Justin Bieber @ Pavilhão Atlântico: O miúdo maravilha a precisar de descanso


Luzes, câmara, gritos e ação. Foi assim o inicio da noite no Pavilhão Atlântico.

Um mundo à parte, para milhares de fãs que há muito aguardavam por Justin Bieber – os que dormiram nas tendas entre noites de chuva e vento e os que chegaram em cima da hora, com o coração nas mãos. Lá fora ficam os vestígios: cobertores, mantimentos alimentares e cartazes perdidos.

Se um turista resolvesse comprar um bilhete para esta noite de espetáculos, pensaria que o que estava acontecer era uma festa de final de ano, bem ao estilo de Hollywood. Neste caso, o "prom" King era o cantor com cara de bebé e bíceps adultos e a "prom" Queen, seria a vocalista Carly Rae Jepsen.

A voz que todos reconhecem, pelo tema "Call Me Maybe", aqueceu as palmas do público presente. O coro massivo dos portugueses, e entusiastas de países além fronteiras, abafou os temas, dançantes e alegres, da cantora conterrânea de Bieber. Sempre que se ouvia o nome de quem todos queriam ver em palco, os olhares dos Beliebers congelavam e os pais reconfortavam-nos com “tem calma, ainda faltam alguns minutos” ou até mesmo “aquele não é o Justin, é o técnico a por o palco no sítio”.

Antes do concerto e da sinfonia de gritos estridentes, alguns dos êxitos de Michael Jackson – grande influência do, não tão comum, rapaz de 19 anos – foram tocados para entreter pequenos e graúdos, estes últimos que, mesmo cansados de estar em pé, dançavam ao som de "Black or White". Soava a bênção do rei da Pop, para aquele que é considerado o príncipe da cora da música popular do século XXI.

Num momento de descontração surge a contagem decrescente para a entrada de quem Liam Gallagher, ex-Oasis, afirmou (via Twitter) ser "o maior". As vozes explodem e até um agente policial se junta à força das palmas. Durante 10 minutos, era impossível conversar sem levantar a voz e no último minuto de espera, ouve-se "We shall believe".

A horas, para conveniência de quem tem aulas amanhã, Bieber entra em cena, suspenso e com um par de asas prateadas e mais gritos à mistura. A comitiva de mais de 150 indivíduos, construiu uma produção massiva, mecânica e com raras surpresas. A atribulada passagem por Londres – que contou com um desmaio, uma ida ao hospital e um ataque nervoso a um "perseguidor com câmara" – fez com que o cantor pedisse para que não atirassem objetos para o palco e continuou a sua performance em segurança.

Os ensinamentos do mestre Usher, que desde 2008 acompanha o artista canadense, serviram Bieber de uma atitude com estilo e alma que faltou na noite de segunda-feira. Não fossem os casacos de cabedal, o cabelo loiro aprumado, uns quantos flashes de abdominais e um mini-medley com "One Time", "Eenie Meenie" e "Somebody to Love", e o "Efeito Bieber" não tinha feito as paredes do Pavilhão Atlântico, e até do Oceanário, tremer.

Numa mistura de "you should stay under my umbrela" e "singing in the rain", canta-se "Love Me Like You Do". Segue-se a crítica ao sistema carnívoro da comunicação social e dos paparazzi, no papel de um James Bond do Parkour, com "She Don’t Like the Lights".

Entre desfiles do ensemble de bailarinos e uma demonstração do DJ da casa, surge Bieber com uma máquina de filmar, apontada às primeiras filas onde, de forma surpreendente, se viam sorrisos e um baloiçar de braços que prometia a não inundação por lágrimas dos fãs incondicionais. Em "Die In Your Arms", caminha-se em solo soul, de tons quentes e falsetes que arrancavam suspiros à juventude feminina. Nesta altura do campeonato, os ouvidos quase derretiam com os gritos, consequência de um passeio de grua que sobrevoava os corações mais aflitos, com banda sonora a cargo de "Be Alright e Fall".

"Beauty and The Beat", inaugurou a panóplia de momentos altos da noite e culminou numa prova de qualidade instrumentalista, com baquetas na mão e bateria aos seus pés. "I was like a torpedo, up there", sorria Bieber.

Num regresso aos temas do álbum de estreia, "One Less Lonely Girl" estava a pedir pela presença de uma rapariga portuguesa em palco, para dar sentido à letra e para deixar o planeta das mulheres de pequena idade, à beira de um ataque de nervos.

"As Long As You Love Me" mostra o tronco nu do cantor, numa receita à qual se juntou alguns passos de dança…o resultado já todos nós sabemos qual foi. "Believe" foi tocado como despedida, num piano de cauda, predileto por músicos do género pop, que lançava notas mágicas para os sonhos da plateia.

Para os pequenos que rumavam às portas de saída, foi preciso uma corrida de retorno à base, aquando das primeiras batidas de "Boyfriend. Baby", o maior hit deste "bom rapaz", rebentou a escala de entusiasmo e algum fogo de artifício, encerrando assim uma noite que ainda era jovem. Quem piscou os olhos, nem se apercebeu da saída do cantor, que tão depressa se despediu do concerto em Lisboa. Ficaram os aplausos, os olhos vermelhos e a depressão pós-concerto, como os maiores sintomas dos Beliebers que lá estiveram."

Fotos: Vic Schwantz
Texto: Sara Mónica