Denise em entrevista: "Denise é a menina que tenta levar até às pessoas um bocadinho de esperança, de brilho"


Denise em entrevista: "Denise é a menina que tenta levar até às pessoas um bocadinho de esperança, de brilho"

"A Denise é uma miúda que canta o que sonha e acima de tudo canta a verdade de si própria". A Noite e Música esteve à conversa com a portuense que acaba de lançar o seu EP de estreia no registo hip-hop e soul.  

Noite e Música: Bem, vou começar por te pedir para fazer uma breve apresentação: para quem ainda não te ouviu, quem é a Denise?
Denise: Ui isso é sempre muito difícil de responder, a Denise é uma miúda que canta o que sonha acima de tudo e canta a verdade de si própria, portanto eu transporto sempre para as letras todas as minhas vivências ou histórias ouvidas por pessoas próximas, não costumo falar nem retratar do que não é meu ou do que não me é próximo. Portanto a Denise é a menina que tenta levar até às pessoas um bocadinho de esperança, de brilho e principalmente levar a mensagem de que acreditem nos próprios sonhos.

NM: Como defines a tua música?
D: A minha música é uma fusão de dois géneros que eu gosto muito: o hip-hop e a soul music, é uma fusão um bocadinho estranha para quem não está habituado.. mas a minha música é isso, essa fusão com aquilo que eu gosto de cantar.

NM: Denise é mesmo o teu nome?
D: (risos) É, é mesmo o meu nome verdadeiro! Não é alter ego! (já nasceste com nome de estrela) (risos) Pelos vistos.. a minha mãe pensou bem na altura.

NM: Provavelmente muita gente não sabe mas tu já cantaste no coro da igreja. Vem desde pequenina o bichinho para a música? Ou na altura era só um passatempo?
D: O bichinho da música vem desde pequenina, até antes de cantar no coro de Canelas, foi quando eu comecei a ter aulas de órgão na academia e já antes disso eu gostava muito de cantar com o rádio! Gostava e cantava sempre para me fazer companhia a mim própria por que eu sou filha única e então cantava para brincar um bocadinho.

NM: Mas tinhas o sonho de ser cantora?
D: Não, não tinha, muito sinceramente não tinha (risos). Foi ao logo do tempo que quis investir neste projeto.

NM: Começaste a tua careira em 2008 cantando com alguns artistas mais dentro da área do hip-hop e em 2012 avançaste com a tua carreira a solo. Houve assim algum momento decisivo que te fez dar este passo? Um dia que acordaste e disseste "Bora lá"?
D: Houve sim, houve um momento mais frágil da minha vida em que eu olhei para trás e pensei que não tinha feito na minha vida o que eu queria fazer, portanto pensei: vai ser agora que vou fazer a minha própria música. Também o incentivo dos outros artistas que me pediam participações e que me diziam: "Denise tens que fazer a tua carreira a solo" mas tirando isso houve realmente o momento decisivo na minha vida em que disse "Vai ser agora" e assim foi.

NM: Estás agora a começar o teu trabalho a solo. Não sentes um certo receio em estar a entrar numa indústria tão competitivo?
D: De facto a indústria da música portuguesa é muito variada mas também muito competitiva mas eu não levo isto como uma competição, não encaro assim as coisas. Eu escrevi as minhas músicas e deixei para o público consumir, quem consome é porque gosta do que eu faço, quem comprou o meu EP é porque já me conhece ou tem curiosidade. Não sinto que esteja a competir com mais ninguém, sinto é que estou no meu caminho.

NM: O Angorá é o teu mais recente trabalho, o teu bebé de certa maneira até porque é o teu primeiro EP, de onde é que surgiu este título?
D: Há três definições possíveis para este nome um bocadinho desconhecido: a primeira definição surgiu do conhecimento de tecidos da minha mãe que ao longo dos anos em conversas soltas ia-me dizendo que a lã mais pura de existia era a lã angorá; a segunda definição pode ser usada por causa dos gatos, há o gato angorá e eu adoro gatos, inclusive tenho um gato angorá e não sabia (risos) só descobri depois! O terceiro e último tem que ver com a forma da palavra, de como se diz e esse escreve, eu gosto da maneira de como soa e se lê. Foi realmente por essas três razões que quis adotar o nome para o meu EP.

NM: Escolheste primeiro o nome do EP ou foi só depois de escreveres as músicas?
D: Foi só no fim. Tal como os títulos das músicas, é sempre no fim que eu decido isso.

NM: Explica-nos um bocadinho como é o teu processo criativo, as músicas que ouvimos no teu Angorá são escritas do coração de temas que inquietam ou são contos que queres contar? Onde é que vais buscar inspiração para escrever?
D: São escritas do coração, sou eu própria. É um bocado complicado falar de inspiração (risos) A inspiração vem de várias coisas, do quotidiano em si, eu ando por aí, vejo muita coisa e há realmente coisas que sobressaem sempre: algum acontecimento, alguma ação de alguém, as ações das pessoas inspiram-me bastante. Inspira-me o campo, eu sou muito mais campo que praia, e as viagens que faço, as paisagens, a natureza e as pessoas são inspiradoras.

NM: E há artistas em especial que te inspirem? Que sejam uma referência?
D: Eu tenho artistas que são uma referências como o Jonh Legend, Amy Winehouse, Maxwell e por aí. A soul music está muito presente, os artistas soul estão muito presentes naquilo que eu ouço diariamente. Artistas Portugueses tenho os HMB, Sara Tavares e os rappers, alguns meus amigos, há sempre aí alguns artistas que me inspiram e que me referenciam.

