PJ Harvey ao vivo no Coliseu de Lisboa [fotos + texto]


PJ Harvey ao vivo no Coliseu de Lisboa [fotos + texto]

Um terremoto sonoro e um sorriso. Numa noite quente de Outono, a pequena Polly Jean foi tão grande quanto um Coliseu (quase) cheio.

O público passou o concerto maravilhado a olhar para aquela figura quase mágica (as penas na cabeça e até os seus movimentos teatrais faziam lembrar uma qualquer fada retirada dos livros de Shakespeare), e apenas reagiam histericamente entre canções. Já da britânica apenas se arrancaram umas palavras, já perto do final, para apresentar a banda (onde se incluía o colaborador de longa data John Parish e Mick Harvey da "pandilha" de Nick Cave) e um sorriso na vénia antes da saída para encore.

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157674614287090" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="19" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

A entrada foi feita em versão marching band, com todos os 10 elementos a entrarem em linha com tambores e Polly Jean agarrada a um saxofone, que foi utilizando amiúde durante o concerto. O primeiro terço do concerto foi todo dedicado a Hope Six Demolition Project, o seu mais recente álbum, que é um grito de intervenção social saído das suas visitas ao Kosovo, Afeganistão e a Washington D.C. (de onde sai o nome do álbum, com a referência aos projetos de realojamento HOPE VI).

"Chain of Keys" foi a primeira, seguida de "The Ministry of Defence" iniciada com riffs furiosos na guitarra, qual disparos de metralhadora. "The Community of Hope", "The Orange Monkey" e "A Line in the Sand" seguem pelos mesmos caminhos da teatralidade de PJ acompanhada pelos coros dos seus nove Men in Black.

Entramos depois no álbum anterior Let England Shake com a canção homónima, mas mantendo a toada nas letras de intervenção social, problemas atuais e a guerra que assola o mundo (o ponto de partida para este álbum tinha sido a I Guerra Mundial). O outro single "The Words That Maketh Murder" e um "The Glorious Land" ligeiramente mais pop, antecedem uma viagem para raízes mais americanas com a jazzística "Written on the Forehead", o casino hall de "Dollar Dollar" ou os blues de "The Ministry of Social Affairs", entrecortadas por "To Talk to You" e "The Devil" do álbum White Chalk já com 10 anos.

O dirty rock’n’roll de "50ft Queenie" recua até à sua relação (musical e pessoal) com Nick Cave nos anos 90. E a leveza de "Down by the Water" e "To Bring You My Love" passam a fase dos hits que lançaram defitivamente Polly Jean para a ribalta musical.

"River Anacostia" em versão quase gospel fecha o concerto como começou: com o último álbum, a vénia e a saída alinhada dos membros da banda.

O intervalo foi longo (embora sempre com coros de gritos e palmas a chamar PJ de volta), mas o encore foi curto, apenas com "Guilty" retirada dos Lado B de "…Hope Demolition…", "The Last Living Rose" do anterior Let England Shake e um último sorriso para contentar os mais fervorosos.

Menos rock, mais interventiva e teatral, tanto faz!!! Estaremos sempre cá para a receber de braços abertos.

Fotos: Alexandre Paixão
Texto: Miguel Lopes