MEO Kalorama: Das pérolas escondidas ao "glitter" dos pequeninos

A edição do MEO Kalorama 2025 continua a ser um festival à deriva e à procura da sua identidade. Curiosamente é na identidade vincada que o festival aposta na sua comunicação, mas depois não o consegue colocar em prática no terreno. Posicionando-se com um festival identitário, inclusivo, sustentável e com uma programação a andar nos "alternativos" que se tornaram "comerciais", o Kalorama continua depois a mostrar querer ser o Rock in Rio dos pequeninos num festival que nunca passará de um (ainda fraco) concorrente ao Primavera Sound ou a Paredes de Coura.
Já para não falar que é difícil consolidar um festival que anda a dançar com as datas de realização de ano para ano. Ao que parece, em 2026 será em Agosto…
A primeira prova foi o deserto de público que foi o primeiro dia, a confirmar o declínio dos últimos 2 anos. Foi deprimente ver uns sempre criativos Flaming Lips a tocarem os seus "Yoshimi Battles the Pink Robots" (para algumas centenas de pessoas (esta digressão serve para tocar na íntegra o seu álbum mais reconhecido). Os healiners Pet Shop Boys também andam em tour de Greatest Hits e não faltaram no concerto "Suburbia", "It's a Sin" ou "West End Girls" no espetáculo cénico muito bem concebido pela banda pop britânica. Ficou a falar só "Go West".
Antes disso, no palco secundário, Sevdaliza misturava música árabe, trip-hop e R&B a pop cheia de ativismo, como se pede num festival como este. Os parisienses L'imperatrice fecharam este palco ao melhor ritmo da eletrónica francesa à la Daft Punk a confirmar a sua ascensão nos palcos nacionais.
De destacar ainda no início do Palco MEO, a pop assumidamente azeiteira de David Bruno e o "reverendo" Father John Misty a ser o nome desperdiçado neste cartaz do primeiro dia, pois a estreia do último álbum Mahashmashana merecia um palco mais indicado e composto. Esperamos pelo regresso em breve!
No segundo dia com algum acréscimo de público, um dia recheado de mulheres no cartaz mostrou Azealia Banks muito interventiva politicamente, e a cabeça-de-cartaz FKA Twigs a não ter tantos adeptos (talvez pela hora tardia do concerto – duas da manhã!!!!).
Mas foi no palco San Miguel que esteve a senhora da noite: Róisín Murphy. A irlandesa confirmou mais uma vez que é uma excelente cantora e performer (com inúmeras mudanças de outfit durante o concerto). Não sendo uma novidade por cá, continua a deslumbrar o a pôr toda a gente a dançar com a pop eletrónica dos álbuns a solo ou dentro dos Moloko: "Pure Pleasure Seeker" e "Overpowered", ou "The Time Is Now" e "Sing It Back" em versão mais percurssiva, aproveitando a banda de cinco elementos.
Mas os verdadeiros reis (ou rainhas) da noite foram os Scissor Sisters, que regressaram à Europa depois de um interregno de 12 anos. A comemorar 20 anos do seu álbum de estreia homónimo, os nova-iorquinos deram um espetáculo "best of" com duas novas vozes: Amber Martin e Bridget Barkan, a juntar ao vocalista Jake Shears. Foi um espetáculo burlesco, colorido, muito sexualizado e com tudo o que se esperava e que até piscou o olho a George Michael com "Freedom" a misturar com "Take Your Mama Out". Foi mais um espetáculo a mostrar quão interessante poderia ter sido a parceria do Kalorama com o Europride (a decorrer em Lisboa nas mesmas datas).
No último dia era Damiano David (na foto de artigo), (vocalista dos Mane Måneskin, aqui a solo) que concentrava atenções. Contrariando o rock da banda que conquistou a Eurovisão, Damiano centra-se mais na pop e nas baladas, andando a conquistar corações por toda a Europa. Mais uma vez, pouco antes das duas da manhã, o italiano apresentou um alinhamento que contou com quase todos os sucessos do seu disco de estreia – de fora ficou, por exemplo, "Next Summer". Por elogios a Portugal e à língua portuguesa, ainda arranhou o tema "Deslocado" dos NAPA (banda portuguesa que também passou pela Eurovisão).
Antes disto, passaram pelo Kalorama coisas muito mais interessantes, como Jorja Smith – uma das vozes mais reconhecidas do novo R&B britânico, mas que não conseguiu aquecer um público só com olhinhos para Damiando David.
O palco San Miguel concentrou as atuações mais interessantes deste último dia, a começar com os Badbadnotgood, com o seu groove habitual, os australianos Royel Otis a confirmarem-se como umas das novas esperanças do indie rock e ainda o grande Branko que é há muito já uma certeza na música de fusão eletrónica com sons do mundo lusófono (e não só).
Foi por tudo isto, mais uma edição morninha de um festival que começou por prometer muito e demora a arrancar. Esperemos que este segundo "contrato" de 3 anos não seja último…
Texto: Miguel Lopes
Fotografia: MEO Kalorama
Inserido por Redação · 23/06/2025 às 15:58