Nos Alive'14: dia 2 (11/07), com The Black Keys, MGMT e Buraka Som Sistema


Nos Alive'14: dia 2 (12/07), com The Black Keys, MGMT e Buraka Som Sistema

Regressámos ao recinto do NOS Alive para mais um dia de boa música. Analisando os nomes do cartaz que compunham este segundo dia e, provavelmente, seria o dia menos apelativo dos três, apesar de conter nomes como The Black Keys, Sam Smith ou Caribou.

Chegámos mais cedo e alguns curiosos e fãs encontravam-se em frente ao palco NOS para presenciarem a atuação dos extintos (e agora regressados) The Vicious Five. "Nós fomos os Vicious Five. Bem-vindos ao nosso funeral". Estas foram as palavras proclamadas por Joaquim Albergaria, que aqui assume o papel de vocalista. Aliás, em palco vislumbramos caras conhecidas, como por exemplo Bruno Cardoso, hoje em dia mais conhecido como Xinobi, e Paulo Segadães (irrepreensível na bateria), que atualmente colabora com The Legendary Tigerman.

Foi em outubro de 2009 que a banda anunciava em carta aberta o seu término. Ficou, porém, algo em standby: a forma certa de dizer adeus, um concerto de despedida. E foi para isso que serviu este concerto em forma de funeral (o outro está marcado para o Milhões de Festa e ainda existe um terceiro, por agora desconhecido).

Apostamos que muitos dos presentes terão ficado surpreendidos ao verem que o homem que assume um posto na bateria siamesa dos PAUS é, nos The Vicious Five, um furioso vocalista e um bom entertainer – falou de amor, do difícil ano de 2008 (altura em que gravaram o tema "Young Divorce", agora editado no EP Ghost Eviction), da obsessão da banda pela juventude e ainda perguntou como andava a vida profissional do seu público. Tudo isto para estreitar relações com os presentes.

A atuação foi variando entre os temas dos três álbuns de estúdio, destacando-se a tumultuadora "Bad Mirror" e a terminal "The Electric Youth". "O que fica de nós são vocês"; foram algumas das últimas palavras de Albergaria depois de um enérgico espetáculo a fervilhar de entrega e paixão. Os The Vicious Five foram uma das bandas mais entusiasmantes do rock português da década passada. Nós vamos mesmo ficar com saudades.

Seguir-se-ia uma banda que podia aparentar ser desconhecida de grande parte do público, mas que afinal até acabou por surpreender. Os The Last Internationale provaram de que fibra são feitos e acabaram por empregar mais energia do que muitos certamente esperavam. A banda, constituída por Delila Paz na voz, Brad Wilk na bateria (mais conhecido dos Rage Against the Machine e Audioslave) e pelo baixista Edgey Pires (ascendência portuguesa), apresenta um registo musical que emprega rock misturado com umas pitadas de blues e country. O projeto nova-iorquino, que vai editar o álbum de estreia We Will Reign em agosto deste ano, tem na vocalista Paz uma mulher que nos faz lembrar, a espaços, ora de Janis Joplin, ora de Alison Mosshart, vocalista dos The Kills. E isso só poderia ser um bom sinal.

Da atuação há que destacar temas como "Crawling Queen Snake" e "Life, Liberty, and the Pursuit of Indian Blood". Para os menos entendidos, um grupo intervencionista e que se assume contra o capitalismo. Aliás, isso ficou ainda mais patente quando, sem nada que o fizesse prever, os The Last Internationale se lançavam a uma pequena versão de "Grândola Vila Morena". "Eles são americanos, esforçaram-se para isto", referiu às tantas o português Edgey Pires. E assim regressávamos a 1968.

Qual é o problema dos MGMT? O álbum Oracular Spectacular. Não é o álbum que é mau, atenção; é que este registo de estúdio é tão superior aos restantes que nos mostra que a banda se perdeu após o seu lançamento. E isso nota-se, a julgar pela receção do público a dois ou três temas e a reagirem com aparente indiferença a todos os outros. Mas este é o problema de muitas bandas da atualidade: lançam um excelente álbum de estreia, mas depois não se conseguem superar a si próprios. Os MGMT são apenas mais uma vítima.

Mas tal não significa que o concerto tenha sido mau ou sofrível, longe disso. Embora tenhamos ficado com a impressão que os nova-iorquinos apenas estavam no palco a debitar canções, a verdade é que o rock psicadélico e camaleónico destes rapazes acaba por interessar. E agradar.

Portanto, e apesar dos temas dos MGMT funcionarem melhor em ambiente fechado (isto porque o som se vai perdendo um pouco com a força do vento), temas mais recentes como "Flash Delirium" e "It’s Working" acabam por contentar o público que ali se concentrava (mas eram menos, comparativamente aos do dia anterior). Se a atuação abriu delicada e maneirosa com "Congratulations", ficaria louca e grandíloqua quando o vocalista Andrew Vanwyngarden se lançava a uma admirável "Electric Feel" (para nós o melhor momento da atuação), "Time to Pretend" e "Kids", aqui a servir de canção de pulos.