NM: Pegando um bocadinho no assunto do rap tu dizes que fundes a musicalidade da soul com o boom bap do hip-hop, não fazes nenhuma alusão ao rap. Não te sentes uma rapper?
D: Não, eu não me defino uma rapper porque eu acho que não sei fazer rap. Posso até tentar porque em algumas músicas pode haver uma sonância mais de rap mas não me encaro como rapper, temos por exemplo a Capicua que é uma rapper assumida, aquilo que eu faço sei que faço diferente, até porque sempre gostei de cantar e de criar melodias e é esse o meu ponto de partida, a melodia, o soul.

NM: Quanto tempo demoraste a criar este EP?
D: Com as discussões, com os bit makers e esse processo todo, cerca de meio ano.

NM: O teu sigle "Outra margem" foi o primeiro a ser escrito?
D: Não me recordo muito bem, mas penso que não.

NM: Soubeste logo que era este o primeiro tema que querias dar a conhecer ao público?
D: Não (risos) nem foi de todo logo decidido à partida que iria ser este o single. Depois de eu ter as músicas todas prontas e em acordo com algumas pessoas que trabalham comigo decidimos que seria o melhor para lançar como single, não foi nada premeditado.

NM: Como é que está a ser o feedback do Angorá? Está a corresponder às tuas expectativas?
D: Está a ser muito bom! Eu não criei expectativas, pensei: foi isto que eu criei e vamos ver o que as pessoas acham. Eu conservo-me muito nesse sentido, não crio expectativas nem altas nem baixas. Mas sim, está a correr muito bem, está a ter boas vendas, e além do formato digital em que as pessoas vão ouvindo, as pessoas têm também interesse em comprar o formato físico e isso é muito bom para nós enquanto artistas!

NM: Como é que estão os teus planos para o futuro? Não sei se gostas de falar no futuro (risos)
D: Eu sou muito passo a passo mas sonho! Claro que sonho! Novos projetos? Tenho em mente um long play e tenho já um novo projeto em negociações com um bit maker de Lisboa num estilo mais eletrónico e eu quero experimentar e ver no que vai dar. O long play espero começar dentro em breve!

NM: Pelo que pude perceber cantas sempre em Português, compor e cantar em inglês não te fascina nem está nos teus planos?
D: Já compus algumas letras em inglês quando era adolescente mas ficaram sempre na gaveta. Gosto do inglês mas gosto muito mais da nossa língua, é diferente e muito mais complexa, podes querer dizer vinte coisas numa só palavra ou numa só frase e é muito mais abrangente. Eu também não tenho aquela ambição de querer fazer carreira internacional ou de ir cantar a países que não sejam da lusofonia, mas se for convidada para cantar fora na língua portuguesa: maravilhoso! Há realmente quem queira cantar em inglês para chegar mais longe mas a mim interessa-me mais cantar a nossa língua.

NM: Há palavras que são realmente só nossas, saudade é uma delas.
D: Não há realmente tradução, é muito nossa (risos).

NM: Vais estar no Hard Club, no dia 25 de março. Dá-te um gosto especial cantar aqui no Norte?
D: Claro que sim, claro que dá, é sempre bom tocar para os nossos! E o público aqui do norte é um público muito efusivo, mostra o que está a sentir! Se não está a gostar mostra que não está a gostar! (risos) Para não falar que o Hard Club é uma sala maravilhosa. Amanha vai ser uma junção de bons amigos, bons artistas e público novo e estou muito ansiosa!

NM: Alguma vez sentiste que o teu sotaque podia ser uma limitação? Ou tem jogado a teu favor?
D: As pessoas até ao momento não se têm queixado e algumas até acham piada! Até hoje ainda não me trouxe nenhum tipo de limitação. Mesmo as pessoas do Algarve e de Lisboa nunca me disseram para limar o sotaque (risos).

NM: Se calhar perdias um bocadinho do que era teu não?
D: Exatamente! Nem eu consigo cantar de outra forma! (risos)

NM: "Eu vou criar a ponte que me de outra margem, e estou certa que não vou sozinha na viagem". Existe alguém que queiras agradecer por estar contigo desde o início desta etapa?
D: Sim claro! Algumas pessoas, principalmente os meus pais que me acompanham em todos os momentos; o meu querido irmão Virdes que é um rapper daqui, tem uma escrita fabulosa e tem instrumentais maravilhosos, aliás um desses instrumentais entra no meu EP. Ele foi a primeira pessoas que disse que queria que eu cantasse um tema com ele e foi a partir daí que as pessoas começar a ouvir falar da Denise e surgiram mais convites, ele é um músico fabuloso que eu admiro e se calhar se não tivesse sido ele eu não estava aqui; Depois aos meus amigos que me apoiam incondicionalmente e que vão comigo para todo o lado; E a todas as pessoas que trabalham comigo! São pessoas que me dizem algo em especial.

NM: Esperas um dia fazer da música um trabalho a tempo inteiro?
D: Eu gostava muito de fazer isto full time mas a minha vida são os aviões no momento, há 12 anos que trabalho nessa área e vou conciliando com a música, tenho conseguido ter essa facilidade por causa da flexibilidade dos horários, mas claro que eu gostava de poder levar a música comigo todos os dias e espero um dia conseguir viver da minha música!

Entrevista: Daniela Fonseca