Carolina Deslandes em entrevista: "Eu tinha um concerto e vou passar a ter um espetáculo"


Carolina Deslandes em entrevista: "Eu tinha um concerto e vou passar a ter um espetáculo"

Blossom, é o nome do novo álbum de Carolina Deslandes, que chega às lojas a 19 de fevereiro. Estivemos à conversa com a artista portuguesa para conhecer os segredos do seu novo disco de originais.

Noite e Música: Blossom, que significa florescer, o que te levou a dares este nome ao teu segundo álbum de originais?
Carolina Deslandes: Basicamente foi um simbolismo que eu arranjei para eu explicar a minha mudança a nível de estilo musical. O meu primeiro disco é um disco com uma sonoridade diferente deste e é um disco bilingue, tem temas em português e em inglês e este é um disco todo em inglês e, houve muita gente que assim que ouviu o primeiro single e os primeiro singles disseram que estava completamente diferente e que eu tinha mudado e não é mudar é evoluir daí o florescer. Eu tinha 20/21 anos quando fiz o meu primeiro álbum e agora tenho 25, vamos mudando, vamos crescendo. Há uma enorme quantidade de fatores que me faz desenvolver a minha personalidade artística e a minha vida pessoal e, assim evoluí e cresci, não é mudar necessariamente. Daí pegar no exemplo das flores, que nunca se sabe o que que vão florir, quais as cores etc. A única certeza que tinha há 5 anos atrás é que este álbum ia ser escrito e composto por mim que é o que mais gosto de fazer.

NM: Quanto tempo foi necessário para a construção deste álbum?
CD: O facto de ter demorado tanto tempo foi porque andei à procura de produtores instrumentais que eu quisesse mesmo e que se identificassem comigo, dentro do género da minha música que é sem dúvida pop, não vale a pena dizer que é pop com um toque de…, não, é pop contemporâneo! (risos) E, este género, não é muito feito cá em Portugal assim tive grande dificuldade em arranjar produtores que o quisessem fazer. Comecei por trabalhar com o Agir e posteriormente entrei em contacto com dois produtores canadianos que trabalharam com a Niki Minaj, David Guetta… e, venci-os pelo cansaço, mandava-lhes e-mail's todos os dias a dizer que queria trabalhar com eles e consegui! Foi assim, o ano que demorou, não foi pelo tempo que demorou a compor os temas, resumiu-se na procura de uns produtores para o meu álbum. Até que encontrei os GALLANTRY, composto pelo Mike e o Nuno, são portugueses, produzem a maior parte do meu álbum, e ouvem a mesma música que eu e gostam das mesmas coisas que eu, assim, acabámos por nos fechar no estúdio e foi aí que quando eu criei uma equipa oleada e senti que estávamos todos na mesma página que grande parte do disco se deu.

NM: Como correu o processo de composição?
CD: Eu componho rápido, graças a Deus, é uma coisa que agradeço todos os dias. Eu sou capaz de ouvir um instrumental e se eu sinto, basta haver qualquer coisa que me chame, começo logo a escrever e já estou a compor. O tema "Heaven" consegui compô-lo em 5 minutos, é claro que há outras que demoram mais tempo, mas são quase sempre uma coisa muito imediata.

Uma vez que tens facilidade em compor, a tua inspiração parte de onde?
CD: Normalmente eu só fico com instrumentais com os quais eu tenho uma relação imediata. Oiço e digo: "o que é isso?, Deixo-me levar!", mesmo que acabe por não usar todos os que me chamam logo à atenção, uso a maioria. É também por isso que as minhas músicas acabam por sair tão rápido e, dou também muitas vezes comigo a pensar "olha isto dava uma música gira!", nestes casos, deixo guardado na minha cabeça como se fosse um armazém (risos) e depois quando oiço a sonoridade certa associo às ideias que eventualmente já tenha tido.

NM: Achas que o facto de estares grávida te ajuda na inspiração?
CD: Por incrível que pareça, desde que estou grávida foi o período menos produtivo a nível criativo de composição de canções (estas a passar a tua inspiração para o teu feto), sim eu já disse que vai sair daqui um artista. Não sei o porquê que isto acontece, mas pode ser o facto de ser a primeira vez na minha vida que se está a passar algo muito maior do que a música na minha vida e, então acho que as minhas atenções de repente ficaram para outro sitio. Ao principio assustei-me muito porque tentava compor e não conseguia, mas o meu namorado ajudou-me muito e disse "não stresses quando tiver que acontecer há de acontecer e a inspiração vai voltar".

