Skunk Anansie no Coliseu de Lisboa: Parabéns pelos 23 anos de carreira [fotos + texto]


Skunk Anansie no Coliseu de Lisboa: Parabéns pelos 23 anos de carreira [fotos + texto]

Foi numa noite chuvosa que se deu, o muito aguardado regresso dos Skunk Anansie ao nosso país. Numa sala a rebentar pelas costuras, o duo de londrinas The Pearl Harts aqueceu o ambiente com descargas explosivas de blues-rock.

Já perto das 22 horas, as luzes frenéticas (colocadas por trás de uma cortina que cobria o palco) começaram a piscar e ouviram-se os primeiros acordes de "And Here I Stand" do primeiro álbum Paranoid and Sunburnt, com o guitarrista Martin "Ace" Kent e o baixista Richard "Cass" Lewis já na frente de palco. Depois da queda da cortina, já Deborah Anne Dyer aka "Skin" saltitava pelo palco com um fato negro cheio de palavras brancas e um boné digno de um rapper norte-americano e logo andou pelo meio da plateia. Mas a noite era de hard-rock pois, apesar de muitas vezes serem colocados na vaga britpop dos anos 90, os Skunk Anansie apresentam, maioritariamente um som pesado, com influências punk, grunge, ou mesmo ska nos solos de baixo.

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O baixo de "Cass" puxa-nos também para os Red Hot Chilli Peppers logo nas primeiras canções. Já os riffs iniciais de guitarra de "Because of You" convidam às palmas e viajam entre um ambiente mais negro e o hard rock/grunge cabeludo dos anos 80/90. O guitarrista "Ace", que mais parece retirado dos Scorpions, vai ganhando mais algum destaque em "I Can Dream" onde Skin já anda a fazer crowd surfing.

Depois de um início marcado pelo primeiro álbum, "My Love Will Fall" introduz Wonderlus de 2010 (o primeiro álbum da segunda fase da vida da banda britânica). Para baixar ainda mais um pouco o ritmo, "I Hope You Get to Meet Your Hero" do álbum Black Traffic. Skin põe todos a saltar, e o chão a tremer, com um dos primeiros hits "Twisted (Everyday Hurts)". Já com guitarra elétrica em "My Ugly Boy" e depois com acústica em "Weak", a vocalista remete-nos para o grunge dos anos 90. O coro do público ouve-se mais alto com "Hedonism (Just Because of You)", talvez o seu maior sucesso!

Seguem-se algumas canções novas, do último álbum Anarchytecture, com mais forte presença dos sintetizadores de Erika Footman que os acompanha na tour, em "Victim". A onda mais rave rock ganha ainda mais força com a utilização de lasers e fatos brilhantes em "Love Someone Else". Depois de um pouco de discurso político com ênfase no Brexit e em Trump (quem mais?), temos ainda "That Sinking Feeling" e "Without You" já com com um feeling mais indie rock e tocadas pela primeira vez em Portugal.

Pelo meio, ainda "I Believed in You", onde uma canção dos She Wants Revenge se encontra com Flashdance e "God Only Loves You" dedicada ao público. Para terminar, "We  Don’t Need Who You Think You Are", escrita depois de uma visita à África do Sul e atuação para Nelson Mandela. Ainda "Yes, It’s Fucking Political" com direito a theremin, e ainda "Little Baby Swastikka" típica de uns 90’s dominados pelo grunge, os Cake ou os RHCP, e com início em crowd surf de Skin desde a mesa de som até ao palco.

O encore começa em força com "The Skank Heads (Get Off Me)", acalma um pouco com os parabéns cantados em português, pelo público (pois neste mesmo dia os SKUNK ANANSIE fazem 23 anos), e segue com "Cheap Honesty" já com vinho português na mão da vocalista. Depois da revelação que Post Orgasmic Chill (1999) foi integralmente escrito em Portugal, "Tracy’s Flaw" é tocada no nosso país pela primeira vez em 22 anos e "Charlie Big Potato" arranca só à segunda tentativa para o que seria um final explosivo.

Mas, sendo noite de festa, ainda se dá novo regresso, para segundo encore, com "You’ll Follow Me Down" em modo mais acústico.

Perante uma plateia quase exclusivamente de over 30s, 40s e mesmo 50s e muitos casais (inclusive femininos), assistimos a mais um triunfo na mítica sala lisboeta. A amálgama de estilos pessoais (uma Skin de voz demasiado aguda para o rock, e discurso assumidamente político e de defesa da comunidade LGBT, mas com uma intensidade acima da média, um guitarrista que mais parece retirado dos Scorpions, um baterista do metal e um baixista reggae/ska) e musicais (mistura de hard rock, punk, ska, grunge) resulta milagrosamente e marca os anos 90 para muitas destas pessoas que, provavelmente, agora já não vão a concertos.

Fotos: Rui Jorge Oliveira
Texto: Miguel Lopes