Arcade Fire ao vivo no Campo Pequeno: Apostem o vosso dinheiro neles


Arcade Fire ao vivo no Campo Pequeno: Apostem o vosso dinheiro neles

A anormal temperatura que se faz sentir neste mês de abril por estes dias lembra a estação mais quente do ano. E embora Portugal não esteja no verão, na noite de 23 de abril conseguiu-se coligir dois ingredientes característicos de um festival de verão. Calor e um grande concerto no Campo Pequeno, em Lisboa.

Para quem nunca assistiu a um concerto dos Arcade Fire, leva com certeza um tónico para a rigidez e má disposição.

A Infinite Content tour da banda canadiana passou por Portugal depois de vários concertos noutras cidades europeias para promover o seu novo álbum, Everything Now. De relembrar que esta será a primeira de duas presenças do ano no nosso país. A segunda será como cabeças de cartaz no festival Vodafone Paredes de Coura, em agosto.

O Campo Pequeno encheu, esgotou. Não se via uma cadeira vazia, se se passeasse os olhos pela circunferência da arena.

Os membros da banda surgiram pelo meio da multidão – característico das suas atuações -, e dirigiram-se para o centro do que parecia um ringue de luta, numa plataforma giratória, sendo apresentados tal qual os lutadores antes de se defrontarem num corpo a corpo. A música "Rebellion" (2005) soltou a irreverência típica de Win Butler, que percorria e saltava por todas as superfícies à sua disposição no palco de 360 graus, numa explosão de energia. Esta estrutura de luta deixou cair as baias e foi perdendo a forma de ringue por volta do terceiro tema, deixando a banda mais próxima do público, mais limpa. Todo o concerto foi marcado por picos energéticos e de grande vigor, como a potência libertada em "No Cars Go" (2007), "Sprawl II" (2011) e em "Electric Blue" (2017) – aqui uma prestação absolutamente deliciosa da vocalista Régine Chassagne, no seu timbre de falsete dançável e hipnotizante. Régine transpira uma energia tão de sensual como de boneca de trapos com a sua cabeleira ondulante. Apetece ir fazer-lhe companhia. Ela assim o fez com o público no tema "Reflektor" (2013).

Os Arcade Fire habituaram-nos à sua versatilidade, à de cada um dos membros, sendo praticamente uma banda composta por vários one man show. Basta ver em palco como cada um deles ocupa num só tema várias posições, toca quase todos os instrumentos, numa simbiose perfeita e sem mácula… E parecem soar melhor ao vivo. Quem nunca deu uma oportunidade aos Arcade Fire, era garantida a conversão com este concerto. Um presente com muitos momentos bonitos, músicas novas, versões e os grandes êxitos trazidos num espetáculo que não desiludiu.

A primeira parte foi assegurada pela banda de nova Orleães formada nos anos 60, Preservation Hall Jazz Band. Ao longo de cerca de sete temas asseguraram um ambiente de sala com uma grafonola a um canto, um copo de uísque numa mão e um cigarro na outra. Enquanto as pessoas se arrumavam nos lugares, estes senhores do Bairro Francês do Louisiana mantiveram a temperatura amena com uma brisa refrescante. Retornaram a palco no encore de Arcade Fire e fecharam a noite em muito boa companhia: na nossa e na deles.

Alinhamento
Everything Now
Rebellion (Lies)
Here Comes the Night Time
Haiti
No Cars Go
Electric Blue
Put Your Money on Me
It’s Never Over (Oh Orpheus)
Neighborhood #4 (7 Kettles)
Neighborhood #2 (Laika)
Neighborhood #1 (Tunnels)
The Suburbs
Ready to Start
Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)
Reflektor
Afterlife
Creature Comfort
Neighborhood #3 (Power Out)
Encore
We Don’t Deserve Love
Everything Now (Continued)
Wake Up

Foto: Sony Music Portugal/João Pedro Padinha
Texto: Inês Batista