Foals ao vivo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa [texto + fotogaleria]


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Guitarras dançantes à luz de uma bola de espelhos. Os Foals conquistaram a capital portuguesa.

Terça-feira à noite e frio de outono, acolheram o público lisboeta na sala de espetáculos no coração da cidade. Há mesma hora, começava a banda de Jared Leto, 30 Seconds to Mars, a tocar na Meo Arena mas essa é outra história.

As boas vindas foram dadas por Everything Everything, que em abril brindaram a Portugal na primeira edição do Warm Up Paredes de Coura. A sala compunha-se pouco a pouco, para ouvir o que Jonathan Higgs e companhia, traziam na bagagem. De Man Alive saíram "Photoshop Handsome", "MY KZ, UR BF" e "Schoolin" e de Arc, o segundo álbum de originais, escolheram "Radiant", "Kemosabe", "Cough Cough" e "Don’t Try" para apresentar aos presentes que conheciam grande parte do que se passava em palco.

Uma bola de espelhos viu a sala principal do Coliseu, a completar-se com entusiastas da banda britânica. Jimmy Smith foi o primeiro a entrar em palco, tímido e cabisbaixo, até pôr a guitarra ao ombro e começar a tocar as primeiras notas de "Prelude", o tema de abertura do concerto e do alinhamento do mais recente álbum de originais. O puxar de cordas é a única constante ao longo deste tema, com momentos chave de um vai e vem de batida que ajuda ao aquecimento corporal.

Entre o rock expansivo e emotivo, a banda consegue se surpreendente e, ao mesmo tempo, fazer perfeito sentido. Após a introdução num instrumental de mais de 4 minutos em dinâmicas numa luta de arena, ouvimos "Total Life Forever", tema homónimo do segundo álbum de Foals, de sabor a Red Hot Chilli Peppers.

Do álbum de estreia lançado em 2008, "Olympic Airways" é delicada, virtuosa, onde a voz do frontman se mostra mais calma e melódica. O segundo single de Holy Fire abriu a pista de dança e deu azo ao primeiro sing along da noite. Simples e refinada, "My Number" mostra a capacidade de Foals para fazerem música que é tão popular como pessoal.

Da era pós-punk, de riffs agudos e produção de arestas polidas vem "Blue Blood". O refrão cantou-se com dedicação, sobre o falsetto fino, doce e distante de Yannis Philippakis e o instrumental de veia funk.

Em "Providence" Yannis salta do palco e passeia-se colado à primeira fila da plateia, enquanto a explosão sonora invade a audiência. Selvagem, distorcido e metafórico, o tema antecede "Late Night". Tenta-se a pausa para ganhar folgo mas a tentativa sai furada. Com um órgão tão magnifico como religioso (um Fender Rhodes tradicional) tocado por Smith, faz-se uma dedicatória em crescendo onde "stay" é a palavra cantada até o sistema cardíaco falhar.

Em "Milk and Black Spiders", a voz mais expansiva e ecos de harmónicos aguçados como alfinetes, servem a música com a melhor construção lenta de Holy Fire. O tema estende-se até um outro que serve de ponte para "Spanish Sahara", a verdadeira malha que lançou os telemóveis numa filmagem conjunta.

E depois da bonança, regressa a atmosfera tempestuosa, celebrada com a enérgica e de amplificadores gritantes, "Red Socks Pugie". Para a primeira despedida da noite, Yannis entrou pela plateia dentro, a tocar guitarra e protegido por dois seguranças com o dobro do seu tamanho, no meio de quem lhe queria pentear os cabelos transpirados.

De cigarro na mão, o vocalista regressa à luz da ribalta e agradece a noite fantástica com um aviso pré-encore, "You don’t sound f*cking ready…you ready?". "Electric Bloom" serviu para matar saudades do musicalmente acrobático Antidotes mas foi a canção seguinte que, por breves momentos, levou o Coliseu ao paraíso da música indie. Entre mil efeitos e distorções, as sonoridades permitem adivinhar que "Inhaler" é a próxima carta do baralho. O público cantou até as veias salientes saltarem do pescoço, naquele que foi o ponto alto da noite.

No último tema da noite "Two Steps, Twice" não há dúvidas de que Jack Bevan, o baterista de serviço – ocasionalmente em pé sobre a bateria, no seu movimento de marca – é um dos melhores da vaga de bandas emergentes em meados da primeira década de 2000. Em cânticos decorados com amor, celebra-se debaixo de luzes espelhadas, numa chuva de flashes que mostram o corpo e a alma iluminada.

A saída de palco fez-se perante sorrisos e incentivos de "só mais uma", de um alinhamento que teve o tempo certo para uma Lisboa enamorada pela música alternativa.

Fotos: João Oliveira
Texto: Sara Fildago