Mónica Ferraz em entrevista: "Lançar-me a solo foi como se me tivesse a despir perante várias pessoas"


Mónica Ferraz em entrevista: "Lançar-me a solo foi como se me tivesse a despir perante várias pessoas"

Após o concerto de apresentação de Love em Lisboa, estivemos à conversa (na segunda pessoa do singular) com Mónica Ferraz:

Noite e Música – Quem é a Mónica Ferraz?
Mónica Ferraz – Já canto há mais de 15 anos com vários projetos completamente diferentes. Iniciei-me pelo jazz, depois tive num grupo chamado Mesa e neste momento tenho o meu projeto a solo.

NM – Em criança tinhas aulas de ballet. A dança ficou-se pela infância?
MF – Sim, mas a dança está ainda no presente. Nos meus concertos eu gosto de dançar e tenho isso sempre no meu pensamento, não consciente, mas tenho um apontamento sempre de dança nas minhas músicas e isso ajudou a mudar a minha postura em palco. Se não tivesse tido aqueles anos largos de ballet, dança, jazz e sevilhanas, a minha presença em palco seria completamente diferente.

NM – Como foi o lançamento a solo após o sucesso como vocalista dos Mesa?
MF – É sempre um passo bastante diferente. Depois de ter estado quase como num casulo durante 10 anos, lançar-me a solo foi como se me tivesse a despir perante várias pessoas, ficas desprotegido porque passas a ser tu a dar a cara e fui muito apoiada pelo André Indiana que foi o produtor, compositor e letrista deste álbum. Foi ele que deu o mote para lançar o meu primeiro disco porque achou loucura eu ter as minhas músicas guardadas dentro de uma gaveta. Mas é sempre um passo importante porque deixas de estar apoiado num nome que não é teu e é muito recompensador e gratificante.

NM – Ainda és associada ao grupo?
MF – Muito raramente… É evidente que foram 12 anos de estrada com os Mesa mas a maioria das pessoas identifica-me como Mónica Ferraz.

NM – Qual o feedback do Start Stop (primeiro trabalho, editado em 2011)?
MF – Foi muito bom… Foram 2 anos de digressão intensa que fizeram com que escrevesse este novo disco; Love que é um reflexo da digressão que tive com Start Stop. Foram intensos mas muito gratificantes. O sentimento de reconhecimento do meu primeiro trabalho foi muito bom. Apesar de ser difícil divulgar no mercado um primeiro trabalho senti que as pessoas lhe deram o devido valor e fez com que me sentisse muito recompensada e que me inspirasse para este novo disco.

NM – Após a tour de apresentação de Start Stop subiste a vários palcos no formato unplugged. Qual o tipo de apresentação que preferes?
MF – São completamente diferentes e gosto das duas opções. Como cantei jazz durante muito tempo fiquei com o bichinho e fazer um unplugged acaba por puxar ao meu lado jazzista e vou buscar aquela essência que adquiri aos 15 anos quando comecei a cantar no meu primeiro grupo de jazz. Acabo por me recordar do passado, adaptar, renovar e levar as músicas para um auditório onde os arranjos não podem ser iguais aos do espetáculo ao ar livre porque são completamente diferentes e acabo por transformar as músicas mais roqueiras para que as pessoas possam apreciar os pequenos detalhes e isso dá-me muito gozo.

NM – Foi difícil criar este segundo álbum Love?
MF – Não, este segundo álbum até foi um pouco mais fácil do que o anterior. Para já não estás com tantos medos. Já não é o primeiro e desliguei-me daquela pressão, daquele receio… Se pensasse nisso não fazia qualquer trabalho, não escrevia. Surgiu tudo de forma muito natural durante a tour, houve um momento em que eu e o André Indiana nos enfiámos no buraco (como nós dizemos que é o estúdio) e tivemos a escrever e a compor, mas tudo sempre de uma forma muito leve e natural, sem grandes preocupações e sem timings. Se te preocupas com timings não fazes música, nós gostamos de fazer as coisas à nossa maneira.

NM – Em que te inspiraste?
MF – Este álbum fala muito de amores, desamores, vivências destes 2 anos… Do que vivi e do que vi. Também fala de ter sido mãe e exemplifico com a "Baby Blue" que é um Hino ao nascimento e à vida do Ian. É um disco muito real, com takes inteiros de voz para trazer o realismo do palco que imprime o realismo de um espetáculo no trabalho.

NM – O Porto será sempre a tua cidade de eleição?
MF – O Porto é a minha cidade. Tenho muito orgulho em viver no Porto, quando estou fora gosto sempre de voltar mas também é a minha terra. É uma cidade boa para compor, não tem tanto movimento e acabas por conseguir concentrar-te naquilo que gostas mais de fazer. É uma boa cidade para se estar, para escrever, para viver… Adoro a minha cidade e não a trocava.

NM – Gostavas de te internacionalizar?
MF – É evidente que todos os artistas gostavam de o fazer mas não é a minha primeira preocupação. Primeiro quero chegar a todo o lado no meu país. Quero chegar à terrinha mais profunda de Portugal e as pessoas reconhecerem-me, pelo meu trabalho. Já tenho um concerto marcado no estrangeiro mas não sou pessoa de criar grandes expetativas, vou deixar as coisas voarem de forma natural. Primeiro quero conquistar Portugal.

NM – Que projetos tens para o futuro?
MF – Sempre o mesmo: ser feliz e fazer o que mais gosto; música.

Entrevista: Bruno Silva