, comercial, menos comercial, baladas, a quem sempre gostou da nossa veia rockeira ou até mesmo instrumental. Como tal, e apenas para servir como uma espécie de tutorial de diversidade musical, aconselhamos que o ouvinte passe (sem dúvida) pelo nosso primeiro single "O Jogo", "Southern Lights", "One Last Try" ou "Illusion". Para quem procura mais músicas em português, depois do single, sugerimos que explorem as últimas faixas do disco.

NM: Os Caelum’s Edge encontram-se no início de uma carreira muito promissora. A banda tem objetivos a médio/longo prazo ou está focada somente no presente?
CE: A banda está super focada no presente, mas é claro que tem os seus objetivos a médio/longo prazo. Fazer a nossa música chegar ao maior número de pessoas possível e de uma forma positiva, agradando-as, é um deles! Não há nada melhor do que ver que o nosso trabalho tem um propósito e é válido para alguém. Felizmente existe em nós, como grupo, um espírito de união, força e amizade muito grande. Isso, aliado a muito trabalho e dedicação, já é por si uma pequena grande vitória. Tudo o resto virá por acréscimo.

Entrevista: Mário Santos Rodrigues