Meo Marés Vivas: 1º dia, 18 de julho


Meo Marés Vivas: 1º dia, 18 de julho

Para uma noite de quinta-feira, à beira mar, o calor não estava no seu melhor. Para aquecer o público da Praia do Cabedelo, subiram ao palco principal os músicos e o mentor de We Trust. De "These New Countries", o álbum de estreia lançado em 2011, saíram temas como "Freedom Bound", "Again" – com direito a coro das palavras de ordem – "Once at Time", com direito a falsetto e pandeireta.

A surpresa do concerto chamava-se Catarina Salina, a outra metade dos conterrâneos Best Youth, e juntou-se à festa para "Surrender". Com o corte de cabelo à pixie e a atitude sedutora, a vocalista fez companhia a André Tentúgal para cantarem "Tell Me Something", o primeiro single do projeto de inverno There Must be a Place.

Com arranjos bem estruturados, com um quê jazzístico e uma exploração de campos eletrónicos. "We Are The Ones" – com versos finais que lembram "D.A.N.C.E." dos Justice – a estreia no alinhamento, que se mantém fiel ao seu criador. "E agora, mais uma novidade para vocês" brinca Tentúgal e "Time (Better Not Stop)" vem de mansinho para a despedida da única banda portuguesa no palco Meo. "Sejam felizes" foi o mandamento final de André Tentúgal.

Para entreter quem esperava pelo próximo concerto, atiravam-se t-shirts com um mini canhão. Alguns duelos depois, apagam-se as luzes e o único nome iluminado pelo néon, apresenta-nos Bush. O grunge dos anos 90, veio até Gaia, como uma surpresa dos poucos aguardavam (pela banda) na fila da frente. Mexeram e remexeram no repertório, indo beber a "These Sea of Memories" (apresentado no Coliseu dos Recreios, o ano passado) e lembrando o que de "The Sixteen Stone" (1994) guardou ao longo dos anos. Esta não é música apropriada para meninos, é agressiva, rancorosa, gritante e saltos de ninja com a guitarra ao peito.

A voz inconfundível de Gavin Rossdale cantou "The Sound of Winter", "Swallowed", "The Afterlife" e "The Chemicals Between Us", com o seu riff de guitarra único, fizeram soltar gritos e gestos de airguitar. Como não há uma sem duas, a prenda de Bush para a plateia foi a inesperada versão de "Come Together" dos eternos Beatles. O encore guardou "Glycerine" – ouvia-se o ecoar dos versos "I’m never alone, I’m alone all the time" – e mais uma canção com saudades dos tempos áureos, "Comedown".

Rossdale ruçou o corpo da guitarra contra a objetiva da câmara mais próxima, caminhou e correu pela encosta do recinto e ainda teve tempo de agradecer o amor, ao estilo português, que o nosso país deu aos Bush, durante o seu regresso em concerto. No final, o cansaço foi substituído pelo entusiasmo e simpatia mútua, debaixo da chuva quente e aplausos.

Quando Nicole Fiorentino entrou em cena, os rapazes suspiraram por verem uma mulher em palco (para além da breve presença de Catarina Salinas e Sofia Ribeiro, nas teclas de We Trust). A restante formação de Smashing Pumpkins agrupa-se, com Billy Corgan e o seu ego, no centro do palco. Aqui o amor à banda é notório, é descarado e há até quem se emocione (ligeiramente…afinal estamos em 2013). No alinhamento estavam diversos temas de conhecimento geral – "Tonight, Tonight", "Today", "Ava Adore", "Stand Inside Your Love" e "Bullet With Butterfly Wings", o momento alto da noite – que defenderam em boa forma sonora e os temas mais recentes – como "Starz" e "Oceania", homónima do disco lançado em 2012 – que se perderam entre o barulho das luzes.

David Bowie esteve presente na sua forma musical, com "Space Oddity" a abrir o concerto. No outro extremo, esteve "1979", a pérola de "Mellon Collie and the Infinite Sadness" (1996). Após a primeira despedida, alguns elementos do público começaram a dispersar, mas a banda tinha guardado uma versão mais encorpada e dançante, do tema que fez a malta (os que eram adolescentes na década de 90) matar saudades daquilo que Smashing Pumpkins representavam. Billy Corgan deixou-se ficar por mais um par de minutos, a atirar beijos e a acenar aqueles que mantêm o culto à sua música, ativo.

A primeira noite de Marés Vivas, feita de vozes masculinas exemplares, levou mestres de cerimónia do rock até à praia. Hoje, há eletro-pop de lasers (David Guetta), sintetizadores e cabelos com laca (La Roux) e guitarras acústicas com letras lamechas (James Morrison), para ouvir na margem do rio Douro.

Fotos: Nuno Fangueiro
Texto: Sara Fidalgo