NM: A tua parte inspiracional foi toda cá em Lisboa ou és daqueles artistas que vai buscar inspiração a outros sítios, retiros por exemplo?
CD: Não. Eu sempre fui de estudar, compor, fazer tudo no meio da confusão. Eu costumo dizer que tenho demasiadas pessoas a "viver" na minha cabeça para estar sozinha com elas. Vira uma assembleia geral, por isso mais vale sair de casa. Onde eu componho bem, escrevo, produzo bem é no meio do barulho, sempre. Tanto o meu disco, como o meu livro foram feitos muito em casas de fado, aqui neste café, no meio do Chiado. Eu só uso o silêncio do meu quarto e da minha casa, por exemplo, quando estou mais triste ou nostálgica ou quando é para tratar da parte organizacional, logística dos meus discos, passar letras a limpo, tratar de planeamentos, enviar e-mails isso é preciso estar concentrada. Agora o resto, eu só estou mesmo bem a produzir no meio do barulho.

NM: Como defines a tua apresentação ao vivo, concerto ou espetáculo?
CD: Eu tinha um concerto e vou passar a ter um espetáculo. Senti que havia uma lacuna muito grande entre eu querer produzir um disco com uma sonoridade tão universal e tão contemporânea, e deixar o concerto um bocadinho aquém daquilo que eu estava a fazer. Assim, inserimos a componente audiovisual: vídeo, trabalho de luzes que está com um a produção incrível, as ligações entre as músicas também estão diferentes em termos de interação com a minha banda. Eu quero que as pessoas sintam que estão a ver uma peça mesmo! Que foi pensado no início ao fim e quero a cima de tudo produzir coisas com qualidade, tu até podes não gostar da minha música e não a consumires, mas quero que chegues ao meu concerto e que saias e digas "isto é bom!".

NM: Podemos então esperar um concerto muito mais dinâmico?
CD: Sim, sim, sem dúvida.

NM: Já tens ideia de como vai ser a tua tour?
CD: Nos próximos tempos vou estar no Casino da Póvoa, dia 14 de fevereiro, no dia 12 março vou estar no Mercado da Ribeira na sala da Time Out, para a apresentação do álbum, depois vou estar no Caparica Primavera Surf Fest a tocar na mesma noite do Jimmy P. Agora tenho uma datas grandes, boas que é bom com muito público e acho que vai ser um bom arranque daquilo que vai ser o meu verão e o meu pós verão.

NM: Como tencionas gerir estes dois grandes acontecimentos que estão presentes na tua vida, o nascimento do teu bebé e o grande lançamento do teu novo álbum?
CD: Basicamente eu quero preparar um "pré-verão" que deixe as pessoas com água na boca para o "pós-verão". Eu quero aproveitar o tempo em que estou a trabalhar para criar relação com o público de forma a quererem ver coisas mais para a frente, até porque está pensado e eu gostava muito de fazer, chegar o inverno e fazer alguns auditórios com um formato mais acústico, mais intimista e queria deixar essa vontade nas pessoas que me viram e dizerem-me – "eu adorei e adorava ver também o acústico e quero ir ver!" – Até porque, eu não queria que a vertente eletrónica engolisse o meu disco, eu quero mostrar que se pegar numa guitarra, se me tocar um piano e eu fizer as músicas acústicas, continuam a ser canções e continuam a ser boas canções e acho também que é um tipo de espetáculo que tem mais a ver com o nosso país e as nossas raízes, com música mais orgânica e mais próxima do público.

NM: Por seres portuguesa e gostares deste país, sendo artista, tens vontade de escrever um álbum só em Português?
CD: Não gosto de dar certezas absolutas, mas eu tenho uma inclinação muito forte para o meu próximo disco ser todo em Português. Por incrível que pareça, a partir do momento em que eu decidi que o meu disco ia ser todo em português, comecei a escrever tudo em inglês, e eu tive mesmo aquela sensação de tão a brincar comigo, só podem estar a brincar comigo só pode! Então, acabei por escrever o próximo single dos Anjos, acabei por compor também para alguns fadistas, também teve a ver com a fase em que eu estava a escrever o meu livro e o meu livro é em português e também teve a ver com o facto de eu ter uma relação com uma pessoa que produz fado, compõe fado e toca fado.