Sempre apoiados por um ecrã gigante que ia mostrando imagens psicadélicas, os MGMT mostraram todo o seu psicadelismo ao longo de uma atuação recheada de temas dos três álbuns de estúdio, mas que só em Oracular Spetacular denotam toda a sua espetacularidade. Ainda esperamos por um sucessor à altura.

Se os The Black Keys perderam algum fulgor com o mais recente álbum Turn Blue, o mesmo não se pode dizer das suas atuações ao vivo. Aliás, este concerto foi até superior àquele que os americanos deram em 2012 no Pavilhão Atlântico (agora MEO Arena) para cerca de 15 mil pessoas. Hoje tinham 50 mil pessoas no recinto.

Apoiados por um jogo de luzes vistoso (mas que nem por isso lhes dá uma grande noção de espetáculo), a dupla constituída pelo vocalista e guitarrista Dan Auerbach e pelo baterista Patrick Carney, que ao vivo se torna um quarteto com a ajuda de Richard Swift no baixo e de John Wood nas teclas e na guitarra, trouxe ao Passeio Marítimo de Algés o seu blues rock carregado de riffs incendiários. E, apesar de contarem com novo álbum na bagagem, não foram muitos os temas apresentados de Turn Blue. E isso pode ser um mau sinal.

A deleitada "Dead and Gone" deu início à contenda, mas foi com "Gold on the Ceiling", a 5ª música apresentada, que o público desvairou por completo. Aliás, seriam mesmo temas do bem-sucedido Brothers e de El Camino, álbum que os colocou na rota do estrelato, que conduziriam grande parte da atuação. Afinal, uma banda que antigamente chegava a tocar para apenas 30 pessoas e que fazia digressões e passava noites mal dormidas para, no final do dia, ficar com prejuízo, aprendeu a lição de que, se quer conquistar as massas, não pode complicar.

Portanto, a orelhuda "Howlin’ For You", a mística "Tighten Up" e, antes do encore, a popular e explosiva "Lonely Boy" fizeram as delícias dos presentes, que ora pulavam, ora cantavam. Já antes, "Strange Times" remetia-nos para Attack & Release, álbum lançado em 2008, e os temas mais recentes de Turn Blue, casos de "Bullet in the Brain" e o single "Fever", acompanhados por ecrãs gigantes que evidenciavam as hipnóticas texturas que constroem a capa desse último álbum, também deram um ar de sua graça neste concerto em registo de greatest hits. Curiosamente, nota-se que no novo registo já não existe tanto o blues característico da banda, que pareceu preferir um rock mais direto e formal.

Há ainda que realçar a performance da dupla americana. Se Carney, dono e senhor da bateria, parecia por vezes algo acelerado, Auerbach, sem falar muito, carregava nos riffs sucosos e a sua bonita e cuidada voz levava o concerto a bom porto. Eles deram o litro e, como nota negativa, só temos a realçar as pausas por vezes algo longas entre as músicas.

Já o encore, esse, foi airoso: a balada "Little Black Submarines" que depois rebenta a escala dos decibéis e, por último, "I Got Mine", apenas com Carney e Auerbach em palco, mas a mostrarem toda a classe que os caracteriza.

Cerca de hora e meia de concerto de uma banda que após o êxito de El Camino, tenta replicar o sucesso com Turn Blue. Há quem diga o tenha conseguido, mas muitos referem-se ao último registo de estúdio como um mal-amado. Não obstante, a verdade é que os The Black Keys são capazes de explosões de emoção e de alegria. E é disso que nós precisamos.

Neste segundo dia do NOS Alive, a honra de encerramento do palco NOS cabia aos portugueses Buraka Som Sistema, uma banda que dá sempre o máximo, independentemente de onde toquem. Se em Kala e Conductor temos competentíssimos MCs, em Blaya temos uma grande performer sensual e provocadora que não se cansa de dançar e de puxar pelo público. Embora o público tenha circulado bastante após o concerto dos The Black Keys, ainda foram muitos os milhares que assistiram ao desempenho destes tugas em palco.

Temas como "Stoopid", primeiro single do mais recente álbum Buraka, "We Stay Up All Night", "Sound of Kuduro", "Tira o Pé", "Kalemba (Wegue Wegue)", "Hangover (Bababa)", entre outros, fizeram a festa e deixaram os corpos a fervilhar. Um ambiente apoteótico e que até contou um encore para os mais resistentes com "Voodoo Love". Uma aposta ganha, mas nós próprios temos a certeza de que serão sempre bem recebidos.

O NOS Alive termina hoje, tendo nos The Libertines, a desordeira banda de Pete Doherty, como a atração principal. Estaremos por lá para vos contarmos todos os detalhes.

Fotos: Diogo Baptista e Vic Schwantz/Oporto Agency
Texto: Alexandre Lopes c/ Oporto Agency