Sharon Van Etten no Lux Frágil


Entra na sua camisa branca descontraída, tight jeans confortáveis e cabelo solto deambulante. Um "olá" num português demasiado bem arranhado para um primeiro (ainda que a fonética não obrigue a grandes esforços) e estão lançados os dados para uma noite de música intensa e mais um concerto intimista, bem à moda daquela sala do Lux.

"All I can" foi o pontapé de saída para o concerto da americana que pisava solo português pela primeira vez. Rimas à parte, Sharon encantou os demais com a sua doce voz. Poderosa, ao mesmo tempo, a americana foi passeando entre "Warsaw" e os acordes rasgados da sua guitarra, até desembocar no deslumbramento por Lisboa.

"Estamos a passar-nos. Vocês têm aqui uma cidade linda. De perder a cabeça", confessava entre os risos simultaneamente loucos, tímidos e doces. Estranhos, mas viciantes. Todos queriam ouvir mais uma gargalhada e, mais perto ou mais distante do palco, os presentes iam atirando piropos simpáticos, pedidos especiais, pequenas histórias.

Até que alguém lhe pergunta porque é que ainda não foi a Itália. E, sim, esse alguém veio diretamente de Itália para a ver. Sharon diz que quer muito ir a Itália e dedica "Leonard" a esse alguém.

O ambiente intimista não se sentia apenas no público e Sharon acaba por falar do final de uma relação, de como isso a inspirou a escrever uma música, "Peace Sign" e da mensagem dessa música: "é sobre encontrarmo-nos a nós mesmo após essas situações", remata.

A passeata continuou por temas bem conhecidos como "Ask", "Give out", "Serpents" ou "I’m wrong" e a noite continuou a avançar, fazendo parecer o tempo muito mais rápido e leve do que aquilo que é costume.

Sem fazer contas à intensidade que imprimia a cada novo acorde, Sharon atropelou o escuro da noite com um encore composto pelos temas "One day", "In line" e "Love more". Atropelou-a e fugiu, deixando no ar uma sensação refrescante, uma leveza na alma e um sentimento de plenitude que só a vinda primordial de uma artista como Sharon Van Etten pode originar.

No ar, ainda ficou o gosto a "soube-me a pouco". Mas ela gostou de Lisboa… há de voltar.

Fotos: João Oliveira
Texto: Rita Oliveira