NM: Na tua tour podemos esperar algum convidado especial?
CD: Sim, o Agir é uma pessoa que eu vou gostar sempre de ter, quando ele tiver disponibilidade porque ele também está sempre com datas e datas e datas, graças a Deus. Mas, gostava de convidar músicos, mesmo músicos, de repente ter metais a tocar ou de repente ter um convidado que tocasse até uma Harpa, ou juntar assim artistas diferentes. Eu tenho muita pena, as pessoas (artistas) normalmente têm muito medo de se associar uns aos outros, e por exemplo, a principio ficou toda a gente muito espantada quando viu o Miguel Araújo e o António Zambujo venderam nove Coliseus. Claro que sim, e só não aconteceu isso antes porque as pessoas (artistas) não se associam. O que aconteceu foi, eles vieram provar que, esse preconceito que existe é desnecessário, eu e o Agir juntámo-nos e temos 7M visualizações no YouTube. As pessoas têm medo e eu acho que a associação entre artistas é uma coisa ótima! Eu como fiz no Sudoeste, eu disse, mandem-me vídeos vossos a cantar as minhas músicas e eu vou ouvir e vou escolher uma pessoa para vir cantar comigo, porque é bom! É bom tu pegares em pessoas que estão a começar, ou artistas que não assim tão conhecidos, porque as pessoas pensam muito – "há se eu fizer aquilo, o que é que me vai trazer de bom?" – e, como é óbvio, alguém um dia teve de te ouvir a primeira vez, para poder gostar de ti quando ninguém te conhecia para a tua música ter começado a passar na rádio. E tens de ter essa noção quando vais ouvir as outras pessoas também. E eu gostava muito de começar a abrir essa porta, começar a ter músicos que ninguém conheça de lado nenhum e cantores que ninguém conheça de lado nenhum e também alguns conhecidos, mas tentar balançar isso, porque nós somos a nova geração e temos que fazer justiça a isso! Trazer pessoas novas, "sangue novo", artistas e compositores novos. As pessoas que produziram parte do meu disco são dois "miúdos" de 25 e 24 anos que são "uns animais" no seu trabalho e que compõem coisas incríveis e que em qualquer lado do mundo onde eu ponho o disco a tocar dizem: "quem é que produziu este instrumental?", quando, se calhar, ninguém lhe daria crédito algum se soubessem que eles não são muito conhecidos.

NM: Como te sentes em relação ao sucesso que estás a ter apenas com 24 anos?
CD: Ponto número um, eu acho sempre que ninguém me conhece em lado nenhum e levo sempre "raspanetes" por causa disso, eu tenho sempre na minha cabeça que ninguém está a ouvir nada do que eu estou a dizer, que ninguém me está a conhecer de lado nenhum. No outro dia fui aos saldos em compras e estava nos provadores, cheios de gente e nunca mais ninguém saía e comentei com a senhora que estava à minha frente: "Que horror, mas porque é que as pessoas demoram tanto tempo nos provadores?", e ela: "Olá Carolina Deslandes!", eu pensei assim: "esta mulher deve achar que eu sou louca! E que estou a falar com ela do nada, isto não é normal". Eu acho que não acredito muito naquilo das "figuras públicas", claro que já aprendi que tenho de ter cuidado com aquilo que digo, com aquilo que partilho, porque vai haver sempre alguém que vai pegar, ou que vai pegar numa frase que eu disse mas, muito honestamente eu acho que ia ser muito infeliz se chegasse a um ponto da minha vida e sentisse que isso mudou a minha personalidade ou que fez com que eu deixasse de ser genuína ou assim, por isso, vivo de forma completamente normal, falo com as pessoas de forma normal, sou super aberta a pessoas novas, novos artistas. Se me enviarem alguma coisa e eu gostar muito, a fazer duetos, faço. Ainda agora participei numa música de hip hop com um "MC" que ninguém conhece e até me perguntavam: "mas tu és amiga do Dengaz, porque é que não fizeste uma música com ele em vez de fazeres com esse?" – Disse: "porque por acaso ainda não surgiu eu ouvir uma música dele que nós pensássemos, Uau, vai ficar brutal!" e, se eu adorei a música porque é não posso fazer? Principalmente acho que é importante ter-se consciência de que, e é uma coisa que eu faço muito, que é: "isto pode acabar tudo assim, de um momento para o outro", tal como começou pode acabar. É teres noção que isto é tudo muito efémero. O Agir costuma dizer muito: "isto pode ir tudo do dia para a noite, eu quando for velhinho e for comprar sopa ao super mercado não vou estar a dizer, com 60 anos, sou eu, o do Parte-me o pescoço!". Por isso temos muito esta ideia de temos de viver o momento da melhor forma.

Entrevista: Maria João Fernandes e Rita Afonso Rodrigues