Pedro Abrunhosa ao vivo no Multiusos de Guimarães [reportagem]


Pedro Abrunhosa ao vivo no Multiusos de Guimarães [reportagem]

Há uns anos, apareceu um artista careca de óculos escuros cuja imagem, sons e música revolucionaram o panorama musical português. "Talvez….", apesar de uma letra chocante, foi um êxito imediato e era ouvido na rádio, na televisão, nos bares e discotecas de todo o país. Pedro Abrunhosa apareceu e revolucionou a música portuguesa.

Dois anos depois editou o álbum Viagens, que vendeu mais de 240.000 unidades e rapidamente atingiu os primeiros lugares do top nacional. Com uma mistura de vários estilos (pop rock, funk e jazz) e com grande qualidade musical e sonora, Pedro Abrunhosa e os  Bandemónio inovaram.

Estávamos em 1994! Sim, é difícil acreditar que músicas como "Socorro" ou "Tudo o que eu te dou" tenham duas décadas, isto porque a atualidade destas é tão indiscutível que facilmente poderíamos acreditar que tinham sido escritas hoje.

Ao longo dos anos o cantor/músico/compositor foi consolidando a carreira, tendo editado 7 álbuns  de originais (Viagens – 1994; Tempo – 1996; Silêncio – 1999; Momento – 2002; Luz – 2007; Longe – 2010 e Contramão – 2013), conquistando o título de referência nacional. As suas músicas fazem parte de bandas sonoras de filmes e são reconhecidas e cantadas por pessoas dos 8 aos 80 anos. A re-edição do álbum Viagens é uma prova dos nove do sucesso de Pedro Abrunhosa que é, sem dúvida, um exemplo do que de melhor se faz em português e em Portugal.

O Dia dos Namorados não podia terminar com um programa melhor: o concerto "Viagens: 20 anos" de Pedro Abrunhosa e os Comité Caviar no Multiusos de Guimarães. Os casais enamorados não quiseram perder a oportunidade e cerca de 5.000 pessoas esgotaram o pavilhão da cidade berço de Portugal.

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157650848386201" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="30" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Passavam 10 minutos da hora marcada, quando o último desta série de concertos começou, abrindo com os temas "Senhor do Adeus", "Pode o céu ser tão longe", "Voámos em Contramão" e "Viagens".

Só então o artista saudou os presentes e desejou as boas vindas. Mas não ficou por aqui, convidou os fotógrafos a subirem ao palco para, ao som de "Hoje é o teu dia", verem onde estava o verdadeiro espetáculo: no público.

As novidades não ficavam por aqui e, em "Pontes entre Nós" partilhou o palco com algumas das pessoas que rápida e indiferenciadamente para lá subiram. Momentos únicos proporcionados por Pedro Abrunhosa que agradeceu a Guimarães a manifestação de ternura dada.

O espetáculo prosseguiu com as homenagens à Mundos de Vida ("O melhor está para vir") e a alguns dos músicos  que o acompanham há 20 – 25 anos, Mário Barreiros e Flávio Santos ("Não posso +" e "Acima & Abaixo").

Sentou-se então ao piano, tocando em "Não desistas de mim" e "Toma conta de mim", esta última dedicada ao companheiro dos Bandemónio e dos Comité Caviar e membro fundamental dos espetáculos, Jorge Sousa, desaparecido  em dezembro de 2014.

Em "Momento" fez-me acompanhar por João Ricardo e os seus cactos demonstrando que, como o haviam ensinado os seus mestres de composição do Conservatório, "(…)na música, como na vida, não há impossíveis.(…)", a que se seguiu "A.M.O.R.", "Eu não sei quem te perdeu", "Socorro" e "É preciso ter calma", não conseguindo o público deixar de cantar.

Recordou-nos então a música da palavra proibida nas televisões e no palco "Talvez F….", que há 22 anos provocou e escandalizou, porém, trocando a palavra (justificando-se pelo número de crianças presentes).

A primeira parte do concerto terminaria com "Se eu fosse um dia o teu olhar" e "Fazer o que ainda não foi feito", com o pavilhão a cantar com o músico e de pé a bater palmas, não fosse o facto de ninguém ter abandonado o lugar.

De regresso à sala para o longo encore, passeou pela Plateia, cumprimentou e deixou-se fotografar, tudo enquanto cantava "Lua".

Já no palco, pediu a presença de Camané, grande e extraordinário fadista português, com quem protagonizou o momento mágico da noite em "Para os braços da minha mãe" e "Ilumina-me". Verdadeiramente arrepiante!

Ouviu-se ainda "Mr JB" e, ao fim de 3h30, o concerto terminou com "Tudo o que eu te dou". Apoteótico!

Pedro Abrunhosa agradeceu pelo espetáculo sublime e por fazermos o melhor que podiam fazer pela sua música, estarmos presentes.

Concerto memorável , em que nenhum pormenor musical e/ou técnico foi descurado.

Fotos: Marco Mendes
Texto: Rita Pereira